O texto abaixo foi extraído do livro Graça Extravagante, de Barbara Duguid, da Editora Fiel.
Eu vinha temendo este momento por vários meses. Sabia que tinha de falar a verdade, mas as palavras simplesmente não saíam de minha boca. Então, em vez de dizer o que deveria, achei outras maneiras de preencher o estranho e doloroso silêncio. “Bem, eu nunca me droguei nem roubei nada de muito valor…”
“Isso é bom!”, ele disse com paciência, esperando que eu revelasse a informação importante que eu havia dito que precisava contar-lhe.
Eu continuava hesitante e não conseguia olhar para ele.
“Nunca fiquei bêbada… bem, talvez uma única vez, mas depois nunca mais!”
Desta vez, ele não me respondeu de imediato, mas deixou minhas palavras suspensas no ar por um momento. Então, me envolveu em seus braços e disse: “Acho que sei o que você está tentando me dizer”.
Finalmente chegamos ao momento da verdade, do qual eu tinha certeza que arruinaria tudo. “Você sabe?”, perguntei, enquanto lágrimas enchiam meus olhos e o medo apertava meu coração. “E… o que você acha de mim agora?”, continuei.
Ele disse: “Acho que se tivesse tido a mesma oportunidade, eu faria a mesma coisa. A única diferença entre mim e você é que Deus não me deixou ter essa oportunidade”. Foram palavras realmente simples, mas, com essas poucas palavras, ele mudou minha vida para sempre.
A verdade é que por muitos anos vivi uma vida dupla. Comecei a namorar um rapaz quando tinha 14 anos; e nos primeiros seis anos desse relacionamento fomos um exemplo de virtude e decência. Eu me orgulhava de muitas coisas. Entretanto, aquilo de que eu mais me orgulhava era a nossa castidade e determinação para não cair no pecado sexual, apesar de muitas oportunidades e um coração cheio de desejos e fantasias. Não era fácil, mas estávamos indo muito bem — até que um dia, achei pilhas e pilhas de revistas pornográficas no quarto dele.
Eu devia tê-lo confrontado com amor e ajudado a buscar bom aconselhamento, mas não foi o que fiz. Em vez disso, olhei para aquelas revistas e escolhi mergulhar naquele mundo de engano e satisfação. Enganei a mim mesma de várias maneiras, convencendo-me de que o problema dele era culpa minha, porque eu estava frustrando-o com minha determinação de permanecer virgem até que nos casássemos. Meu coração perverso e pecador o desejava e se tornou claro que eu faria qualquer coisa para segurá-lo. Eu também tinha certeza de que, se ele não se casasse comigo, ninguém o faria. Acreditava que era melhor casar com um derrotado do que ficar sozinha para sempre. Falava para mim mesma que Deus ficaria satisfeito se dormíssemos juntos, contanto que nos casássemos. Dizia a mim mesma muitas mentiras e me convencia de que vinham de Deus. Mentir se tornou algo fácil e natural no decorrer dos quatro anos seguintes.
Nesse tempo, eu era uma líder de um ministério cristão no campus de minha faculdade e liderava nosso pequeno grupo de estudos bíblicos. Mentia para os meus amigos e para os líderes de ministério. Enganei meus pais e menti para o meu pastor, que demonstravam preocupação com meu relacionamento amoroso. Deixava as pessoas acreditarem que eu era pura e casta, quando na verdade não era nem uma coisa nem outra. Com o passar dos anos, ficou evidente para mim que meu namorado não era um bom candidato para ser meu marido e pai de meus filhos, mas eu tinha que corrigir aquilo. Tendo dormido com ele, achava que podia consertar as coisas diante de Deus e de todos ficando com ele até nos casarmos. Era a única maneira que achava para lidar com a culpa enorme de tanto pecado.
Perceba como eu estava presa à tolice da minha própria mente! Nunca pedi ajuda, nunca procurei um conselho ou aconselhamento espiritual. Era orgulhosa demais para deixar alguém saber que tinha cometido um pecado que julgava ser o pior de todos. Estava determinada a pagar o preço sozinha e corrigir as coisas diante de Deus. À medida que o relacionamento esmorecia e desmoronava, comecei a ficar cada vez mais desesperada. Tinha acabado de me formar e tinha sido solicitada a aceitar um trabalho missionário de curto prazo no laboratório de um hospital na Libéria, na África Ocidental. Pensei que isso me ajudaria a pagar pelo meu pecado e, ao mesmo tempo, seria algo divertido por um tempo.
Talvez nunca houve na história do mundo uma missionária mais confusa e indevidamente motivada do que eu quando tinha 21 anos. Atormentada pela culpa e pelo medo de nunca me casar, segui em frente com todos os desafios exigidos para ser aceita como missionária, editando cuidadosamente minha história para satisfazer meu público. Parti para a Libéria com uma tímida promessa de casamento da parte de meu namorado, que estava terminando a faculdade, e com um anel de compromisso no dedo. Eu era uma mentira ambulante.
Uma coisa interessante aconteceu quando cheguei à África. Encontrei uma jovem que havia frequentado a mesma igreja que eu e meu namorado frequentávamos quando nos conhecemos. Ela tinha ouvido falar muito da gente, mas não era nada bom. Ela sabia que minha família não aprovava meu noivo. Na verdade, ninguém que me conhecia e me amava aprovava o relacionamento. Com amor e grande determinação, ela não parava de conversar comigo sobre o assunto. Relutantemente, compartilhei um vislumbre da verdade com ela, que me disse graciosamente que eu não tinha obrigação espiritual de me casar com ele e que, em vez disso, deveria terminar o relacionamento. “Mas eu o amo!”, solucei. “E daí?”, ela perguntou. “Amar é fácil, e você pode amar qualquer um. Mas você não o respeita e não deve se casar com um homem que não consegue respeitar”. E lá estava ele: o veredito que, pela graça de Deus, atingiu meu coração endurecido e conseguiu o que anos de apelo dos meus pais e de muitos outros não haviam conseguido. Dois dias depois, escrevi a carta que terminaria dez anos de luta e rebelião, mas também destruiria toda minha esperança e meus sonhos de casar e ser mãe. Estava absolutamente certa de que agora ficaria solteira para sempre. Que homem decente desejaria casar comigo depois de tantos anos de dissimulação e pecado?