Então, que lições eu aprendi? Há uma certa quantidade de sobreposição nestas lições. Por exemplo: minhas tendências gnósticas em relação ao lugar também tiveram origem enquanto eu pensava em competição e comparação. Encontrar a sua voz como um pregador e ser autêntico no ministério são distinções sutis de um princípio que deve ser exercitado em todo o ministério.
Num esforço para uma discussão mais aprofundada, há livros indicados que tenho achado úteis para lutar contra essas ideias. E então, estas são as lições — que não estão em uma ordem específica:
Lição um: Muita teologia não vencerá um coração pecaminoso e egoísta quando você é um pastor.
O propósito da educação teológica é prepará-lo para servir à igreja, não para lhe dar um arsenal teológico para descarregar sobre membros crédulos. Você deve amar ser um seguidor de Jesus mais do que você ama estar certo, ou ser a pessoa mais inteligente em dado lugar. Se meu amor por Jesus não for cultivado diariamente, então o meu amor por ser um pastor tomará o seu lugar em minhas afeições — e acredite em mim, esse é um substituto miserável.
Leituras úteis: Paul David Tripp, “Dangerous Calling” [Vocação Perigosa – Cultura Cristã]; Kent e Barbara Hughes, “Liberating Ministry from the Success Syndrome“ [Libertando o Ministério da Síndrome do Sucesso – Vida Nova]
Lição dois: O que Wendell Berry pode nos ensinar sobre lugar.
De uma forma inesperada, os romances de Wendell Berry estimularam intelectualmente o meu retorno a Fremont. Ler as proezas de Ptolemy and Minnie Proudfoot, Burley Coulter e clã Catlett me revelou a beleza das organizações locais. Em qualquer lugar em que Deus o colocou, você é uma parte da “comunidade local”. Amar o evangelho é uma coisa, amar as pessoas que você serve é outra, mas você realmente deve também aprender a amar o lugar onde você ministra. Não pelo que ele possa se tornar, ou pelo que era. Você deve amá-lo pelo que é. O evangelho não é vivido de algum modo separado do corpo; nossa presença como seguidores de Jesus é uma intromissão presencial em um lugar específico. Não somos gnósticos. Por muito tempo, eu temo que eu era realmente bastante gnóstico em meu pensamento sobre o lugar. Ironicamente, Deus usou um escritor de Kentucky para me ajudar a voltar para Nebraska.
Leituras úteis: Wendell Berry, “A Place on Earth“ [Um Lugar na Terra]; Hannah Coulter.
Lição três: O mito dos surtos proféticos.
Como pastores que estão completamente envolvidos nas trincheiras dos lugares difíceis do ministério, é tentador desenvolver um complexo de C.H. Toy[1]. Quando a nossa metodologia, nossa soteriologia (qualquer logia, de fato) é questionada, nós respondemos com mágoa e ira. Para usar uma expressão popular, nós “perdemos a cabeça”. Agora, nós realmente pensamos que tal surto é justificado, e mesmo necessário. Afinal, nossa integridade como ministros do evangelho divinamente ordenados foi questionada! Ataques diretos realmente não são uma opção, nem podemos convocar um boxeador para vir entre as partes ofensoras, então nós simplesmente “perdemos a cabeça”. No entanto, o que nós aprendemos rapidamente é que responder à estupidez com estupidez é raramente o caminho da sabedoria divina.
Leituras úteis: Mark Dever e Paul Alexander, “The Deliberate Church” [A Igreja Intencional – Editora Fiel]; Sean Michael Lucas, “On Being Presbyterian“ [O Cristão Presbiteriano – Cultura Cristã]
Lição quatro: A importância da amizade autêntica no ministério.
“Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Provérbios 17.17)
Talvez o maior benefício duradouro de ir a um seminário presencial são as amizades que você faz enquanto busca o seu mestrado em teologia (como o meu amigo Paul House diz: “Isso pressupõe uma visão elevada sobre amizade, não uma visão baixa sobre educação teológica”). Ao longo do ministério, esses amigos me disseram que eu estava agindo como um tolo (quando realmente estava), e ainda me defenderam quando os frutos da minha estupidez se tornaram evidentes. Esses amigos, apesar de todas as evidências contrárias, nunca desistiram de mim. Além disso, como homens comprometidos em pregar e ensinar a Bíblia fielmente, temos conseguido ter conversas longas e sérias por mais de uma década. Infelizmente, tem havido pouca reflexão teológica sobre a natureza da amizade nos contextos evangélicos.
Leituras úteis: Wendell Berry, “A Friend of Mine” [Um Amigo Meu] e “Watch with Me” [Vigie Comigo] em “That Distant Land“ [Naquela Terra Distante]; Wallace Stegner, “Crossing to Safety“ [Jornada para a Segurança].
Lição cinco: Jesus deseja que eu exercite a força.
As conversas que mudam a vida deveriam ter algum tipo de música de fundo para acompanhá-las[2]. Infelizmente, nunca é assim. Esse foi o caso quando meu amigo Will Witherington estava me contando sobre seu jogo de golfe. Will está no ministério em universidades, e percebendo que golfe exige tempo e dinheiro, eu finalmente tive coragem de perguntar-lhe como ele jogava tanto golfe. A resposta de Will foi uma epifania para mim. “Sou um homem competitivo. O golfe é meu escape. Eu sou um melhor marido e pai — e, nossa, eu sou um ministro melhor, porque eu tenho esse escape”.
Eu fiquei chocado. A percepção de que eu estava competindo no ministério me afetou imediatamente. Se você ainda não sabe disso, competir no ministério é uma das coisas mais tolas que poderia fazer. É ruim para sua alma e para as almas dos seus companheiros. Ao tentar ganhar, ninguém ganha.
Então, já que sempre pensei que levantar pesos é catártico, eu participo de competições como levantador de pesos sem uso de drogas. Para citar uma postagem no Twitter do fisiculturista Mark Dugdale (que é um crente): “Duas coisas tendem a colocar as coisas em perspectiva adequada: examinar a Bíblia e executar muitas repetições de agachamentos. Não negligencie nenhum dos dois”. Você pode não ser um levantador, mas deve encontrar um escape para a competição fora do ministério. Você se sentirá melhor — fisicamente e espiritualmente.
Leituras úteis: Mark Rippentoe, Starting Strength [Inicie o Fortalecimento]; www.coolrunning.com, “The Couch to 5K Plan” [Do Sofá a Correr 5km]
Lição seis: Encontre o seu modo de pregar — não o de outra pessoa.
De fato, a imitação é a forma mais sincera de lisonja. No início do ministério, se você escutasse atentamente, seria capaz de identificar quem eu estava ouvindo naquela semana. Alistair Begg, Mark Dever, John Piper e Kent Hughes formaram a minha pregação. Esta não refletia meu estilo próprio, mas o deles. Encontre a sua própria voz. Esse é um trabalho árduo, e leva tempo, mas sua esposa dirá quando você o encontrar.
Leituras úteis: Martyn Lloyd-Jones, Preaching and Preachers [Pregação e Pregadores – Editora Fiel]; The Charles Simeon Trust: www.simeontrust.org
Lição sete: Viva em autenticidade e piedade.
Se você não tem conseguido encontrar sua própria voz no púlpito, provavelmente não conseguiu encontrá-la no restante do ministério pastoral também. Eu descobri cedo o que as pessoas esperavam que seu pastor fosse, e então tentei sê-lo. Mas não era eu, eu era horrível nisso, e fiquei infeliz. Seja você mesmo.
No entanto, há uma ressalva importante: embora eu pudesse pensar que as pessoas queriam estar ao redor da minha “excelência”, nem toda parte da minha personalidade é útil ou edificante. Eu sou uma obra em progresso. O Espírito Santo está empenhado na mesma obra de santificação em minha vida como está na de todos os outros. Há uma tensão constante aqui: devo ser eu mesmo, e ainda assim nem sempre isso é algo bom.
Leituras úteis: John Owen, “Sin and Temptation” [Para Vencer o Pecado e a Tentação – Cultura Cristã]; Adolf Schlatter, “Do We Know Jesus?” [Conhecemos Jesus?]
Lição oito: Tentando não ser um desastre como marido e pai.
Um de meus professores em Taylor, Mark Cosgrove, dedicou aos seus três filhos um livro que escreveu: “Em cujas vidas eu devo produzir o meu melhor escrito”. Eu nem consigo lembrar do título do livro, mas a dedicação permaneceu comigo. Minha esposa Amy, e nossos filhos Gabrielle e Nathaniel merecem o meu “melhor escrito”, e, no entanto, eles raramente o têm.
Essa é a pior parte de ir mal no ministério, não é? São as nossas famílias que precisam nos tolerar. Muitas vezes, nós tratamos pior as pessoas que mais amamos. Embora eu não tenha conseguido isso, eu sei disso: eu tenho que me esforçar mais na família do que no ministério, e eu estaria perdido se minha esposa e filhos não fossem graciosos comigo. Se você tem sido uma dificuldade para sua família, comece pedindo pelo perdão dos familiares. Pela graça de Deus, você pode reedificar a partir daí.
Leitura útil: Justin Buzzard, “Date Your Wife“ [Namore Sua Esposa]; Brian e Cara Croft “The Pastor’s Family” [O Pastor e Sua Família].
Tradução: Camila Rebeca Teixeira
Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva
Original: Mea Culpa: Learning From Mistakes in Ministry (Part 2) By: Kyle McClellan