O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Tempo de Confiança, de Stephen Nichols, Editora Fiel.
Eu tinha um treinador de natação que não falava muito. Ele observava. Ele observava com cuidado e constância. Nas poucas vezes em que ele falava, suas palavras acertavam em cheio. Os sábios entre nós escutavam suas raras e preciosas palavras. Em um treinamento, eu estava tendo muita dificuldade para fazer a virada. Eu me deslocava até a bandeira, nadava até a parede e tentava fazer a virada. Muitas, muitas tentativas depois, eu ainda não estava conseguindo. Então, parei para descansar. Encostado na parede, eu estava recuperando o fôlego e tentando descobrir o que estava errado. Meu treinador tinha uma prancha nas mãos, uma ferramenta constante. Enquanto eu estava encostado na parede, senti que ele encostou (gentilmente) a prancha na minha cabeça. Ele conseguiu a minha atenção. Então, olhei para meu treinador com meus óculos de natação e ele me disse cinco palavras: “Você precisa ser mais confiante”.
Três palavras passaram pela minha mente: “Você está certo”. Tenho um amigo que se lembra de ter ouvido as mesmas palavras de seu pai. Certa vez, meu amigo chamou uma moça para sair. Ela não quis. Ele contou ao pai. Seu pai estava pronto para dizer alguma coisa quando o filho o interrompeu e disse: “Eu sei, eu sei. Você vai dizer que preciso ser mais confiante”.
O pai respondeu: “Bem, creio que isso também é verdade. Mas o que eu ia dizer é que você precisa de um carro”.
Não estamos falando apenas de falta de confiança, mas também de confiança inapropriada. Em outras palavras, tendemos a colocar nossa confiança nas coisas erradas e nos lugares errados.
Uma falsa confiança, uma confiança nas coisas erradas, é verdadeiramente mortal.
Talvez Jerônimo tivesse colocado sua confiança nas coisas erradas. Qualquer cristão que vivesse depois do ano de 312 d.C. tinha razões para ver Roma de maneira positiva. A maior parte dos horrores da perseguição chegou ao fim com a legalização do cristianismo, em 312 d.C., pelo imperador Constantino.
Os séculos de marginalização econômica, social e política foram substituídos por uma nova era de privilégio e status para os cristãos. Constantino pôs um fim a 275 anos de perseguição. Jerônimo testemunhou, em primeira mão, os benefícios que se foram acumulando desde que Constantino passou a favorecer os cristãos com a proteção de Roma e com o poder de Roma em vez de persegui-los. Na década de 410 d.C., essa era de glória romana e de triunfo cristão estava chegando ao fim.
Jerônimo não sabia o que iria acontecer. O que seria do mundo sem Roma? O que seria do cristianismo sem Roma? Ele traçou em sua mente todos os possíveis cenários. Todos pareciam sombrios. Jerônimo, equivocadamente, colocou sua confiança em Roma e no Império.
GLORIE-SE NISTO…
Algo parecido aconteceu na vida de Israel. O profeta Jeremias tinha um lugar na primeira fileira, profetizando o exílio do povo de Deus e depois testemunhando o exílio e as duras realidades que o acompanhavam. Em seu longo livro profético, ele registra as consequências de confiar nas coisas erradas. Como porta-voz de Deus, ele declara:
Assim diz o SENHOR. Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas. (Jeremias 9.23)
Isso cobre praticamente todas as coisas nas quais, naturalmente, tendemos a depositar nossa confiança. Mas Jeremias aponta em outra direção:
[…] mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor. (Jeremias 9.24)Israel pensava que sua esperança e seu futuro dependiam da aquisição de sabedoria, riquezas e força. Sabedoria, riquezas e força não são necessariamente coisas ruins. Na verdade, a Escritura, em muitos lugares, nos exorta a adquirir sabedoria. Abraão tinha muitíssimas riquezas. Ele foi repreendido por muitas coisas ao longo de sua vida, mas nunca por sua riqueza. Nações ricas podem usar isso para o bem. As pessoas também. Nações como Israel precisam ter força, precisam ter poder. A força é algo ruim? Pode ser usada para coisas ruins, para coisas malignas. Mas a força deve ser categoricamente desprezada e negada?
O que Deus queria que os israelitas entendessem na véspera do exílio? A resposta é simples: os israelitas negligenciaram aquilo de que mais precisavam. Seu futuro, sua esperança e seu sucesso dependiam de Deus somente. Nada mais. Deus deveria estar no centro de tudo. A confiança deles deveria estar em Deus — não na própria sabedoria, não em suas próprias riquezas, não na própria força.
Vivemos em uma época muito importante. Através dos avanços tecnológicos de nosso tempo, a informação pode ser divulgada instantaneamente. A mudança, mesmo quando dramática e substancial, pode acontecer com muita rapidez. Em consequência, os riscos são muito altos. A mudança acontece rapidamente — e, quando vemos, já aconteceu. Parece haver uma mudança sistêmica em curso. Facilmente pensamos nas mudanças que estão acontecendo agora como sinais de que coisas muito piores estão prestes a acontecer. Como tremores antes de um terremoto, todos nós simplesmente presumimos que o pior está por vir.
Assistimos a essas mudanças culturais e capitulações e, instintivamente, sabemos que são presságios de coisas ainda piores. O mundo está chegando ao fim (novamente).
Mas este não é um tempo para recuar, render-se ou desistir. É um tempo para ter confiança, e nossa confiança precisa estar no lugar certo. Ou melhor, nossa confiança precisa estar na pessoa certa. Nossa confiança precisa estar em Deus. Todo o resto decepcionará.