O crente em Cristo é uma pessoa que se arrepende durante toda a sua vida. Ele começa e continua a vida cristã com arrependimento (ver Rm 8.12-13). O rei Davi cometeu graves pecados, mas, diante da repreensão do profeta, sentiu-se abatido, porque era uma pessoa que se arrependia de todo coração (2 Sm 12.7-13). Pedro negou a Cristo três vezes, porém sentiu remorsos por três vezes, até que se arrependeu chorando amargamente (Mt 26.75). Todo crente é chamado de “penitente”; todavia, ele tem de ser um “penitente” que se arrepende constantemente. Em suas instruções referentes a disciplina da igreja, a Bíblia pressupõe que todos os verdadeiros crentes possuem uma natureza caracterizada por arrependimento. Alguém que demonstra indisposição para arrepender- se diante da amável disciplina da igreja deve ser considerado “gentio e publicano” (Mt 18.17).
O que significa arrependimento?
Arrependimento é uma mudança na maneira de pensar em relação a Deus e ao pecado; é uma conversão íntima do pecado para Deus, uma conversão conhecida pelo seu fruto . a obediência (Mt 3.8; At 26.20; Lc 13.5-9). Arrependimento significa odiar aquilo que antes amávamos e amar aquilo que antes odiávamos, significa uma mudança de caminho, do irresistível pecado para o irresistível Cristo. A pessoa que verdadeiramente se arrependeu é levada a depender de Deus. A fé é sua única opção. Quando ela reconhece que o pecado a fez tropeçar, Deus a levanta (Mt 9.13b). O arrependido terá confiança em Deus ou sentirá desespero. A convicção de seu pecado ou o libertará, ou o consumirá.
O religioso freqüentemente se ilude em seu arrependimento. O crente pode até cometer um pecado gravíssimo, mas permanecer deleitando- se no pecado e achar confortável o ambiente do pecado é um sinal mortífero, pois no céu só existem penitentes. Se pudesse, aquele que ilude a si mesmo quanto ao arrependimento poderia considerar se o pior do pecadores, mas a sociedade não o permite. Ele pode tolerar e mesmo ter comunhão com aqueles que professam ser crentes e pastores mundanos, mas não deseja a comunhão santa ou o fervor da adoração santa. Se ele não tolera permanecer no culto por alguns minutos, considerando-o demorado, como ele se sentirá durante algumas miríades de anos na eterna adoração, no céu? Ele deseja um céu de facilidade e recreação, equivalente a férias contínuas. Mas um céu de santidade seria um inferno para esse tipo de pessoa. No entanto, Deus é santo e está no céu. Ele não pode ser culpado por mandar o ímpio para o inferno, apesar de sua mais habilidosa confissão de ser crente (Hb 12.14).
Quais os substitutos do verdadeiro arrependimento?
1. Você pode reformar suas atitudes sem o arrependimento no coração (Sl 51.16-17; Jl 2.13).
Isto é uma grande ilusão, visto que o amor ao pecado ainda permanece no íntimo de tal pessoa (1 Jo 2.15-17; At 8.9-24). Os fariseus eram hábeis nesse tipo de arrependimento (Mc 7.1-23). O problema do homem é o seu próprio coração. Uma pessoa pode demonstrar retidão em seu comportamento e estar condenada por causa de atitudes de seu coração e por causa de ações hipócritas que têm o objetivo de satisfazer a si mesma. Aquilo que procede de um coração perverso jamais é bom. .Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco a fonte de água salgada pode dar água doce. (Tg 3.11-12).
2. Você pode sentir a emoção do arrependimento sem possuir o efeito do verdadeiro arrependimento.
Isso é um tipo de amnésia. Apavorado, o pecador contempla-se no espelho, mas logo se retira, esquecendo- se do tipo de pessoa que ali contemplou (Tg 1.23-24). É verdade que o arrependimento inclui emoções sinceras, afeições para com Deus e ódio ao pecado. Intensa tristeza pode, com razão, fluir do íntimo do pecador (Tg 4.8-10). Porém, existe uma emoção temporária naquilo que se parece com o arrependimento; esta emoção, sendo de pouca duração, é incapaz de manter um comportamento de retidão na longa jornada da obediência. Sua tristeza talvez até permaneça por bastante tempo; porém, se não chega ao arrependimento, é uma tristeza segundo o mundo, é uma morte viva ou algo pior do que isso (2 Co 7.10); é a uma velha ilusão. Judas sentiu esse tipo de tristeza, mas .retirou-se e foi enforcar- se (Mt 27.5).
3. Você pode confessar os termos de um verdadeiro arrependimento e jamais arrepender-se (Mt 21.28-32; 1 Jo 2.4; 4.20).
A confissão por si mesma não equivale ao arrependimento. Pode ser apenas movimentação dos lábios; o verdadeiro arrependimento move o coração. Reconhecer um hábito como pecaminoso aos olhos de Deus não é o mesmo que abandoná-lo. Embora sua confissão seja honesta e emocional, não será suficiente, se manifestar apenas fingimento e não uma verdadeira mudança de coração. Existem pessoas que confessam ter-se arrependido somente por exibição, pessoas cujo arrependimento é apenas teatral mas não autêntico. Se você demonstra ter-se arrependido apenas para ter uma vida de sucesso, não ser á bem-sucedido em seu arrependimento. Sua confissão humilde se tornará em pecado de arrogância. Saul fez uma confissão exemplar (1 Sm 15.24-26); no entanto, após sua morte foi para o inferno. Arrepender se somente “da boca para fora” não é o verdadeiro arrependimento.
4. Você pode arrepender-se por medo do juízo e não por odiar o pecado.
Qualquer pessoa tende a deixar de pecar, quando é apanhada no pecado ou está relativamente certa de ser apanhada, a menos que haja insuficiente punição e vergonha associadas com o pecado (2 Tm 1.8- 11). Quando existem prejuízos suficientes para atrair-lhe a atenção, ela corrigirá seu comportamento. Se este é todo o motivo de seu arrependimento, tal pessoa realmente não se arrependeu. Isto é uma obra da lei, mas não da graça. As pessoas podem ser controladas pelo temor, mas o que Deus exige é uma mudança de coração. Acã admitiu seu pecado, após ter sido apanhado nele, mas, de outra forma, não teria se arrependido. Seus ossos se encontram no vale de Acor; sua alma, com muita probabilidade, está no inferno (Js 7.16-26).
5. Você pode falar publicamente contra o pecado, à semelhança de alguém verdadeiramente arrependido, sem jamais ter se arrependido no íntimo (Mt 23.1-3).
Seus lábios não podem mudar lhe o coração. Seu pecado é semelhante a uma prostituta. Em público, você fala contra ela; porém, a abraça em seu quarto. Ela não se importa em ser combatida publicamente, se em secreto pode conquistar toda a sua atenção. .Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. (Tg 4.4).
6. Você pode arrepender-se fundamentalmente por causa de benefícios temporais e não por causa da glória de Deus.
Para aqueles que se arrependem existem benefícios, porém o egoísmo não pode ser a motivação final do verdadeiro arrependimento. O egoísmo é uma carcaça sem vida e fétida que precisa ser jogada fora. Você deve se arrepender, porque Deus é nossa reverente e digna autoridade, mesmo que não obtenhamos qualquer benefício. De fato, nosso arrependimento pode aparentar trazer-nos mais perdas do que os ganhos adquiridos em nosso pecado (Mt 16.24-26; Fp 3.7-8). Isto é prova do verdadeiro arrependimento.
7. Você pode arrepender-se de pecados menores com o propósito de evitar os maiores (Lc 11.42).
Procuramos acalmar nossas consciências praticando algum tipo de pequeno arrependimento, que na verdade não significa arrependimento algum.
Quando ocorre o verdadeiro arrependimento, todo o coração da pessoa é transformado. Aquele que se arrepende somente pela metade é um homem de coração dividido: parte de si é favorável ao pecado; outra parte, contra este. Uma parte está a favor de Cristo; outra se opõe a Ele. Porém, uma das partes tem de vencer, pois o homem não pode servir a Deus, às riquezas ou a qualquer outro ídolo. O homem amará a um e odiará o outro (Mt 6.24).
8. Você pode arrepender-se de pecados genéricos e não de pecados específicos.
A pessoa que se arrepende de generalidades provavelmente está encobrindo seus pecados (Pv 28.13). Se não existe mudanças específicas, não ocorre arrependimento algum. O pecado tem muitas cabeças, assim como a mitológica Hidra. Não podemos lidar com elas de maneira genérica; precisamos aniquilá-las uma a uma.
9. Você pode arrepender-se por causa do amor aos amigos e líderes religiosos e não do amor a Deus (Is 1.10-17).
Uma pessoa levada ao arrependimento por amor aos amigos ou por respeito a religiosos pode mostrar mudanças, mas, na realidade, não ter feito nada substancial.
Se um homem converte-se do pecado sem voltar-se para Deus, descobrirá que seu pecado apenas recebeu outro nome, estando escondido por trás de seu orgulho. Agora será mais difícil desarraigá-lo por causa de seu subterfúgio. Você tem amado aos homens, não a Deus, e a si mesmo, antes de qualquer outra coisa. A esposa de Ló abandonou a cidade do pecado devido à insistência do anjo e ao amor à sua família, mas olhou para trás. Havia deixado seu coração em Sodoma. .Lembrai vos da mulher de Ló. (Gn 19.12-26; Lc 17.32).
10. Você pode confessar que cometeu certos pecados no passado e não se arrepender do constante hábito de pecar.
Se um homem é sincero, ele é uma boa pessoa em termos humanos. No entanto, não será um homem que se arrependeu até que o pecado seja morto. Se quiser pertencer a Deus, você tem de aniquilar o pecado. “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Rm 8.13). Deus sabe o que você tem feito. O que Ele deseja é obediência (Lc 6.46).
11. Você pode tentar arrepender- se do pecado enquanto conscientemente deixa a porta aberta à ocasião de pecar.
É uma pessoa suspeita aquela que diz: “Eu me arrependo” e não abandona a fonte ou o ambiente daquele pecado.
Embora não possamos mudar algumas situações que despertam a tentação, a maioria delas pode ser evitada. Aquele que não foge do ambiente de sua tentação ainda ama o pecado. Um rato tolo é aquele que faz sua morada debaixo da cama do gato. “Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm 13.14).
12. Você pode esforçar-se para arrepender-se de alguns pecados sem arrepender-se de todos os pecados que conhece.
O comerciante aprende a mostrar interesse pelas necessidades de seus clientes, porém esbofeteia a esposa por causa de alguma negligência. Outro dá ofertas à igreja, mas rouba o tempo de seu patrão todos os dias. Todos se orgulham de terem vencido algumas formas de pecado. Entretanto, o verdadeiro arrependimento considera todo pecado como repugnante. Aquele que verdadeiramente se arrependeu odeia o pecado, embora se envolva com mais facilidade em certo tipo de pecado do que em outro. Talvez ele desconheça todos os seus pecados; todavia, aqueles que reconhece, a estes odeia. O arrependimento é algo constante no crente; “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41).
O arrependimento e a fé andam juntos. O arrependido não tem esperanças de obedecer a Deus sem crer nAquele que é a fonte de toda santidade, o próprio Deus. Ao arrepender- se de seus pecados, ele perde a auto-suficiência. Deus é o santificador (Jd 24-25; 1 Ts 5.23-24; 1 Pe 1.5). O arrependimento é um dom de Deus (At 11.19; 2 Tm 2.25) e um dever da parte do homem (At 17.30; Lc 13.3.). Você saberá se o arrependimento lhe foi outorgado através do praticá-lo (Fp 2.12-13). Não espere; busque-o urgentemente. “Sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Ap 3.19). Procure com ardor o arrependimento e você o achará; esqueça-o e perecerá.