O que torna a igreja bela? A Bíblia conta a primeira história de amor de uma donzela em perigo que se encontrava presa sob as garras de um inimigo astuto. Encorajado pelo seu amor genuíno por ela, o justo herói sem hesitar deu sua vida em sacrifício por sua noiva, lutando contra o antigo dragão em um duelo até a morte, enquanto sua amada assistia impotente, observando e chorando. A morte, nosso inimigo fatal, parecia ter vencido. Mas a morte não venceu. Ela não poderia vencer. A morte foi conquistada pela ressurreição de Jesus, o herói da nossa história e o herói original que é copiado por toda boa história de amor desde então.
Mas o evangelho é muito mais do que apenas uma história, ele é a história. Apenas aquele que é digno da vida eterna poderia derrotar a morte e nos resgatar das chamas insaciáveis ??do inferno e da ira eterna de Deus, e, assim, levar-nos com segurança para o “felizes para sempre” do céu e da comunhão eterna com Deus. Foi por isso que o nosso herói entrou em nossa história, e na história. Ele veio não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Marcos 10.45), libertando-nos assim para o amar e amar tudo o que ele ama.
A linguagem de Paulo em Gálatas 5.13-15 aborda a ideia de servir uns aos outros através desta lente da liberdade do evangelho. De acordo com um antigo hino, Jesus “silenciou o trovão da lei; ele apagou chama do Monte Sinai”#1. Jesus satisfez tudo o que Deus exige: justiça perfeita. Mas Jesus também entregou a si mesmo em uma amorosa morte sacrificial sobre um outro monte, o Calvário. Ali, ele sofreu a nossa sentença de morte. Ali, ele lutou por nós e ganhou nossa liberdade e nossos corações. E foi ali que ele nos ensinou a servir uns aos outros, em amor. Simplificando: devemos amar e servir uns aos outros porque fomos amados e servidos primeiramente pelo próprio Cristo.
Paulo não vê o nosso serviço uns aos outros como um dever árduo movido por sentimento de culpa, medo ou manipulação. Ao contrário, é a bela liberdade, heroicamente comprada por Cristo para nós no evangelho, que move o nosso serviço mútuo. O evangelho nos ensina que já não somos mais escravos do pecado, uma vez que a culpa e o poder do pecado foram derrotados por Cristo. Nós agora somos livres, mas livres para quê?
Este é o ponto de Paulo: somos livres, mas não para usar nossa liberdade para servir o nosso antigo mestre carnal que duramente nos escravizou. Isso seria voltar ao cativeiro no covil do dragão abominável. Em vez disso, somos livres para amar e servir àquele que nos salvou, e fazemos isso pela maneira com que nós livremente amamos e servimos uns aos outros. A liberdade do cristão é vividamente expressa quando usamos nossa liberdade em Cristo para servir aos outros em Cristo. Quando servimos uns aos outros, nós encarnamos enfaticamente o que significa tomar a nossa cruz e seguir a Jesus. Participamos da exibição do amor de Cristo por sua igreja. Também demonstramos que não pertencemos ao mundo e, portanto, não somos escravizados por suas paixões egoístas, testemunhando assim, mesmo para aqueles fora da igreja, que a verdadeira liberdade está em Cristo. A igreja é, portanto, um teatro de redenção, serviço e amor, ao viver o evangelho diante de um mundo que ainda está escravizado pelo pecado, egoísmo e incredulidade.
Servir a igreja nem sempre é fácil, porque a igreja nem sempre parece bela aos nossos olhos. Às vezes, ela pode parecer um tanto desagradável e detestável. A imperfeição dos membros da igreja é real e pode desencorajar o nosso serviço. É por esta razão que eu imploro a você que olhe para a Igreja como Cristo a vê: com uma beleza e glória que reflete a dele. A igreja é bela por causa de quem ela é em Cristo. Amar a Cristo significa amar o que ele ama, e há grande alegria e refrigério espiritual em entregar as nossas vidas pelos outros.
Servir a Cristo significa usar nossa liberdade do evangelho para servir aquilo que Cristo amou o suficiente para comprar com seu sangue. É por isso que a igreja é bela, e que a servir é um privilégio glorioso.
Notas:
#1 “Let us love and sing and wonder”, hino tradicional inglês de John Newton (1725-1807) [N.T.]
Tradução: João Paulo Aragão da Guia Oliveira
Revisão: Yago Martins
Original: Serve One Another