O mundo sempre será um lugar encantador para o cristão. Não adianta achar que um dia você acordará sem nenhuma vontade de pecar. Tal dia nunca chegará debaixo do sol. Está e estará em mim e em você a natureza pecaminosa até o dia em que nossa carne falecer e nosso espírito for para as mãos daquele que nos resgatou. Até aquele dia, precisaremos “matar um leão por dia”, como diz um amigo que luta contra o vício das drogas.
No artigo passado, vimos como devemos estar atentos contra o desejo do nosso coração de agir sem nos preocuparmos com o que as demais pessoas estão pensando de nós. Vimos que agir sem pensar em ninguém é egoísmo. Achar que cada um deve cuidar de sua própria vida e que nós devemos nos preocupar em fazer tão somente o que queremos é errado. Vimos que, embora a Bíblia não proíba certas coisas, ela nos ordena “fugir da aparência do mal” (1Ts 5.22).
Pretendo refletir nesse pequeno artigo sobre a nossa relação com as leis. Há, infelizmente, uma compreensão um pouco equivocada na mente de alguns cristãos. Segundo estes, o uso de drogas como a maconha, por exemplo, não é necessariamente um erro, pois além da Bíblia não proibi-la, em Gênesis 2.15-17, Deus diz a Adão que ele poderia fazer uso de todas as árvores/plantas/ervas do jardim. Segundo a afirmação destes, Deus ali concedia a Adão a permissão de usar, inclusive, a maconha.
Este é apenas um argumento. Há muitos outros relacionados a outras drogas ilícitas, a pagamento de impostos, etc. O argumento é sempre o mesmo: se a Bíblia não proíbe, então não me preocuparei.
Como já escrevi nos primeiros artigos, não creio que esse pensamento esteja correto. Em Romanos 13.1-7, Paulo nos orienta a obedecermos às autoridades superiores. Eles são colocados no poder como ministros de Deus, tanto para abençoar quanto para punir um povo. E são eles que criam as leis que esse povo deverá cumprir. Uma vez criada, a lei deve ser obedecida. E desobedecê-la significa desobedecer a Deus. Só nos é permitida a desobediência às leis no caso delas nos levarem ao pecado. Quando isso acontecer, “mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).
Portanto, se a lei me proíbe de fumar maconha, eu não fumarei. Se a lei diz que eu devo pagar impostos, eu os pagarei. Não agir segundo este raciocínio é desobedecer ao próprio Deus.
Mas o que faremos se o uso da maconha for descriminalizado? Passaremos a fumar maconha? Beberemos o seu chá? Pois bem, creio que também devemos nos lembrar que entre nós e o mundo está o bom senso. Mais uma vez aplica-se o princípio de que devemos nos abster, fugir de toda e qualquer aparência de mal. Isso não significa que a coisa em si é má. Talvez ela não seja! Talvez seja até boa, lícita. Mas, se ela der a alguém a aparência de que estamos agindo mal, devemos negá-la.
Sei que isso pode parecer pueril ou até mesmo tolo para alguém. Todavia, não creio que era para o apóstolo Paulo. Infelizmente, vivemos rodeados pela cultura do consumo e do narcisismo. Queremos ser satisfeitos e agradados o tempo todo. Queremos o que queremos e o queremos agora! Mas isso não é certo! Precisamos entender que a nossa cultura caminha na mesma direção da proposta que a serpente fez para Eva. Queremos ser deuses, plenamente satisfeitos e adorados. Queremos ser senhores de nossas vidas, não importando o que Deus ou os homens pensem de nós. Não há respeito ou temor pelo outro nem mesmo por Deus!
Portanto, embora o mundo seja encantador para nós, não devemos nos esquecer que fomos desarraigados dele. Nossas raízes não estão mais nele. Embora ainda não o tenhamos deixado completamente, precisamos conhecer bem os limites de nossa relação com ele. Nunca nos esqueçamos das palavras de Paulo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1Co 6.12).
No próximo artigo da série, tratarei sobre nossa relação com a chamada “música do mundo”. Até lá!