Ângelo se adaptou à vida em Stanford muito mais facilmente do que eu. Logo depois de chegarmos, ele já havia encontrado parceiros para jogar tênis e descobriu os melhores locais para jogos de basquete. Ele achava a vida na Califórnia maravilhosa, enquanto eu não estava tão certa disso. Sentia-me intimidada. Eu considerava que todos que eu encontrava eram mais inteligentes do que eu e sabia com certeza que tinham maior conhecimento de leituras. Os alunos do primeiro ano da pós argumentavam sobre estruturalismo enquanto eu não tinha muita certeza do que era aquilo. Quando precisei fazer uma apresentação em minha aula de teoria política, fiquei tão nervosa que congelei. Fiquei literalmente perdida, sem palavras. Em outra aula, nós tivemos de escrever artigos e então fazer cópias deles para o restante da classe discutir. Quando chegou minha vez, minha cópia do artigo estava rasgada em pedaços. Fiquei devastada e tinha certeza de que seria reprovada.
Desesperada, me esforcei mais do que nunca. Eu ficava o dia todo na biblioteca e trabalhava durante a noite. Tentei construir bons relacionamentos com meus colegas e professores. Todas as quartas, Ângelo e eu tínhamos um “ajunta panelas” em nossa casa para alunos e professores. Começamos a nos envolver politicamente e nos filiamos ao New American Movement (NAM), um grupo socialista-feminista. Nós nos reuníamos uma vez por semana e discutíamos formas pelas quais podíamos mudar o mundo.
Até mesmo quando comecei a me sentir mais à vontade em Stanford, ainda estava certa de que eu era material descartável. Conversei com meus pais sobre meus medos e meu desejo de ter integridade em meu trabalho. Concluí que escrever artigos que eram uma colcha de retalhos das ideias de outros não funcionaria na pós-graduação. Afinal, as ideias dos meus professores eram as que eu teria de usar — eles escreviam os livros dos quais eu tomava emprestadas as ideias! Enquanto o final do semestre se aproximava, entrei em pânico. Como último recurso, eu orei — por notas máximas.
Quando recebi minhas notas, fiquei chocada — havia funcionado! Recebi só notas máximas. Eu e outro aluno havíamos nos saído melhor do que qualquer um em nossa sala de primeiro ano. Dei um suspiro de alívio e tentei me esquecer de que Deus havia respondido às minhas orações.
Eu ainda não queria me tornar cristã. Parecia haver muitas razões para isso. Em primeiro lugar, havia Ângelo. Nós ainda não estávamos casados e eu não conseguia imaginar desistir do nosso relacionamento. Eu também não queria me tornar cristã e então estar casada com alguém que ficasse em casa lendo o jornal de domingo enquanto eu ia para a igreja. Em segundo lugar, o que meus amigos de Stanford diriam? Como eu poderia continuar tendo o respeito deles se abraçasse uma ética cristã ultrapassada? Portanto, resolvi ignorar o assunto de Deus em minha vida. Eu sempre havia subestimado a mim mesma e minhas habilidades, e decidi que conseguir boas notas não era resposta de oração, mas simplesmente uma indicação da minha inteligência e trabalho árduo.
Eu me esforcei muito para ignorar Deus e me preparar para o Natal. Os únicos problemas que eu tinha eram uma dor de cabeça de tensão e a tendência de chorar todas as vezes que ouvia o nome de Jesus ser mencionado. Quando eu ouvia o Aleluia de Handel nos shoppings, eu chorava. Eu assisti à ópera Amahl e os Visitantes da Noite na televisão e chorei. Ângelo só olhou para mim e meneou a cabeça.
Quando as aulas reiniciaram, a pressão voltou também. Na verdade, as matérias estavam ainda mais difíceis. Eu ouvi minha mãe me contar sobre como ela se sentira como uma órfã e eu sabia que eu era exatamente a mesma coisa. Eu abri a Bíblia e comecei a ler os Evangelhos. Enquanto lia sobre Jesus, fui dominada por seu amor pelo povo. Eu me sentava na cozinha lendo a Bíblia com lágrimas escorrendo pelo rosto. Quando olhei para mim mesma pelos olhos de Jesus, me tornei menos preocupada com o que eu teria de abandonar para me tornar cristã e mais interessada com a probabilidade de Deus algum dia me aceitar. Finalmente, me vi como uma pessoa completamente egocêntrica. Entendi que todas as minhas boas ações eram egoístas. Enquanto todos em Stanford me elogiavam pelos jantares semanais, eu os organizava simplesmente porque precisava fazer amigos e me sentir aceita. Eu vi claramente os motivos por trás das minhas atitudes e todos tinham como alvo o meu próprio progresso.
Mesmo assim, eu não podia me esconder da presença de Deus. Por onde eu ia, sentia que ele estava ao meu redor. Caminhei pelo campus do country club de Stanford impressionada porque nunca havia estado consciente de Deus. Um dia, enquanto caminhava para a aula, comecei a pensar sobre uma pessoa a quem eu havia prejudicado. Comecei a rever a situação toda com vergonha e constrangimento. De repente, me ocorreu que era exatamente por esse tipo de coisa que Jesus havia morrido. Eu não precisava mais me sentir culpada por como eu era. Em vez disso, eu podia dizer a Deus que eu estava arrependida e ser perdoada por causa do que Cristo havia feito quando morreu por meus pecados na cruz. Pela primeira vez, o peso da culpa foi levantado das minhas costas. Eu entendi que, querendo ou não, eu cria em Jesus e precisava segui-lo. Eu sabia que ele é o caminho, a verdade e a vida e não podia mais fingir outra coisa. Surpreendentemente, eu nem queria.
Eu fui para casa e decidi que o próximo passo era contar às pessoas que eu era cristã. Primeiro, eu escrevi uma carta para Ângelo (nós havíamos nos casado algumas semanas antes), e então liguei para os meus pais. Quando eles não atenderam, liguei para minha cunhada Jill, e ela contou a eles. Meus pais ligaram e logo meu pai me pediu para orar com ele ao telefone. Imaginei se ele estava me testando (hábitos antigos demoram a morrer!), mas eu estava feliz em orar com ele. Todos nós estávamos extasiados. Ângelo chegou em casa e leu a carta. Ele foi solidário, mas tinha duas exigências. “Eu nunca”, disse ele, “irei para a igreja, e nunca orarei em voz alta. Eles são ridículos!”. Eu disse que concordava, mas pedi a ele que lesse a Bíblia comigo. Uma vez que a leitura da Bíblia não estava na sua lista de atividades ridículas, começamos lendo a Bíblia juntos todas as manhãs. Frequentemente eu começava meu trabalho escolar e o deixava ainda lendo no jardim.
No domingo de Páscoa, o irmão de Ângelo, Larry, insistiu em que fôssemos todos juntos à igreja. Larry estava nos visitando nessa época e não era mais religioso do que Ângelo, mas sua ideia de Páscoa era ir à igreja com sua família. Assim, nós todos fomos para a igreja Presbiteriana que eu estava frequentando. Enquanto Larry contava as vidraças nas janelas de vidros jateados, Ângelo foi convencido do amor de Deus por ele. Depois que saímos do culto, Ângelo me contou que ele cria em Jesus. Várias semanas depois, após uma luta intensa com seu orgulho, ele orou em voz audível e aceitou Cristo como seu Salvador.

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Filhos desviados, de C. John Miller e Barbara Miller Juliani, Editora Fiel (em breve).
CLIQUE AQUI para ler mais artigos que são trecho deste livro.