João Batista e o Cordeiro de Deus foram apresentados. Agora o cerne do Evangelho de João pode começar, e ele começa assim: “Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia” (Jo 2.1).
Somos trazidos para um casamento em andamento, no terceiro dia — mas no terceiro dia do quê? Talvez João queira dizer, no terceiro dia de uma celebração de casamento. Os casamentos duravam rotineiramente uma semana, e Jesus foi generoso com um anfitrião de casamento despreparado e transformou água em vinho. A compaixão de nosso Sumo Sacerdote estava em exposição. Mas João estava sempre buscando realidades espirituais mais profundas, por isso procuramos mais significado. No terceiro dia, após a ressurreição do Cordeiro de Deus, houve um casamento, e a celebração começou. João está contando a história em retrospectiva. Sua estratégia é começar com a morte e a ressurreição do Cordeiro de Deus e trazer tudo para esse evento.
O método que João emprega para registrar melhor esse casamento está ancorado na Páscoa:
Dia 1: Jesus é crucificado na sexta-feira, o dia da preparação para a Páscoa.
Dia 2: Jesus “descansa” no túmulo no sábado, o Shabbat.
Dia 3: Jesus é ressuscitado no domingo, o primeiro dia da semana.
A água de purificação era necessária tanto na Páscoa quanto nos casamentos. No casamento do qual Jesus participou, havia seis jarros de 113 litros usados para purificação, e ele os escolheu como idealmente adequados para seu propósito: transformar essa água de purificação em vinho. O vinho, na época em que João escreveu, estava associado ao novo pacto no sangue de Jesus (1Co 11.25). Em outras palavras, a água de purificação, que tinha de ser usada diariamente, foi substituída pelo sangue de Jesus, que lava de uma vez por todas. Embora essa mensagem não estivesse disponível para aqueles que estavam na celebração do casamento, ela era evidente para os leitores em 9 a.D. e é evidente para nós.
Aqui está a mensagem: a destruição de nosso templo ainda ecoa. A dor persiste. Alguns se perguntam: o que Deus está fazendo? A resposta é que temos os benefícios de um templo em pleno funcionamento, além de muito mais. Nosso resgate e nossa purificação são agora encontrados no sangue de Jesus, nosso Cordeiro Pascal. Sempre soubemos de que precisávamos do melhor cordeiro dado por Deus. Agora, tendo crido no Filho — plenamente humano e plenamente Deus — não mais somos separados dele por muros e cortinas. Em vez disso, nós estamos com ele e ele está conosco. Somos sacerdotes juntos, e temos acesso ilimitado ao Santíssimo Lugar. A proximidade tornou-se tão intensa que poderia ser descrita como a união de uma noiva com seu noivo. Assim, em Cristo, podemos ter alegria hoje.
No entanto, há mais. A literatura hebraica é geralmente mais estruturada do que aparenta ser inicialmente. Um floreio estilístico é poder dobrar um livro ao meio e ter as metades mais ou menos iguais entre si. Se um tema é importante no início, ele será repetido no final. Se a expressão “no terceiro dia” for importante, ela deve ter seu análogo no final do livro, e de fato isso ocorre.
“No primeiro dia da semana […]” — é assim que João termina seu relato (Jo 20.1). Isso é o mesmo que “o terceiro dia”, mas o método de contagem de João mudou da Páscoa, pegando sua deixa a partir dos sete dias da Criação, que também moldaram seu Evangelho.
Dia 6: Adão e Eva foram criados; Jesus é revelado como “o homem” (Jo 19.5), o segundo Adão, em sua crucificação.
Dia 7: Deus descansa; Jesus “descansa” no Shabbat.
Dia 1: A recriação começa. A luz nasce. Jesus inaugura a nova criação com sua ressurreição, e a caminhada mais íntima nos aguarda.
Este, escreve João, é um novo dia. A Páscoa finalmente alcançou o seu verdadeiro significado no sacrifício do Cordeiro de Deus. O templo, e sua promessa da presença de Deus, deu lugar à imagem do casamento. Somos sacerdotes reais e somos sacerdotes noivas. A proximidade sacerdotal com Deus não pode capturar a intimidade que tem sido o objetivo de Deus para conosco, então a Escritura está fundindo outra identidade. Ela não é nova. O primeiro casamento no Jardim espelhava os caminhos de Deus com seu povo. “Como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu Deus” (Is 62.5).
Tendo em mente essa identidade acrescentada, é claro que a santidade não é nosso objetivo. Ela é um meio para atingir um fim. Deus nos torna santos e crescemos em santidade; ambos servem ao propósito da nossa comunhão com ele. Esse objetivo de comunhão é claro a partir da presença de Deus no Jardim (Gn 3.8); da oração de Jesus, “Eu neles, e tu em mim” (Jo 17.23); e de nossa consumação conjugal quando Jesus voltar (Ap 21.1-2). Companheirismo, ligado à adoração, ao louvor e ao puro prazer, é o que buscamos.
Tudo isso depende da proximidade dele e do convite que ele faz para nos aproximarmos. Quando somos verdadeiramente humanos, isso é o que queremos. As leis de Deus, no seu melhor, são instruções sobre como estar em um relacionamento com ele. Como em qualquer relacionamento, quanto mais seguimos as regras do relacionamento — fidelidade sexual, veracidade, servir em amor —, mais conhecemos a intimidade e o prazer.
Por: Edward Welch. ©️ Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os Direitos reservados. Fonte: Sacerdócio Real, Editora Fiel. Editor e revisor: Renata Gandolfo.