O salmo 23 está cheio de palavras de ação. Descreve uma jornada, não uma imobilização. Mesmo quando a ovelha se deita em pastos verdejantes, é um descanso temporário para as cansadas. Daquele ponto em diante no salmo, as ovelhas estão se movendo. O Pastor as conduz para águas tranquilas e pelo vale da sombra da morte. Todos os dias de suas vidas ele as conduz nos caminhos da justiça, com bondade e misericórdia constantemente acompanhando-as.
Eu não posso ler o Salmo 23 sem pensar em Lucas 15. Esse capítulo é sobre como Deus, em Cristo, busca e salva os perdidos. A parte mais memorável do capítulo é, claro, a história do filho pródigo. Mas isso vem no final de um discurso extenso que começa com uma parábola muito mais curta, usando o imaginário pastoral bem conhecido do Salmo 23. Aqui um pastor deixa seu grande rebanho em campo aberto para buscar e resgatar uma ovelha solitária perdida. “Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo”. (Lc 15.5) – e a leva para casa.
Cristo, é claro, disse que ele mesmo é o Bom Pastor (Jo 10.11). Foi uma de suas reivindicações públicas mais chocantes, porque era muito claramente uma declaração de sua divindade. O único verdadeiro “Pastor de Israel” é e sempre foi o Senhor. Ao longo do Antigo Testamento, Yahweh é repetidamente identificado como o Pastor de Seu próprio povo.
No entanto, Jesus não apenas chamou a si mesmo de “o bom pastor”, mas também se referiu a todos os crentes como “meu rebanho” (Jo 10.11). Para Cristo, reivindicar esse papel era o mesmo que dizer que ele é o Senhor. O Novo Testamento também o chama de “o grande pastor das ovelhas” e “o supremo pastor” (Hb 13.20; 1Pe 5.4).
A obra de Deus na salvação é abrangente.
Como o Salmo 23 enfatiza do começo ao fim, a liderança amável do Grande Pastor é sempre focada, proposital e cheia de bondade e misericórdia. Ele tem a intenção de livrar suas ovelhas do mal, através do vale da sombra da morte, e para a segurança e bênção. Tudo isso está contido na declaração: “Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome”.
As ovelhas representam criaturas caídas que, por conta própria, nunca seriam capazes de encontrar ou percorrer com sucesso os caminhos da justiça. “porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida” (Mt 7.14). Mas por onde mais o grande pastor poderia nos conduzir? “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos”. (Sl 145.17).
Esses fatos destacam ainda mais uma verdade que muitas vezes enfatizamos, a saber, a soberania de Deus na salvação dos pecadores. O divino pastor procura e salva os perdidos. Ele não é apenas o restaurador de suas almas; ele é também aquele que os guarda, cuida deles, os mantém na fé, os traz de volta quando vagam longe e os conduz em caminhos de justiça. A obra de Deus na salvação é abrangente. A ovelha resgatada não tem mérito algum de que se orgulhar.
Muitas passagens da Escritura enfatizam esse fato. Romanos 8. 29–30 traça a salvação dos eleitos de sua predestinação na eternidade passada para sua glorificação na eternidade futura, e Deus é Aquele que realiza tudo isso. Efésios 2.8–9 nos lembra que nossa redenção do pecado não é obra nossa: “É o dom de Deus. . . para que ninguém se glorie”.
“O que acontece com o nosso orgulho? Está excluído” (Rm 3.27). Todos os aspectos de nossa salvação são realizados pela graça divina – tanto que até as boas coisas que fazemos como pessoas redimidas são obras que “Deus preparou de antemão, para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Assim, o Grande Pastor soberanamente nos conduz nos caminhos da justiça.
No entanto, enquanto a Escritura coloca muita ênfase na soberania absoluta de Deus na obra da salvação, nunca exclui ou subestima a responsabilidade humana. O pastor conduz, mas as ovelhas não são passivas. Eles o seguem, como é seu dever. Elas podem tropeçar ou serpentear às vezes, mas elas conhecem o verdadeiro Pastor e são conhecidas por ele, então elas nunca se afastarão dele completamente. Nas palavras de Jesus: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). Sua própria caminhada justa é uma das principais evidências de que elas pertencem ao Bom Pastor. Elas não são salvas por sua caminhada justa, mas a sua caminhada justa prova que Deus as salvou.
E aqui está a prova definitiva de que sua fé no Grande Pastor é autêntica: elas perseveram. Aquelas que se apartam dos caminhos da justiça para nunca mais retornar nunca pertenceram ao Pastor.
No entanto, porque Deus é soberano, suas ovelhas estão seguras. Elas perseveram nos caminhos da justiça. Além disso, o próprio pastor disse: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar” (Jo 10.28–29).
Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Filipe Castelo Branco.
Fonte: He Leads Me in Paths of Righteousness for His Name’s Sake.