A Escritura ensina que o coração é o centro de controle da vida. A vida de uma pessoa reflete o que está no seu coração. Provérbios 4.23 afirma isto com as seguintes palavras: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”.
Você pode colocar nestes termos: o coração determina o comportamento. O que você diz e faz expressa a orientação de seu coração. Marcos 7.21-22 diz: “Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura”. Estes males, em palavras e ações, vêm de dentro — do coração.
O que seus filhos dizem e fazem é um reflexo do que está em seus corações.
Lucas 6.45 confirma:
O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração.
Estas passagens são instrutivas na tarefa de criar filhos. Ensinam que a questão básica não é o comportamento. A questão básica é sempre o que está acontecendo no coração. Lembre-se, o coração é o centro de controle da vida.
Os pais frequentemente desviam-se ao tratar do comportamento. Se o seu objetivo principal na disciplina é a mudança de comportamento, é fácil entender por que acontece o desvio. Aquilo que o alerta para a necessidade de correção em seu filho é o comportamento. A maneira de agir de seu filho o irrita e, portanto, chama a sua atenção, tornando-se o seu foco. Você imagina que fez a correção necessária, quando mudou um comportamento inaceitável por uma conduta aprovada e digna de apreciação.
“Qual é o problema?”, você pergunta. O problema é este: as necessidades de seu filho são muito mais profundas do que seu comportamento impróprio. Lembre-se: o comportamento dele não surge sem causa. Seu comportamento — as coisas que ele diz e faz — reflete o coração. Se você realmente quer ajudá-lo, tem de preocupar-se com as atitudes de coração que impulsionam o seu comportamento.
Uma mudança de comportamento que não advém de uma mudança de coração não é recomendável; é condenável. Não foi a hipocrisia que Jesus condenou nos fariseus? Em Mateus 15, Jesus denunciou os fariseus que o honravam com seus lábios, enquanto seus corações estavam distantes dele. Jesus os censurou como pessoas que limpavam o exterior do copo, enquanto o interior continuava sujo. Entretanto, fazemos isso frequentemente ao criarmos nossos filhos. Exigimos comportamento e não nos dirigimos ao coração que impulsiona o comportamento.
O que você precisa fazer em termos de disciplina e correção? Deve requerer um comportamento apropriado. A lei de Deus exige assim. Porém, você não pode satisfazer-se em deixar a questão neste ponto. Você precisa entender, e ajudar seu filho a perceber como o seu coração errante produziu um comportamento errado. Como o seu coração se desviou para produzir este comportamento? De que maneiras peculiares sua incapacidade, sua recusa em conhecer, confiar em Deus e obedecer-lhe resultaram em ações e palavras erradas?
Tomemos um exemplo bem conhecido: um lar onde há dois ou mais filhos. As crianças estão brincando e surge uma briga por um certo brinquedo. A pergunta clássica é: “Quem pegou primeiro?” Esta pergunta deixa de lado questões vitais. “Quem pegou primeiro?” é uma questão de justiça. A justiça opera em favor da criança que foi mais rápida em pegar o brinquedo. Se olharmos para esta circunstância em termos do coração, as questões mudarão.
Com este ponto de vista, você tem dois ofensores. As duas crianças revelam uma dureza de coração, uma para com a outra. Ambas estão sendo egoístas. As duas crianças estão dizendo: “Eu não me importo com você ou com sua felicidade. Estou interessado somente em mim mesmo. Quero este brinquedo. Ele é a condição para minha felicidade. Vou tê-lo e serei feliz, não importa o que isso significa para você”. Em termos das questões do coração, você tem dois filhos pecando. Os dois estão preferindo a si mesmos e não um ao outro. Os dois estão quebrando a lei de Deus. É claro, as circunstâncias são diferentes. Um está tomando o brinquedo do outro. Um deles está levando a vantagem. As circunstâncias são diferentes, mas a questão do coração é a mesma, ou seja, “eu quero a minha felicidade, mesmo às suas custas”.
Você percebe, então, como as atitudes do coração direcionam o comportamento. Isto é sempre verdade. Todo comportamento está ligado a alguma atitude do coração. Portanto, a disciplina deve se dirigir às atitudes do coração. A compreensão disto faz coisas maravilhosas em favor da disciplina. Ela faz do coração o alvo da questão, e não somente o comportamento. Essa compreensão focaliza a correção em coisas mais profundas do que somente na mudança de comportamento. O ponto de confronto é o que está acontecendo no coração. Sua preocupação é desmascarar o pecado de seu filho, ajudando-o a entender como o comportamento dele reflete um coração pecador. Este fato o leva à cruz de Cristo e ressalta a necessidade de um salvador. Fornece oportunidade de mostrar as glórias de Deus, que enviou seu Filho para transformar corações e libertar as pessoas aprisionadas ao pecado.
Esta ênfase é a linha fundamental deste livro: o coração é a fonte da vida. Portanto, criar filhos diz respeito a pastorear o coração. Você precisa aprender a educar, voltar-se para o coração, a partir do comportamento visível, expondo aos seus filhos as questões do coração. Em resumo, você deve aprender a envolvê-los e não a reprová-los. Ajude-os a ver que a forma como estão tentando aplacar a sede de suas almas é com coisas que não satisfazem. Você precisa ajudar seus filhos a divisarem um foco claro da cruz de Cristo.
Eis a proposição: o comportamento é impulsionado pelo coração, portanto, correção, disciplina e treinamento — toda a criação de filhos — deve dirigir-se ao coração. A tarefa fundamental na criação de filhos é pastorear o coração deles.
Esta proposição direcionará tudo o que vocês farão como pais. Ditará seus objetivos, fornecerá seus métodos. Moldará o seu conceito de como as crianças se desenvolvem.
Este livro endereça-se às variadas facetas da criação de filhos. Veremos a perspectiva bíblica da tarefa de criar filhos. Examinaremos o tipo de desenvolvimento das crianças. Focalizaremos os objetivos da criação de filhos. Consideraremos métodos de treinamento. E, em todos estes tópicos, a questão central será pastorear o coração.
Não estou oferecendo uma metodologia simples e hábil, nem promovendo um novo plano de três passos para se obter filhos sem problemas. Não estou apresentando uma maneira simples de atender às necessidades deles, a fim de que você possa ir em frente com sua vida. Estou, entretanto, desejando explorar, juntamente com você, novas maneiras de empreender a tarefa de treinamento que Deus lhe confiou. Ofereço estas ideias como alguém que não é novo nesta tarefa; nem me tornei um cínico no assunto. Estou mais entusiasmado do que nunca sobre esta tarefa. Estou cheio de esperança e certo de que Deus pode nos capacitar para suscitar em nossos lares uma semente santa para a igreja.
Tenho visto famílias assumirem os princípios descritos neste livro. Tenho visto pais pastoreando crianças felizes, produtivas, que estão conscientes a respeito de si mesmas e da vida. Recentemente, visitei um lar desse tipo. A família estava alegre e vibrante. Os filhos adolescentes estavam em casa, porque ali era um lugar aprazível para estar. O pai e a mãe eram tidos em grande estima, e os filhos buscavam o conselho deles. A Bíblia e a verdade bíblica sopravam através de toda a conversação — não como um calor abafado, mas como uma brisa refrescante e geradora de vida. Neste lar, cinco gerações têm guardado a fé, e a sexta geração está aprendendo que Deus é o fundamento da vida, em cuja luz nós vemos a luz.
Vale a pena lutar por estas coisas. Esta é uma visão que vale o sacrifício.
Você precisa buscar respostas nas Escrituras, a fim de desmanchar o emaranhado de confusão a respeito da criação de filhos. Estou convencido de que as Escrituras são suficientemente fortes para oferecer-nos todos os modelos e conceitos que necessitamos para esta tarefa. Por muito tempo, a igreja tentou integrar formas de pensamento bíblico e não bíblico, procurando responder às perguntas sobre a criação de filhos. Este enxerto produziu um fruto amargo. Precisamos entender nossa tarefa biblicamente.

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Pastoreando o coração da criança, de Paul Tripp, Editora Fiel.