No último mês de setembro, fiz uma caminhada num dia chuvoso de Salisbury, Inglaterra, até a cidade próxima de Broughton, Hampshire – uma cidade localizada praticamente no meio do caminho entre Salisbury e Winchester, onde fiquei por um tempo observando uma casa, uma capela e um túmulo. Todos eles associados à Anne Steele (1717-78), a filha de William Steele, o pastor de uma igreja batista calvinista, cujos hinos eram conhecidos pelos amantes do evangelho no mundo todo. Convertida em 1732 e batizada no mesmo ano, ela foi criada para ser uma mulher de piedade profunda, alegria genuína e uma mente faminta pelo conhecimento. A piedade dela foi forjada na fornalha da aflição. Ela teve lutas na maior parte de sua vida adulta, ao que parece, com ataques contínuos de malária terçã e dor de estômago terríveis.
Anne fez uma escolha consciente ao permanecer solteira, embora tivesse recebido duas propostas de casamento, sendo uma do pastor batista e compositor de hinos, Benjamin Beddome (1717-95). Em uma carta, ela escreveu para a sua meia-irmã, após declinar uma das propostas que recebeu de casamento, que o pretendente ofereceu a mão para ajudá-la com os degraus da escadaria, ou seja, a pediu em casamento. Mas quando ela olhou para os campos do casamento, disse: “eu…não vi flores, mas observei muitos espinhos grandes, e suponho que existam mais outros debaixo das folhas, e visto que não há verde suficiente para cobrir metade deles, o inverno deve estar próximo, como geralmente acontece quando olho para esse campo”.
O celibato de Anne deu a ela tempo para dedicar-se à escrita de poesias e hinos, um dom com o qual o Senhor a abençoou ricamente. Cerca de dez anos antes da sua morte, sessenta e dois de seus hinos foram publicados em um hinário batista – A Collection of Hyms Adapted to Public Worship (1769) [Uma Coleção de Hinos Adaptados à Adoração Pública] – editado por John Ash e Caleb Evans. Esse hinário deu aos hinos de Anne uma ampla circulação nos grupos batistas. Em certo tempo, os seus hinos tornaram-se tão conhecidos quanto os de Isaac Watts, John Newton e William Cowper.
Um dos poucos hinos de Steele que ainda são cantados hoje revela como a ampla circulação dos mesmos tiveram participação na revitalização de áreas da igreja batista calvinista em toda a Inglaterra. Originalmente intitulado “O Convite do Salvador”, o hino tinha como base as palavras de Jesus em João 7:37: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba”.
O Salvador chama – que cada ouvido responda ao som do céu.
Ó almas duvidosas, mandem o medo embora, a Esperança sorri e revive.
Para cada coração sedento e desejoso, fluem correntes de generosidade.
E Vida, e Cura, e Felicidade concede, para banir a angústia mortal.
Aqui, nascem as fontes do sagrado Prazer para aliviar todas as suas dores.
(Fonte Imortal! Provisão completa!) Você não sofrerá em vão.
Ó Pecadores, venham até a Voz da Misericórdia.
Ao chamado da graça obedecei.
A Misericórdia convida para as Alegrias celestiais,
Você ainda consegue adiar?
Querido Salvador, atraia os corações relutantes,
A Ti corram os pecadores.
E tomem da Felicidade que o Teu amor concede, e
Bebam e não morram nunca mais.
Com base no convite aberto de Jesus aos pecadores, para que venham a ele e bebam, isto é, encontrem a vida eterna, Steele exorta “cada ouvido” a “responder” o convite celestial de Cristo. Ele chama todos os que estão “sedentos” e “desejosos” de vir a Ele, a encontrar “Vida, e Cura e Felicidade… fontes do sagrado Prazer”, que aliviarão toda angústia. Cristo é a “Fonte Imortal” que nunca secará e que satisfaz completamente o homem, a mulher ou a criança sedenta. Portanto, Cristo chama todos esses “pecadores” a virem até Ele. Anne ecoa esse chamado: ela ora para que o Senhor atraia esses pecadores: “A Ti corram os pecadores”.
Este convite para vir a Cristo é uma ordenança: “Ao chamado da graça obedecei”, e também uma oferta gratuita: “Você ainda consegue adiar?”. Mas Steele também está consciente de que o “coração sedento e desejoso” não é suficiente em si mesmo para vir a Cristo. Em uma análise final, é um “coração relutante”, cheio de dúvida e medo; é um coração escravizado pelo pecado. Por essa razão, ela ora: “Querido Salvador, atraia os corações relutantes”. Aqui, ela deve ter em mente as palavras de Jesus em João 6:44: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair”. Essa é uma oração que pode ser feita com confiança ao Salvador que ela menciona como “Fonte Imoral”, Misericórdia encarnada, que ama os pecadores e se deleita em conceder a eles “alegrias celestiais”. Enquanto os homens e mulheres batistas cantavam esse hino, Deus o usava para tirar do pecado os corações dos pecadores e atraí-los a seu querido Filho, o Amigo dos pecadores.