“Contanto que o governo não me diga o que fazer com meu corpo”, minha amiga considerou. Lembro-me claramente do momento. Estava reunida com um grupo de amigas da faculdade depois do almoço, passando o tempo até nossas aulas da tarde.
Sim, pensei, isso é realmente verdade. Também não quero que o governo controle o meu corpo. Quão terrível isso seria? Quando o governo exerce controle sobre os corpos das pessoas, coisas ruins acontecem. Ela está certa, era a dimensão da minha luta interior. Com certeza, eu não gostava da ideia de acabar com a vida de um bebê, mas a ideia de nosso governo ser tirano em relação ao meu corpo e ao corpo de minhas amigas parecia pior. Às vezes, essa escolha difícil teria que ser feita, considerei, para proteger nossa maior liberdade.
Fui conquistada em um piscar de olhos por uma frase de efeito. Não havia voz concorrente em minha cabeça, nenhum argumento alternativo para eu medir contra aquele. Meu corpo, minhas regras era onipresente em minhas esferas, e criou raízes com facilidade. E sim, eu era cristã na época.
Embora esse momento tenha sido a solidificação, ele foi precedido por uma vida que me preparou para abraçá-lo. Minhas amigas e eu fomos criadas para acreditar que iríamos comandar nossos destinos sozinhas. Bastaria sonhar, e chegaríamos lá. E não toleraríamos um namorado, governo ou bebê que nos pudesse tirar do caminho.
Uma escolha necessária
Eu vi o aborto de perto no ensino médio. Em uma hora de almoço, estávamos reunidas no estacionamento da escola, com sacos de papel do Burger King na mão. Um carro cheio de amigas parou para dizer que não voltariam. Elas tinham que, você sabe, cuidar das coisas. Assentimos com a cabeça. Uma passageira estava grávida e não queria estar. As outras garotas iam junto para dar apoio moral. A mãe dela sabia. Seria melhor assim, todas concordavam.
Esse cenário triste, mas tão normal, se desenrolou mais de uma vez entre minhas colegas e amigas naquela época. Não questionamos a moralidade daquilo. Não queríamos saber se era realmente melhor. Acreditávamos que era necessário. A maternidade naquele momento estava tão distante, que ninguém jamais considerou uma possibilidade.
O aborto era pressuposto. Claro, era lamentável, mas isso principalmente porque ouvimos que era doloroso e seriam necessários alguns dias em casa para se recuperar. Sabíamos que nossas amigas ficariam um pouco tristes depois. Mas tínhamos certeza de que era necessário. E assim também as 1.221.585 mulheres e meninas que receberam um aborto legal em 1996, ano em que me formei no ensino médio.[1]
Exploração, não libertação
Vinte e cinco anos depois, em maio de 2021, uma oradora na formatura do ensino médio em Dallas, Paxton Smith, subiu ao palco para discursar para sua turma e todos os seus entes queridos que se reuniram para a celebração. Ela puxou um discurso de dentro de sua beca e usou seu momento no palco para protestar contra uma lei recém-aprovada no Texas, que proibia o aborto após a detecção de um batimento cardíaco fetal.
Smith disse:
Tenho sonhos, esperanças e ambições. Toda garota se formando hoje tem. E passamos toda a nossa vida trabalhando em direção ao nosso futuro […]. Tenho pavor de que, se meus contraceptivos falharem, tenho pavor de que, se eu for estuprada, minhas esperanças, e aspirações, e sonhos, e esforços para o meu futuro não importarão mais […]. Há uma guerra contra meu corpo e uma guerra contra meus direitos. Uma guerra contra os direitos de suas mães, uma guerra contra os direitos de suas irmãs, uma guerra contra os direitos de suas filhas.[2]
Respondida com aplausos, a mensagem de Smith foi clara: sem o direito a um aborto, o futuro das meninas seria sem esperanças. Se não puderem acabar com uma gravidez indesejada, as mulheres não podem atingir o seu potencial. Sem escolha, não serão realizados sonhos e metas.
Seu breve discurso foi um eco retumbante do pensamento popular: aborto é libertação.
Mas o pensamento popular não é necessariamente o pensamento correto. O bem-estar humano requer harmonia com a realidade. E o que é verdade é que o aborto diminui, usa e, em última análise, fere as mulheres. Fomos ensinadas a acreditar que era para o nosso bem, que isso nos daria a autonomia e o sucesso que merecemos, que verdadeiramente nos libertaria. Na verdade, porém, o aborto fez o oposto.
Sob o pretexto de empoderamento, as mulheres tornaram-se vulneráveis. A conclusão dos meus dias de faculdade foi ingênua. Agora eu quero muito mais para as mulheres. O aborto nos dá muito menos do que merecemos; veremos isso na história e nos dados sociológicos que se seguem.
Eu prometo, há esperança real nas páginas finais deste capítulo. Se você é uma mulher que escolheu o aborto, por favor, continue lendo. Eu conheço muitas de vocês profundamente e pessoalmente, e eu tinha suas histórias em meu coração e seus rostos em minha mente enquanto escrevia estas palavras. Leia a verdade sobre o nosso mundo caído, as mentiras em que você e eu cremos, e a esperança que erroneamente colocamos em nós mesmas. Leia a verdade sobre o dano que a “escolha” infligiu a nós, aos nossos filhos e à sociedade como um todo. E então leia com profundo alívio e grande alegria que esse não é o fim da sua história ou da história de ninguém. Leia sobre o nosso Deus que perdoa e faz todas as coisas novas. Seu propósito para nós é glorioso e bom, muito além da fraude do aborto.
Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Feminilidade distorcida, de Jen Oshman, Editora Fiel.
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