Este artigo faz parte da série Gênero e Características literárias dos livros da Bíblia, que são artigos retirados e adaptados com permissão da Bíblia de Estudo da Fé Reformada, Editora Fiel.
O conhecimento do gênero literário de um livro bíblico visa conduzir o leitor ao melhor entendimento das Escrituras, já que a Palavra de Deus é inspirada e que o próprio Deus planejou a escrita de cada gênero para um determinado fim. Esperamos que conhecer o gênero e a estrutura literária de cada livro ofereça ao leitor uma leitura e estudo bíblico mais profundo e proveitoso.
Cântico dos Cânticos
Gênero
De acordo com o cabeçalho (1.2), o Cântico dos Cânticos é apenas isto: um cântico (ִֶׁשִיר). Essa mesma designação aparece no cabeçalho de muitos dos salmos no livro de Salmos (e.g., Sl 30, 45, 46, 48, 65, 66, 67, 75, 76, 83, 88, 92, 108, 120—134; veja também 28.7; 33.3; 40.3[4]; 96.1; 98.1; 137.3; 144.9; 149.1). A frequência com a qual essa designação aparece no livro de Salmos sugere que esse gênero particular teria sido bem conhecido no antigo Israel. Junto com Salomão no mesmo cabeçalho (ְֶׁשֹלִמֹה também sugere uma conexão com a literatura sapiencial.
A literatura sapiencial exibe uma variedade de gêneros distintos e adaptáveis. Provérbios apresenta ditos proverbiais. Jó é um diálogo de sabedoria poética com uma estrutura narrativa dramática, enquanto o livro de Salmos inclui salmos de sabedoria (e.g., Sl 36, 37, 49, 73, 78). Considerando sua localização no cânon hebraico, até o livro de Rute pode ser entendido como uma narrativa sapiencial. À luz da variedade e adaptabilidade dos gêneros na literatura sapiencial bíblica, classificar o Cântico dos Cânticos como um cântico sapiencial poético parece totalmente apropriado.[1]
A linguagem é claramente poética. Suas imagens e estilo estão de acordo com os melhores exemplos da poesia hebraica. Sua designação como cântico indicaria que o Cântico foi originalmente composto para ser cantado, mas isso não significa que deve ser cantado para ser entendido (exemplos relacionados incluem Êxodo 15 e Juízes 5).
Como observamos antes, as evidências para conectar esse cântico com a literatura sapiencial e com Salomão são significativas. Seu assunto aparece tanto em Provérbios (5.15-21; 30.18-19) quanto em Eclesiastes (2.1-11; 9.9). Além disso, a seção didática em Cântico dos Cânticos 8.6-12 sugere um propósito ou mensagem geral para o livro, assim como Provérbios 1.2-6 e Eclesiastes 12.9-13. De fato, a estratégia didática básica do Cântico pode espelhar a coleção e apresentação de textos poéticos em Provérbios 1–9. Essas características têm um papel importante na identificação que se segue do propósito e mensagem do Cântico.

Este artigo foi retirado e adaptado com permissão do material de estudo da Bíblia de Estudo da Fé Reformada, Editora Fiel e Ligonier.
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[1] O Cântico também tem sido descrito como uma “obra canônica de poesia lírica” (Duane A. Garrett, Song of Songs, em Song of Songs / Lamentations, por Duane A. Garrett e Paul R. House, WBC 23B [Nashville: Thomas Nelson, 2004], p. 14; cf. p. 90-97). Outros o chamaram igualmente de “uma antologia de poesia lírica de amor” (Tremper Longman III, Song of Songs, NICOT [Grand Rapids: Eerdmans, 2001], p. 48-49; Michael A. Fishbane, Song of Songs: The Traditional Hebrew Text with the New JPS Translation, JPS Torah Commentary [Filadélfia: Jewish Publication Society, 2015], p. xxi; cf. Garrett, Song of Songs, p. 25-26). Há também a interpretação do cântico de casamento (epitalâmio). Além disso, Orígenes (e John Milton) consideravam o Cântico como um drama. Cf. Marvin H. Pope, Song of Songs: A New Translation with introduction and Commentary, AB 7C (Garden City: Doubleday, 1977), p. 34-35.