sexta-feira, 22 de novembro
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Mateus 21.28-32

A parábola dos dois filhos

Comentário de João Calvino em Mateus 21.28-32

O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Box Harmonia dos Evangelhos, de João Calvino, Editora Fiel.

E que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele respondeu: Sim, senhor; porém não foi. Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: Não quero; depois, arrependido, foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus. Porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que publicanos e meretrizes creram. Vós, porém, mesmo vendo isto, não vos arrependestes, afinal, para acreditardes nele. (Mateus 21.28-32)

Essa conclusão mostra qual é o objetivo da parábola (Mateus 21.28-32), quando Cristo prefere os que, em geral, eram considerados infames e tidos em aversão aos escribas e sacerdotes, desmascarando aqueles hipócritas, para que não mais se ufanassem de ser ministros de Deus ou ostentassem pretenso zelo pela piedade. Ainda que sua ambição, orgulho, crueldade e avareza fossem notórios a todos, desejam ser considerados pessoas bem diferentes. E quando, um pouco antes, atacaram Cristo, alegaram falsamente que eram solícitos pela ordem da Igreja, como se fossem seus fiéis e honestos guardiões. Visto que tentassem praticar tão grosseira imposição sobre Deus e os homens, Cristo repreende sua impudência, mostrando que estavam o mais longe possível do que se gabavam, e estavam bem longe de merecer aquela elevação com que se ufanavam de se elevar acima dos “publicanos e meretrizes”. Pois, no tocante à sua profissão, que os fazia eminentes na observação do culto divino, e zelosos da lei, Cristo lhes assegura que eram justamente como um filho que, verbalmente, promete obediência a seu pai, mas que, depois, o ludibria. No que diz respeito a “publicanos e meretrizes”, não significa que ele justifique seus vícios, mas compara sua vida dissoluta com a obstinação de um filho rebelde e libertino, que, a princípio, se desvencilha da autoridade de seu pai, porém mostra que são muitíssimo preferíveis aos escribas e fariseus no seguinte aspecto: não continuam até o fim em seus vícios, mas, ao contrário, submetem-se mansa e obedientemente ao jugo que aqueles furiosamente rejeitaram. Agora percebemos o desígnio de Cristo. Não só reprova os sacerdotes e escribas por se oporem obstinadamente a Deus, e não se arrependerem, ainda que tão frequentemente fossem admoestados, como também os despe da honra da qual eram indignos, porque sua impiedade era pior que a lascívia das meretrizes.

Não quero; depois arrependido, foi

Essa frase (v. 30) é emprestada do idioma hebraico, porque, quando os hebreus desejam oferecer seus serviços, e declarar que estão prontos a obedecer, falam desta maneira: “Eis-me aqui, senhor”. Essa, por si só, é uma virtude louvável, ou seja, tão logo Deus fale, render-lhe pronta e efusiva obediência; e Cristo, aqui, não reco- menda morosidade. Mas, como ambas essas coisas são impróprias – delongar antes de cumprir seu dever e prometer o que não se vai realizar –, Cristo mostra que é menos difícil suportar a ferocidade, que, no processo do tempo, é subjugada, do que essa hipocrisia.

Nem mesmo pelo testemunho de João Batista

Como João era um servo fiel de Deus, tudo o que ele ensinou, Cristo atribui a Deus mesmo. É possível ser mais completo da seguinte forma: Deus veio para apontar o “caminho da justiça” pela boca de João, mas, como João falou no nome de Deus, e não como um indivíduo privado, é, com propriedade, mencionado no lugar de Deus. Ora, essa passagem não confere pequena autoridade à pregação da palavra, quando lemos que foram desobedientes e rebeldes contra Deus aqueles que desprezaram as pias e santas advertências de um mestre a quem ele enviara.

Existem aqueles que fazem uma exposição mais engenhosa da palavra justiça, e eu admito que desfruto de sua opinião, mas, de minha parte, creio que ela nada mais significa senão que a doutrina de João era pura e íntegra, como se Cristo dissesse que não tinham uma boa razão para rejeitá-lo. Ao dizer que os publicanos creram, ele não quer dizer que assentiram nas palavras, mas que sinceramente abraçaram o que haviam ouvido. Assim, concluímos que a fé não consiste unicamente em alguém dar seu assentimento à verdadeira doutrina, mas que abraça algo maior e mais elevado; que o ouvinte, renunciando a si próprio, devota sua vida totalmente a Deus. Ao dizer que não se deixaram mover nem mesmo por tal exemplo, ele apresenta uma visão agravada de sua malícia, pois era uma evidência da mais vil depravação, por nem mesmo seguir as meretrizes e os publicanos.

 


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Autor: João Calvino

João Calvino (1509 – 1564) é considerado um dos maiores representantes da Reforma Protestante do século XVI, como ficou conhecido o movimento de reação aos abusos da Igreja Católica Romana à época. Calvino foi o responsável por sistematizar o protestantismo reformado através das Institutas da Religião Cristã, sua principal obra teológica, cujo objetivo era servir de instrução para a formação do cristão.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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