quarta-feira, 9 de julho
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O propósito de Deus para a mulher foi distorcido pelo pecado, mas é restaurado em Cristo para refletir sua glória em toda a vida.

O projeto de Deus para as mulheres

A criação da mulher e seu propósito

Talvez você, assim como nós, já tenha lido a narrativa de Gênesis inúmeras vezes — e é surpreendente constatar como a Palavra de Deus é viva! Cada vez que olhamos atentamente para a riqueza de detalhes do nosso Deus, o Criador, é impossível não nos surpreendermos.

Desde o início da criação, Deus estabeleceu um propósito único e especial para a mulher. Em Gênesis 1.26-28, lemos que homem e mulher foram criados à imagem de Deus, com o mandato de frutificar, multiplicar e sujeitar a terra. Essa imagem divina reflete atributos como criatividade, capacidade de relacionamento, amor e santidade. A criação da mulher, portanto, não é apenas um evento histórico, mas também uma verdade que molda a identidade e o papel feminino à luz do evangelho. A mulher reflete a imagem de Deus tanto quanto o homem. Isso significa que ela também foi criada para exibir os atributos comunicáveis de Deus. Em sua singularidade, a mulher manifesta facetas do caráter divino de forma especial. Sua capacidade de nutrir, servir e se sacrificar aponta para o amor cuidadoso de Deus por seu povo.

Paul Tripp1[i] oferece uma excelente explicação do sentido de “façamos o homem à nossa imagem” (Gn 1.26). Paul diz que essa fala do Criador está definindo tanto a identidade do ser humano como a singularidade. E com isso Deus nomeia o valor das pessoas. Esse valor nunca pode ser conquistado ou tirado. O ser humano tem dignidade e valor por carregar a imagem de Deus.

Homens e mulheres criados à imagem de Deus carregam o propósito de serem representantes de Deus para governar, servir e amar, com diferenças que se complementam nas funções que exercem em suas áreas de atuação, seja na família, na igreja ou na sociedade.

A mulher atua comissionada ao lado do homem, auxiliando, complementando a missão determinada a ele pelo Criador, e, juntos, homem e mulher cumprem o mandato de governar e multiplicar até que a terra esteja cheia do conhecimento da glória do Senhor. Mas com a Queda, conforme lemos em Gênesis 3, quando o pecado entrou no mundo, homens e mulheres sofreram a distorção da imagem de Deus e, desde então, essa ordem não tem sido executada como deveria.

A distorção pelo pecado e a redenção em Cristo

O pecado, introduzido no mundo pela desobediência de Adão e Eva (Gn 3), distorceu a identidade e os papéis originalmente designados por Deus. A Queda trouxe conflitos, dor e a tentativa de dominar ou subjugar o outro, produzindo desarmonia nos relacionamentos (Gn 3.16). Entretanto, apesar do pecado, a história da redenção é, na verdade, um processo de restauração daquilo que foi perdido. Em Cristo, o propósito original de Deus para as mulheres é redimido e restaurado. Ele nos chama a viver sob sua graça — não mais presas à culpa ou à vergonha, mas como novas criaturas (2Co 5.17). Cristo nos reconcilia consigo mesmo e também uns com os outros, restaurando a possibilidade de relacionamentos que refletem a beleza de seu plano original. Nós, mulheres, também fomos redimidas para viver e refletir a imagem de Cristo (Cl 3.10) Kathleen Nielson2[ii] afirma que “as mulheres têm de ser valorizadas como portadoras da imagem de Deus, juntamente com os homens, e que todos os crentes, cheios e empoderados pelo Espírito do Cristo ressurreto, sirvam a ele juntos, até que ele volte”. A restauração em Cristo, portanto, nos chama a redescobrir o design original de Deus para nós, como mulheres, e a viver à luz desse chamado, como reflexo da graça redentora de Deus. Essa é uma verdade que deve impactar nossa compreensão sobre nosso papel em casa, na igreja e na sociedade.

A própria personalidade feminina foi intencionalmente criada por Deus para o relacionamento com pessoas. A feminilidade redimida é uma imagem da igreja, a noiva de Cristo. Por meio do evangelho, Deus nos capacita a viver como mulheres renovadas, refletindo sua glória em cada aspecto de nossas vidas. Em cada papel que exercemos — como filhas, esposas, mães, amigas ou irmãs em Cristo —, somos chamadas a viver de maneira que glorifique a Deus. O fruto do Espírito (Gl 5.22-23) deve ser visível em nossas vidas, revelando ao mundo a transformação que somente Deus pode operar.

Dentro desse contexto, a submissão é destacada como uma palavra que causa certo desconforto em muitas mulheres. Antes da Queda, a submissão feminina fazia parte, de forma harmoniosa, do plano criador de Deus. Contudo, o pecado corrompeu essa dinâmica, tornando a submissão algo visto como negativo e, muitas vezes, mal compreendido. O evangelho, porém, traz redenção também para os relacionamentos. A submissão bíblica, restaurada em Cristo, é uma atitude voluntária e amorosa — não de inferioridade, mas de confiança na soberania de Deus e na ordem que ele estabeleceu.

Podemos afirmar que a dificuldade da mulher em ser submissa é, de fato, consequência direta da Queda, conforme descrito em Gênesis 3.16, quando Deus declara à mulher: “O seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará”. Essa passagem é frequentemente interpretada, no contexto reformado, como a introdução do conflito de papéis no casamento: a mulher passaria a ter uma tendência pecaminosa de resistir à liderança do marido, e o homem, por sua vez, poderia exercer essa liderança de forma opressiva.

Essa tensão evidencia a ruptura do plano original de Deus. A inversão da liderança ordenada por ele no Éden — com Eva tomando a dianteira na decisão de comer o fruto e Adão falhando em proteger e liderar — mostra claramente as consequências da quebra desse design complementar.

Biblicamente, a submissão reflete a própria relação de Cristo com a igreja (Ef 5.22-24). Essa postura só se torna verdadeiramente possível pela ação do Espírito Santo, que restaura os relacionamentos conforme o plano original de Deus. Observe que, no texto bíblico, a ordem para que a esposa seja submissa ao marido deve ser exercida no Senhor. Portanto, compreender essa dificuldade à luz das Escrituras nos ajuda a enxergar que a submissão bíblica é parte do processo de santificação. À medida que a mulher se torna mais parecida com Cristo, ela aprende a confiar, a se sujeitar com sabedoria, trazendo glória a Deus e harmonia ao lar.

O artigo acima foi extraído do livro Discipulado na prática – mulheres cuidando de mulheres na igreja local, de Renata Gandolfo e Luciana Sborowski, Editora Fiel


[i] Paul Tripp. Você acredita: 12 doutrinas históricas para mudar sua vida cotidiana. (São Paulo: Vida Nova. 2023).

[ii] Kathleen Nielson. O que Deus diz sobre as mulheres: feminilidade x feminismo (São José dos Campos: Fiel, 2019), p. 234.


Autor: Renata Gandolfo

Renata Gandolfo é membro da Igreja Batista da Graça, serve no editorial feminino online do Ministério Fiel. Renata participa, desde 2015, das Conferências de Treinamento em Aconselhamento Bíblico da ABCB (Associação Brasileira de Conselheiros Bíblico), é licenciada em Letras, Especialista em Aconselhamento Bíblico pelo CETEVAP e escreve regularmente na coluna Vida de Ovelha, do Voltemos Ao Evangelho.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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