Estamos vivendo em um tempo em que a experiência pessoal foi elevada acima de tudo como o critério final do que é certo e errado. Pense em todas as pessoas que tentam se justificar com base no que elas sentem. O divórcio é rotineiramente justificado com base no fato de um casal não se sentir mais apaixonado. Dizem que a homossexualidade deve ser aceita como um bem moral, porque alguns homossexuais relatam ter sentido uma atração pelo mesmo sexo desde a mais tenra idade. Até mesmo muitos cristãos professos tomam as suas decisões sobre o certo e o errado com base no que sentem.
É difícil conversar com alguém que faz da sua experiência o árbitro final da realidade. Muitas pessoas adotam a velha máxima de que “uma pessoa com uma experiência nunca está à mercê de uma pessoa com um argumento”. Em última análise, temos que discordar dessa afirmação, mas não porque a experiência não é um tutor valioso. A experiência pode nos ajudar a conectar a teoria à prática e abstrair conceitos para situações concretas. Isso nos ajuda a peneirar as nuances de viver neste mundo complexo. Existem até algumas experiências que parecem provar que a experiência supera a argumentação. Eu penso no exemplo de Roger Bannister. Antes de 1954, muitas pessoas argumentavam que nenhum ser humano poderia correr uma milha em menos de quatro minutos. Bannister quebrou esse recorde, provando por experiência que o argumento era inválido.
O problema não é que a experiência nunca possa superar um argumento; sabemos, pela história da ciência, que a experiência da investigação empírica muitas vezes anulou os argumentos predominantes. O problema é a ideia de que a pessoa com uma experiência nunca está à mercê de uma pessoa com um argumento. Em muitos casos, o argumento sólido supera a experiência. Isso é particularmente verdadeiro quando o debate diz respeito à experiência pessoal versus um bom entendimento da Palavra de Deus.
Lembro-me de uma ocasião em que uma senhora se aproximou de mim e disse: “Dr. Sproul, por trinta anos fui casada com um homem bondoso e um bom provedor que não é cristão. Finalmente, eu não conseguia mais ficar sem ter em comum com ele a coisa mais importante da minha vida: a minha fé. Então, eu o abandonei. Mas ele está me ligando diariamente e implorando para eu voltar. O que você acha que Deus quer que eu faça?”.
“Isso é fácil”, eu disse. “A falta de fé cristã do seu marido não é motivo para um divórcio de acordo com 1 Coríntios 7. Então, a vontade de Deus é que você volte para ele”.
A mulher não gostou da minha resposta e disse que não era boa porque eu não sabia como era viver com o seu marido. Respondi: “Senhora, você não me perguntou o que eu faria se estivesse no seu lugar. Talvez eu teria deixado o seu marido muito antes de você, mas isso é irrelevante quanto ao assunto. Você me perguntou sobre a vontade de Deus, e ela está clara nessa situação. Sua experiência não é uma licença para desobedecer a Deus”. Sou grato por informar que quando a mulher percebeu que estava pedindo a Deus que abrisse uma exceção só para ela, se arrependeu e voltou para o seu marido.
O argumento dessa mulher é replicado todos os dias entre muitos cristãos que submetem a Palavra de Deus à sua experiência. Muitas vezes, quando a nossa experiência entra em conflito com a Palavra de Deus, deixamos de lado as Escrituras. Podemos nos refugiar na opinião pública ou nos estudos psicológicos mais recentes. Permitimos que a experiência comum das pessoas à nossa volta se torne normativa, negando a sabedoria e a autoridade de Deus em favor da experiência coletiva de seres humanos caídos.
Na verdade, todos nós sabemos que a experiência é muitas vezes um bom professor. Mas a experiência nunca é a melhor professora. Deus, claro, é o melhor professor. Por quê? Porque Ele nos instrui a partir da perspectiva da eternidade e das riquezas da sua onisciência.
Às vezes, tentamos encobrir nossa confiança na experiência com uma linguagem mais ortodoxa. Eu não consigo dizer o número de vezes que ouvi cristãos dizerem que o Espírito Santo os levou a fazer coisas que as Escrituras claramente proíbem ou que Deus lhes deu paz em relação à sua decisão de agir de maneira claramente contrária à lei de Deus. Mas essa é uma calúnia blasfema contra o Espírito, como se ele tolerasse o pecado. Já é ruim o suficiente culpar o diabo por nossas próprias decisões, mas nos colocamos em grave risco quando apelamos ao Espírito para justificar as nossas transgressões.
Um dos dispositivos mais poderosos de manipulação que já desenvolvemos é afirmar que experimentamos a aprovação do Espírito a respeito de nossas ações. Como alguém pode ousar nos contradizer se reivindicarmos autoridade divina para o que queremos fazer? O resultado é que acabamos silenciando qualquer dúvida sobre nosso comportamento. Porém, a Escritura nos diz que o Espírito Santo nos leva à santidade, não ao pecado, e se o Espírito inspirou as Escrituras, qualquer experiência que tenhamos que sugira que podemos ir contra o ensino bíblico não pode ser proveniente dele.
Enquanto vivermos deste lado do céu, devemos lidar com a Queda de nossos corpos e almas. Buscar tornar a nossa experiência determinante do que é certo e errado significa repetir o pecado de Adão e Eva. Por que eles desobedeceram ao Senhor? Porque confiaram em sua experiência que lhes dizia que “a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento” (Gn 3.6). Eles ignoraram as promessas e advertências que Deus revelou a eles sobre o fruto da árvore proibida. A experiência pode e deve nos ensinar, mas nunca pode ser o árbitro final do que é certo e do que é errado. Esse papel pertence somente ao nosso Criador, e a sua Palavra nos fornece os padrões pelos quais devemos viver.
Tradução: Camila Rebeca Teixeira.
Revisão: William Teixeira.