sexta-feira, 22 de novembro
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O casal cristão: duas vontades, dois senhores ou um só Deus?

Graciosamente, minha digníssima esposa e eu completamos recentemente 25 anos de casamento! Quanta festa! Quanto louvor ao Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória! Mas também, quanta necessidade de reflexão acerca da nossa curta caminhada – Temos verdadeiramente cumprido nosso papel como esposo, esposa e pais? É ela, ainda, a “delícia dos meus olhos1? É ele, ainda, para mim (esposa) o que desde o início eu dizia: “O meu amado é meu, e eu sou dele2? Temos ouvido dos nossos filhos, estando na idade da razão, a bela expressão: “Papai e mamãe, queridos, nós queremos, no Senhor Jesus, que nosso casamento seja como o de vocês dois”?

Será que estamos diante de uma utopia, de um sonho, ou de um ideal divino? Se nós cremos nas Escrituras Sagradas, não restará dúvida alguma quanto a ser o casamento uma proposição do Criador que não só O glorifique, mas também seja uma notável agência onde consolo, alegria, fé e amor ganham maior fervor e realismo! Procuremos demonstrar isso mediante uma rápida visão Bíblica afim:

1) Logo antes da queda, vemos Adão cheio de discernimento a prorromper com um dos mais belos poemas de toda a existência humana, dizendo: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada3. Você acha que isso é pouca coisa? Ou você não percebe que ao receber sua mulher, das dadivosas mãos do Criador, Adão mostrou-se alegre, consolado e cheio de gratidão ao Deus da promessa, que cumpriu a Palavra que havia dito: “Far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea4?

Oh! Como consolo, alegria, amor e fé faziam parte do dia do primeiro casal! Daí ser certo afirmar que o Criador, por Sua vez, prorrompeu alegremente, ao instituir o primeiro casamento, como está escrito: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom5!

2) A seguir, já tendo o pecado entrado no mundo, a experiência das angústias face à morte pôde ser vista na vida de Isaque, pois ficou sem a companhia da sua querida mamãe. No entanto, apesar da sua idade “avançada”, o Senhor Deus lhe providenciou outro significativo e mais duradouro consolo – sua amada Rebeca! Por isso está escrito: “e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou; assim, foi Isaque consolado depois da morte de sua mãe6.

Oh! Mesmo diante das muitas dificuldades, bem sabemos o quanto Isaque temia o Deus todo poderoso e, por isso, andava nos Seus caminhos! Por essa razão, aquele patriarca e sua bela esposa desejaram ver seus filhos também casados no Senhor, o Deus da aliança! E Jacó foi o patriarca que pode dar continuidade ao eterno propósito divino, uma vez que da sua família viria o descendente prometido!

3) Pensemos também no exemplo de um marido exemplar, cujo nome era Boaz! Este casou com uma mulher reconhecidamente “virtuosa“, e ela, Noemi, casou com ele, Boaz, um homem cheio do temor do Senhor, respeitoso e resolutamente amoroso7!

4) Estando sem tempo para falar de outros gigantes do passado (Ex: o profeta Ezequiel), os quais se tornaram exemplos de fé e temor ao Senhor, passo a citar um dos mais notáveis textos bíblicos do N. T. que demonstram ser o matrimônio grande fonte de consolo, alegria, fé e amor. Trata-se dos escritos do apóstolo Pedro, que claramente utilizou as Escrituras do Antigo Testamento para fundamentar seu ensino. Pensemos, pois, no que ele ordenou aos maridos crentes no Senhor Jesus Cristo, dizendo-lhes: “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar com discernimento; e, tendo consideração para com vossa mulher, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações8. Perguntemos o seguinte: Não goza grande prazer o marido que tem a experiência de estar junto (ao habitar) com o seu mais próximo que é “a mulher da sua mocidade“? Qual esposa não deseja ser tratada de modo honroso pelo seu marido? Afinal, não está escrito: “Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para corpo9? E o que dizer do ambiente cristão dum lar, cujo marido amorosamente lidera sua esposa e esta, por sua vez, o respeita? Tal atmosfera não redundará em louvor e adoração? Ora, é a isto que o apóstolo chama de propósito último do casamento, ao dizer: “para que não se interrompam as vossas orações“. Pelo que o “viver a vida comum do lar com discernimento” é o reflexo do marido que conduz a sua mente cativa à Palavra do Senhor Jesus. E o resultado de tal submissão à Palavra é que o homem será “bem-aventurado” no seu doce lar cristão! Ou seja: O esposo e sua esposa, orando juntos no dia a dia, crescerão na “graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo10. Logo, nesse lar, consolo, alegria, amor e fé serão o claro distintivo de vidas cheias do Espírito Santo e do “temor de Cristo11!

Mas, apesar da existência do ideal divino para o matrimônio, os casais se deparam com outra dura realidade – a exigência que a vontade de cada cônjuge faz para que haja satisfação pessoal e o seu ego prevaleça! Então, a vida de fidelidade aos votos matrimoniais dá lugar ao “eu” do egoísmo, gerando amargura, insubmissão orgulhosa e não poucas dores e angústias!

Quanto às esposas, no geral, pervertem a ordem natural, na qual o marido deixa de ser sua prioridade, enquanto elas buscam satisfação tão somente nos filhos. Pior ainda é quando a esposa resolve tomar suas próprias decisões, numa demonstração de escravidão ao “eu carnal“. Por causa disso, deixa de experimentar a liberdade de uma “mulher virtuosa“, que diz ao seu amado esposo: “aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu […] o teu Deus é o meu Deus12Onde está, pois, a felicidade num lar como este? Não estão amor, consolo e alegria ausentes daquela família? E o que dizer do exercício da fé no <em>Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória</em>? É certo que, se não há lugar à fé que agrada a Deus, o mínimo que se espera encontrar em tal lar é ” tribulação e angústia”; afinal, egoísmo, mundanismo e ansiedade estarão sempre presentes onde não há confiança no Deus Vivo ou onde não mais se diga de coração: “venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu13!

Quanto aos maridos, o que dizer deles, os quais foram chamados para exercer uma liderança amorosa, gerando segurança, alegria e bom ânimo a sua digníssima esposa? Ora, não é incomum encontrarmos hoje maridos vivendo como se ainda fossem solteiros, quase que afirmando: ‘A vida é minha e dela faço como eu quero’! Ora, é fácil verificar que muitos esposos estão voltados para si mesmos; para isso, basta que consideremos o lugar que as redes sociais modernas ocupam no seu coração. Quanto a isso, não é verdade o grande tempo dispensado em frente ao computador? Veja-se, por exemplo, como a participação em lista de grupos afins, onde ler e postar coisas de interesses pessoais se tornou um grande vício. Então, muitos maridos não dormem sem que antes chequem suas mensagens e, quando acordam, fazem o mesmo!

Ora, bem que poderia listar tantas outras coisas que se interpõem entre o marido e sua esposa, mas basta citar o lugar que é dado ao esporte, às conversas com os amigos, ao trabalho, etc., e saberemos que tudo pode ser resumido numa palavra: servidão aos senhores da modernidade! E tal servidão não passa de egoísmo bem nutrido, que é o oposto da chamada que o marido recebeu para “viver a vida comum do lar com discernimento“! Então, mais uma vez pensemos: Em tais lares, tem tido lugar para amor, consolo, alegria e fé no Senhor Jesus? Nós, maridos, temos podido dizer: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor“?

Qual é, pois, a solução para tal problema? Que devem fazer maridos e esposas em tais casos? Sugiro que devamos refletir em três verdades fundamentais, a fim de que o esposo e sua esposa abram mão de suas vontades, desprezem a servidão aos seus senhores modernos e se submetam ao Deus verdadeiro. Ei-las a seguir:

1. Arrependimento. A cada dia, os crentes necessitam de olhar para o que fizeram, à luz da Palavra do Senhor, e, com a mesma visão de Deus acerca do pecado, confessar seus pecados! Em outras palavras, maridos e esposas precisam andar na luz, a fim de que o sangue de Jesus lhes purifique de todo pecado (Cf. 1Jo 1: 5-9).

2. O temor do Senhor. A única maneira de combater eficazmente os temores de ser infeliz, de ficar enfermo, da solidão, do desemprego, da opinião dos homens, etc., é o temor de Cristo! Ou seja, a fé que ouve com mansidão a palavra que diz: “santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração“, dirá NÃO a todos os demais temores! Por quê? Porque tal fé descansará na certeza de que seu Senhor é nada menos do que o Jesus Cristo exposto pelo livro de Apocalipse – “… O Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos14. Sim! A fé no Senhor Jesus Cristo o vê como Aquele a quem Deus “o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome…15. Ora, é para essa fé que se diz: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor16.

Oh! Maridos e esposas! Haverá tempos mais difíceis do que os vividos pelos cristãos dos dias do Novo Testamento? No entanto, eis como o “temor a Cristo” caracterizava a Igreja daqueles dias – “Em cada alma havia temor […] A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor… 17.

3. O pensar concordemente no Senhor. Em que sentido esse pensar concordemente no Senhor se faz necessário a todo casamento? Se nós sabemos que tal exortação foi dirigida a duas preciosas irmãs em Cristo – “Evódia e Síntique” – não nos surpreenderemos de que os conflitos comuns entre os casados serão solucionados à medida que ele e ela se ajustarem ao modo de pensar (ou à mesma atitude) de Cristo. Ou seja: Se creio que Ele “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou […] a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de Cruz18, não buscarei eu estar em harmonia com Ele? Afinal, não importa tanto o que penso ou sinto, mas o que meu Senhor prescreveu para mim em Sua Palavra. E, sendo Ele “meu Senhor“, não é o meu mais profundo desejo fazer a Sua vontade?

Então, arrependido e cheio do temor de Cristo, a quem terei que prestar contas diante do Seu tribunal (cf. 2Co 5:9-11a), procurarei desempenhar o papel que a mim foi dado, seja como marido, seja como esposa!

Finalmente, caríssimos irmãos em Cristo, maridos e esposas: Hoje graciosamente temos entendimento; por isso, sabemos que estamos no verdadeiro: Jesus Cristo. “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna19. Então, continuemos nossa caminhada como casados; seja com apenas um ano de casamento, seja completando bodas de prata, de ouro ou de diamante; o que importa é que nossa fé esteja firmada no Senhor Jesus Cristo. Assim, certamente, gozaremos de modo crescente o que nosso Deus providenciou para os casados no Senhor: amor, consolo e alegria!

Oh! Que nossos filhos e filhas encontrem, pois, em nós motivo para dizer: Papai e mamãe, nós queremos que nosso casamento seja como o de vocês!

Oh! Quão “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos!20.

Notas:

1 – Ezequiel 24: 16, 18
2 – Cantares 2: 16
3 – Gênesis 2: 23
4 – Gênesis 2:18
5 – Gênesis 1: 31
6 – Gênesis 24: 67
7 – Rute 3: 10, 11, 18, 13
8 – 1 Pedro 3: 7
9 – Provérbios 16: 24
10 – 2 Pedro 3: 18
11 – Efésios 5: 18-33
12 – Rute 1: 16,17
13 – Mateus 6: 10
14 – Apocalipse 1:5, 6
15 – Filipenses 2: 9-11
16 – Filipenses 2: 12
17 – Atos 2: ; 9: 31. Cf. Efésios 5: 21
18 – Filipenses 2: 6-8
19 – 1 João 5: 20
20 – Salmos 128


Autor: Jaime Marcelino

Iniciou sua carreira cristã no ano de 1980, durante seus estudos na Universidade do Amazonas. Envolveu-se com o ministério estudantil, chegando a ser um dos líderes da Aliança Bíblica Universitária (ABU), por cerca de 10 anos. Logo após a sua graduação em engenharia civil, envolveu-se mais sistemática e eclesiasticamente com a teologia, e em 1990 foi ordenado ministro presbiteriano da Igreja Presbiteriana Cidade Nova (Manaus-AM) há 16 anos, é membro da Junta de Educação Teológica (JET) da IPB e Coordenador do Encontro da Fé Reformada em Manaus desde o ano 2000. É casado com Frascisca de Jesus e pai de duas filhas: Elisama (18) e Noeme (17).

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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