domingo, 17 de novembro
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O canto da sereia do Eu: Conseguimos! Então, por que estamos tão tristes?

O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro para mulheres Que eu diminua, de Jen Oshman, Editora Fiel.


Estou me aproximando do meu quadragésimo aniversário. Em apenas algumas semanas meus amigos e familiares se reunirão para celebrar e mal posso esperar por isso. Quarenta. Essa é uma idade muito esperada.

Você sabia que, a partir de 1970, Jennifer foi o nome mais popular na América do Norte durante catorze anos seguidos? Uma notícia chamou isso de Jennifer Juggernaut[i] porque nunca houve outro fenômeno de nome como esse[ii].

Há uma geração inteira de nós. Cerca de uma em cada três meninas em todas as minhas salas de aula, desde o jardim de infância até a faculdade, chamava-se Jennifer, Jen ou Jennie (ou será que se escreve Jenny? Minhas folhas de exercício da escola primária revelam que nunca consegui descobrir isso). Estamos em todos os lugares.

Nós, Jennifers, nascemos quando os filmes favoritos dos Estados Unidos eram Grease, Os Embalos de Sábado à Noite, Guerra nas Estrelas e A Pantera Cor-de-Rosa. Bem moderno. As calças boca de sino e os trajes de lazer marcaram a cena da moda. Em minhas fotos de nascimento, meu pai está arrasando com uma gravata borboleta. O cabelo da minha mãe está cortado no estilo do então popular pageboy. Com o senso de moda de meus pais, você sabe que eu tinha que ser uma Jennifer. Apenas mais um sinal dos tempos.

Algumas das minhas primeiras lembranças dos anos de 1980 incluem modas que agora vejo novamente quando vou às compras com minhas filhas: calças de cintura alta e blusas cropped, ombreiras, jaquetas jeans e pochetes. Sou a favor do jeans – no ano passado os chamávamos de “mom jeans”, mas minhas filhas juram que os jeans de cintura alta são diferente incomensuravelmente superiores ao mom jeans. Seja qual for o caso, esta mãe quase quarentona tem o prazer de dizer sayonara para o jeans de cintura baixa. Mas será que temos que ser tão rápidas ao receber de volta as pochetes e as ombreiras?

Se você é capaz de identificar qualquer um desses artigos de moda popular, então pode ser que você faça parte da Geração X, da qual, por pouco, não sou membro – a data de corte é 1981. Os millennials marcam as crianças nascidas logo depois de mim, nos anos 80 e 90. Alguns cientistas sociais chamam a nós quarentões de “Xennials” – porque estamos muito próximos da linha. Portanto, se você é uma millennial, digamos que somos colegas. De qualquer forma, em meu coração sinto-me como se tivesse acabado de sair da faculdade.

Uma geração de problemas pioneiros

Nós, cujas idades atualmente abrangem os vinte, trinta, quarenta e cinquenta anos, temos mais do que o retorno de ombreiras para lamentar. Ainda estamos lidando com as coisas difíceis que nos acompanharam quando atingimos a maioridade. Somos apelidadas de geração do divórcio, porque os casamentos desfeitos atingiram seu auge em 1980.[iii] Essa onda de divórcios coincidiu com a revolução sexual.[iv] À medida que nossos pais se libertaram de seus casamentos, eles também encontraram liberdade nas novas normas de relações casuais e expressões alternativas de sexualidade.

Como a primeira geração que ficava sem supervisão após a escola, nos encontrávamos sozinhas em casa, tentando descobrir o que era o quê e quem era quem. Crescemos em tempos incertos, com certeza.

Uma geração de promessa pioneira

Mas os tempos também foram empolgantes. Nos Estados Unidos, demos as boas-vindas ao Título IX, uma lei de direitos civis que diz que ninguém pode ser excluído de qualquer programa de educação com base no gênero. Minhas amigas e eu sentimos os efeitos do Título IX principalmente no mundo esportivo. Os esportes femininos começaram a receber mais atenção e financiamento, e todas nos encontrávamos no campo de futebol durante as tardes, acompanhando os meninos. O refrão comum de nossas treinadoras e professoras era: “Qualquer coisa que os meninos possam fazer, vocês podem fazer melhor”. Minha escola secundária tinha até mesmo algumas chutadoras esperançosas de irem para a equipe de futebol dos meninos.

Claro, estávamos avançando com dificuldade em nossa turbulenta vida doméstica. Mas nossos dias de escola e nossos círculos sociais estavam cheios de possibilidades. “Seja o que você quiser ser”, as pessoas nos diziam. Nosso único limite era a nossa imaginação.

Eu era a editora chefe do jornal da minha escola secundária durante aqueles dias que guardavam tanto potencial. Recentemente encontrei um jornal antigo com um editorial escrito por esta que vos fala. Ele foi escrito não com pouca dose de atrevimento. A essência era a seguinte: as meninas estão preenchendo as salas de aula de honra e colocação avançada (AP ou advanced placement, no original), mas onde estão os meninos? Foi uma celebração do Título IX. Nós meninas estávamos realmente avançando, até mais do que os meninos. Pelo menos no meu contexto, estávamos devorando todos os prêmios e todas as bolsas de estudo e nos encaminhando para futuros promissores nas melhores faculdades.

O mundo estava torcendo por nós. Nós podíamos sentir isso. O “poder feminino” estava nos impulsionando para além de onde nossas mães e avós jamais haviam estado. Estávamos decididas a tomar de assalto a barreira invisível que separava as mulheres dos homens – nossas visões estavam voltadas para nos tornamos CEOs, empresárias, engenheiras, professoras, advogadas, médicas ou, no meu caso, locutora de televisão. Nossas predecessoras estavam entusiasmadas por nós, mas não sabíamos de nada.

Com muita confiança, nós nos lançamos no mundo das mulheres.

Você consegue!

O otimismo de nossas mães e o espírito do “você consegue” que inundou a nós, garotas, nos atiraram à idade adulta. Algumas de nós obtiveram diplomas. Começaram carreiras. Encontraram maridos. Tiveram filhos. Desempenharam papéis importantes em nossas comunidades, na política e nas igrejas.

“Você pode ter tudo”, disseram-nos elas na época e continuam nos dizendo agora. E nós certamente estamos tentando. A maioria das mulheres que conheço trabalham (em tempo parcial, integral ou de casa) ou possuem seus próprios negócios, são voluntárias, criam filhos, participam de esportes e clubes locais, servem em suas igrejas, fazem exercício físico, se esforçam para colocar comida saudável na mesa, mantêm vidas sociais ativas, pensam globalmente, compram localmente – e a lista continua. Estamos fazendo malabarismos com lavanderia, promoções, caronas solidárias e escola dominical. Poder feminino.

O ar cultural que respiramos nos enche de otimismo. E assim respiramos fundo e continuamos correndo rumo ao objetivo. Crie seu próprio destino. Seja você. Alcance as estrelas. Você pode criar a si mesma. Você está no comando da sua própria felicidade. Você recebe o que você dá. Nunca deixe que eles te vejam suar. Siga seus sonhos. Faça acontecer. Você é suficiente.

Estamos todas tentando alcançar essa estrela dourada inatingível: tornar-se a mulher que a sociedade diz que podemos ser. Continuamos a nos puxar para cima por iniciativa própria, engolindo nosso café e olhando no espelho para nos lembrar: “Você consegue, irmã. Vá em busca dos seus sonhos”.

Mas então…

Então.

Quase sem exceção e como se fosse um aviso, chegamos ao fim de nós mesmas. A xícara de café está vazia. O pensamento motivacional silencia. Nós colapsamos no sofá. Estamos cansadas. Isso não está funcionando. Alguém mande ajuda.

Conseguimos!

Então, por que estamos tão tristes?

O movimento feminista realmente nos proporcionou melhor remuneração, igualdade de direitos e mais respeito em muitas esferas da sociedade. As mulheres de hoje estão em dívida com aquelas que existiram antes de nós. Sou grata por muitos dos frutos gerados pela libertação das mulheres. Sem aquelas que vieram antes de mim, eu provavelmente não seria uma estudante de cultura e teologia nem estaria escrevendo este livro.

Mas mesmo quando celebro as mulheres fortes do passado e do presente, também me pergunto o que realmente está acontecendo. Nós, mulheres Xennials, que saíram imediatamente para a vida adulta com muita promessa e antecipação, não estamos nos regozijando da maneira que eu acho que nossas antepassadas imaginavam que nos regozijaríamos.

As coisas não estão saindo de acordo com o planejado.

Sermos mulheres autodidatas está nos desgastando.

Os pesquisadores descobriram que “embora as circunstâncias da vida das mulheres tenham melhorado muito nas últimas décadas através da maioria das medidas objetivas, a felicidade delas diminuiu – tanto em termos absolutos quanto em relação aos homens”.[v]

Nos Estados Unidos, a saúde mental e emocional feminina está em crise. Um estudo do Centro de Controle de Doenças revela que nas últimas duas décadas aproximadamente, as taxas de suicídio entre as mulheres aumentaram 50%, e entre as meninas de dez a quatorze anos triplicaram.[vi] Devemos nos perguntar: se as coisas deveriam estar cada vez mais esperançosas, por que estamos cada vez mais desesperançadas?

Os cientistas sociais estão divididos sobre o porquê de as mulheres e as meninas estarem em dificuldades. Alguns apontam para o fato de que os homens ainda ocupam os cargos mais bem pagos, os mais altos níveis de cargos eleitos e conquistam o maior respeito. Alguns culpam a má conduta sexual, como mostra graficamente o movimento #metoo. Muitos referem-se ao fato de que, embora as oportunidades tenham sido amplamente abertas fora de casa para as mulheres, nós ainda cuidamos de tudo dentro de casa; isso é chamado de segundo turno e é primariamente ocupado por mulheres.

Alguns dizem que estamos muito ocupadas e que nada tem recebido a atenção que merece. Muitos acreditam que a mídia social tem um papel importante nisso.

Temos um mapa na mesa de nossa sala de jantar sobre o qual nossa família adora se debruçar após as refeições. Três das minhas quatro filhas nasceram na Ásia. Após a infância delas lá, nos mudamos para a Europa. Acabamos voltando aos Estados Unidos a tempo da adolescência e da juventude delas. Quando olhamos para o mapa, lembramo-nos de nossos lugares preferidos no Japão e na Tailândia. Concentramo-nos na República Tcheca e nos lembramos de nossas viagens pelas estradas da Europa.

Traçamos nossos dedos em três continentes e nos lembramos de como chegamos aqui, no Colorado. Cada país desempenha um papel importante em quem minhas filhas são hoje. Esses lugares são o motivo pelo qual o arroz frito e o Lámen são os comfort foods delas. Eles são o motivo pelo qual elas adoram sushi e a razão do curry japonês e o goulash tcheco serem iguarias em nossa casa. Os pontos da viagem revelam por que elas falam uma segunda língua e por que ainda estão desnorteadas com o futebol americano, com as mercearias e com o material escolar. Olhar esse mapa e nossa história compartilhada nos lembra do motivo pelo qual somos quem somos hoje e como chegamos aqui.

E assim é com este momento na história global da mulher. Se quisermos entender quem somos hoje, devemos rastrear nossos dedos ao longo do mapa para descobrir como chegamos a este momento paradoxal de grande oportunidade e de grande desânimo.

 

[i] N.T.: De acordo com o Dicionário Oxford, Juggernaut é uma força ou instituição imensas, poderosas e avassaladoras. É frequentemente traduzido por ‘rolo compressor’. No contexto apresentado aqui, poderia significar ‘O Colosso Jennifer’ ou ‘Fenômeno Jennifer´.

[ii] Jen Gerson, “The Jennifer Epidemic: How the Spiking Popularity of Different Baby Names Cycle Like Genetic Drift,” The National Post, 23 de Janeiro de 2015, https:// nationalpost.com/news/the-jennifer-epidemic-how-the-spiking-popularity-of-diffe- rent-baby-names-cycle-like-genetic-drift.

[iii] Susan Gregory Thomas, “The Divorce Generation,” Wall Street Journal, 9 de julho de 2011, https://www.wsj.com/articles/SB100014240527023035446045764 30341393583056.

[iv] Wikipedia, s.v. “Sexual revolution”, modificado pela última vez em 27 de abril de 2019, https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Sexual_revolution&oldid=874901769/.

[v] Sherrie Bourg Carter, “Meet the Least Happy People in America,” Psychology To- day, 17 de setembro de 2011, https://www.psychologytoday.com/us/blog/high-octa- ne-women/201109/meet-the-least-happy-people-in-america

 

[vi] Hilary Brueck, “The US Suicide Rate Has Increased 30% Since 2000—and It Tripled for Young Girls. Here’s What We Can Do About It,” Business Insider, 14 de junho de 2018, https://www.businessinsider.com/us-suicide-rate-increased-sin- ce-2000-2018-6.

 


Autor: Jen Oshman

Jen Oshman participa do ministério de mulheres como missionária e esposa de pastor há mais de duas décadas e em três continentes diferentes. Ela é mãe de quatro meninas, autora e apresentadora de All Things, um podcast sobre tendências e eventos culturais. Jen e sua família moram no Colorado, onde seu marido plantou a Redemption Parker, uma igreja do ministério Acts29.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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