sexta-feira, 29 de março

O amor de Deus e os erros de seus pais

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O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro A Vida Além do Erro dos Seus Pais, de David Powlison, Série Aconselhamento, Editora Fiel.

Sally cresceu em um lar perigoso. Durante sua adolescência, o pai abusou sexualmente dela, colocando um sabor amargo no infeliz relacionamento deles. E, ainda que ela tenha se tornado cristã no ensino médio, sentia que nunca poderia conhecer a Deus como seu Pai. O relacionamento que tinha com o pai era simplesmente nocivo demais. Hoje, aos 28 anos, ela ainda tem a tendência de ver a Deus como não confiável, exigente, impiedoso e imprevisível.

A mãe de Keasha era verbalmente abusiva. Ela criticava Keasha com muita frequência, implicando com as menores falhas. Ira e fuga eram o “procedimento padrão” da família. Agora, Keasha tem sua própria família, mas ainda luta para entender o amor de Deus por ela. “Como eu posso?”, indagou-me ela e completou: “Minha mãe fez com que eu me sentisse desvalorizada e indigna de ser amada. Para mim, o amor de Deus parece apenas palavras”.

O pai de Bill abandonou a família quando o menino tinha três anos. A mãe dele trabalhou em dois empregos para sustentar a família. Bill nunca mais voltou a ver o pai, e sua mãe estava frequentemente preocupada com o estresse de ser a única cuidadora da família. Agora, aos 36 anos, Bill recentemente buscou aconselhamento por causa da sensação de longa data de que “Deus está distante, como meus pais estavam”.

Você pode conhecer o amor de Deus apesar do erro dos seus pais?
E você? Talvez você sinta que os erros de seus pais o impediram de conhecer o amor de Deus e de aprender a amar os outros. Esse é um problema comum.

E não se resolve em um estalar de dedos. Mas há uma solução verdadeira que, pacientemente, funciona. Coragem: Deus quer que você conheça e experimente o amor dele. Ele reserva um tempo para fazer mais que apenas dizer simples palavras. A Palavra dele está repleta de lembretes de que ele, pessoal e poderosamente, ama seus filhos:

“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10)

“Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm 8.31-32)

“Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5.5)

“Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.15-16)

Essas não são apenas palavras. Deus faz o que diz. Não se trata apenas de boas intenções. Ele inicia um relacionamento vivo. Essas passagens falam de duas maneiras principais pelas quais Deus mostra seu amor por nós. Primeiro, o fato histórico: Jesus enfrentou uma morte agonizante por amor a seus filhos. Segundo, a dinâmica poderosa dentro de nossos corações: o Espírito Santo derrama o amor de Deus em nós para criar a resposta confiante de um filho. Deus agiu com amor na história? Deus age com amor agora dentro de nossos corações? Sim! O amor de Deus é eficaz, no passado e agora.

Mas o que dizer quando nos sentimos desconectados do fato histórico de que Jesus morreu por nós e da dinâmica de trabalho do Espírito Santo? O que dizer de Sally, Keasha e Bill? E você? O que faz quando não entende o amor de Deus por você? Quando a cruz de Cristo o deixa frio/insensível? Quando o Espírito Santo parece ser apenas uma teoria (e não uma ajuda diária em tempos difíceis)? O que você faz quando há pouco ou nenhum “Aba, Pai” em seu coração?

Pessoas que lutam para entender o amor de Deus por elas frequentemente ouvem duas ideias dos conselheiros cristãos e de outros que tentam ajudá-las.

• Declaração 1: “Você realmente não consegue apreciar Deus como Pai se teve um relacionamento ruim com seus pais humanos.”

• Declaração 2: Essa declaração é sobre métodos de aconselhamento e, com frequência, segue a primeira afirmação: “Se você teve problemas com os pais em sua história, precisa agora de um tipo de “reparentalização” ou de alguma espécie de experiência de correção emocional. Você precisa do amor de um pai substituto, terapeuta, mentor ou grupo de apoio antes de experimentar Deus como um Pai amoroso.”

Essas declarações são verdadeiras? Se seus pais eram violentos, críticos, negligentes e egoístas, você está impedido de conhecer Deus como um pai amoroso? Será que você precisa, antes, experimentar um relacionamento humano corretivo para tornar “Deus é meu Pai” uma realidade substancial?

Quando cuidadosamente examinadas, essas declarações revelam-se falsas. Elas distorcem a natureza do coração humano, e distorcem as razões pelas quais as pessoas acreditam em mentiras sobre Deus. Ainda pior, essas declarações negam o poder e a verdade de como Deus realmente age através de sua Palavra e de seu Espírito. Elas substituem o Deus Todo-poderoso por um todo-poderoso psicoterapeuta, cujas afirmações e tolerância preparam o coração para um deus que vai apenas tolerar e afirmar.

Isso não quer dizer que pessoas com pais medíocres não projetem frequentemente essas imagens para o Deus verdadeiro. Elas o fazem muitas vezes e não é de admirar que digam que um deus assim não é confiável nem amável! A declaração número 1 reflete um fenômeno comum: “Eu tenho um pai corrupto e eu acho que Deus é corrupto”. Mas a relação causal entre esses dois fatos é real? As pessoas distorcem sua visão de Deus porque tiveram pais pecadores ou por alguma outra razão? Você deve cavar abaixo da superfície para encontrar a resposta. Existem pessoas com pais ruins e que, ainda assim, têm um ótimo relacionamento com Deus? Existem pessoas com bons pais e que, ainda assim, têm uma visão detestável de Deus?

Por exemplo, meu antigo pastor, quando tinha dois anos, perdeu seu pai em um acidente. Sua mãe logo casou novamente e seu padrasto era agressivo com ele. Porém, o tratamento do seu padrasto não o impediu de entender o amor de Deus. Em vez disso, o amor de seu Pai celestial tornou-se a coisa mais importante na sua vida. Com frequência, ele dizia que crescer sem o amor de um pai tornou o amor de Deus ainda mais real para ele. Seu versículo preferido era 1 João 4.16: “E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele”.

A declaração 2 também reflete uma experiência comum: “Realmente fez diferença conhecer uma pessoa em quem eu pude confiar e meu relacionamento com Deus cresceu”. Sem dúvida, amigos bons, atenciosos e sábios são uma excelente ajuda no processo de mudança. Um conselheiro piedoso é como um pai piedoso em muitos aspectos. Mas essa explicação para mudança, embora plausível, está correta? Outra vez, você precisa cavar.


Autor: David Powlison

David Powlinson leciona e dá aconselhamento na Escola de Aconselhamento Bíblico (Aconselhamento Cristão & Fundamentos da Educação) do Seminário Teológico Westminster.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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