sexta-feira, 22 de novembro
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O que é o natal de acordo com Paulo – Gálatas 4.4-5 (parte 3 de 3)

Nos dois textos anteriores da nossa série sobre Gálatas 4.4-5, aprendemos quatro características da resposta do apóstolo à pergunta: “que criança é essa que nasceu no Natal?”. Temos focado na criança como o coração da história, em duas circunstâncias de seu nascimento e no propósito de sua vinda.  Nesta parte final, aprenderemos mais duas características do Natal de acordo com Paulo.

Então, que criança é essa na manjedoura?  De acordo com Gálatas 4.5, ele é o Filho que nasceu para nos fazer herdeiros de Deus. Como o apóstolo diz, ele veio “a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”, isto é, como herdeiros com direitos e privilégios completos (Gálatas 4.5).  Nessas palavras, aprendemos o objetivo final da vinda do Filho.

Precisamos apreciar novamente o significado do termo usado por Paulo aqui.  A adoção era definida pelo direito romano e amplamente praticada na vida romana. Imperadores romanos haviam adotado homens não relacionados a eles por laços de sangue, a fim de lhes darem seu título e autoridade. Em termos mais gerais, quando um filho era adotado, ele era em todos os aspectos legais igual aos nascidos em sua nova família. O filho adotivo tinha o mesmo nome, a mesma herança, a mesma posição e os mesmos direitos que os filhos natos.

Para apreciar a realidade impressionante da nossa posição como herdeiros na família de Deus, lembre-se de como Deus nos via antes da nossa adoção.  Sem a graça da adoção, não éramos “filhos de Deus”, mas “filhos da desobediência” (Efésios 2.2); éramos, “por natureza”, não “filhos de Deus”, mas “filhos da ira” (Efésios 2.3)!  O ponto é que, na adoção, o Pai dá todos os direitos e privilégios que pertencem ao seu próprio Filho para aqueles que não eram nem seus filhos nem seus herdeiros por natureza e nascimento.

O Catecismo Maior de Westminster capta bem o ensinamento de Paulo sobre a adoção na Pergunta 74.  Pela adoção, somos ensinados, todos aqueles justificados pela fé somente são “recebidos no número dos filhos de Deus, trazem o seu nome, recebem o Espírito do Filho, estão sob o seu cuidado e dispensações paternais, são admitidos a todas as liberdades e privilégios dos filhos de Deus, feitos herdeiros de todas as promessas, e coerdeiros com Cristo na glória”.  Em outras palavras, pela adoção, aqueles de nós que Deus justificou têm o mesmo nome, a mesma herança, a mesma posição e os mesmos direitos que aquele que é o Filho de Deus.

Que criança é essa na manjedoura, então? Ele é o Filho de Deus que se tornou um servo de Deus para que nós, que éramos servos do pecado, pudéssemos nos tornar filhos e filhas de Deus.  Ele é a criança que nasceu para nos fazer herdeiros de seu Pai.

Finalmente, na reflexão sobre a primeira vinda de Cristo em Gálatas 4.4-5, o apóstolo nos fornece ainda mais uma visão sobre a questão: que criança é essa? A criança, diz ele, é o Filho enviado pelo Pai. Essas palavras simples nos levam para o pano de fundo da a vinda do Filho: elas nos apontam para a sua pré-existência. Ele existia antes de ter sido enviado, existia como uma pessoa, e como uma pessoa distinta do Pai. O Filho, que seria chamado Jesus e exaltado como Senhor, era (e continua sendo) o unigênito do Pai.  Ele foi (e é) de uma substância com o Pai e igual a ele (e ao Espírito).  Embora sua pré-existência seja a única afirmação possível de deduzir a partir do texto de Paulo, essa afirmação é consistente com o que o resto da Escritura torna explícito: a criança na manjedoura era o Filho preexistente do Pai, milagrosamente gerado quanto à sua natureza humana pelo Espírito Santo e milagrosamente preservado da corrupção do ventre de Maria. Uma pessoa com duas naturezas.

Perceba-se também que, de acordo com Paulo, o Pai enviou seu Filho. O Filho que veio foi comissionado por seu Pai. Falamos da Grande Comissão, mas aqui Paulo fala da maior comissão de todas, a base da Grande Comissão.  As palavras do apóstolo refletem a harmonia entre o Pai e o Filho. Em se tratando de sua vinda, o Pai concordou em enviar seu Filho, e o Filho concordou em ser enviado pelo Pai. O que Paulo diz aqui aponta para o que ele em outro lugar chama de o eterno propósito de Deus em Cristo (Efésios 3.11), a dispensação da plenitude dos tempos (Efésios 1.9-10), de acordo com a qual o Filho, ungido pelo Espírito Santo, deveria obedecer à vontade de seu Pai e, assim, tornar-se o Herdeiro de todas as coisas, incluindo uma descendência incontável que se tornaria coerdeira com ele.

De acordo com Paulo, então, o bebê na manjedoura é Deus com Deus, o Filho com o Pai, que tomou permanentemente para si a natureza e carne humanas.  Ele não foi sempre homem, mas sempre foi Deus. Jesus Cristo não foi primeiro um homem sobre quem a divindade desceu. Ele era primeiramente Deus, que tomou sobre si a humanidade. Depois da Encarnação, ele agora é e sempre será uma pessoa com duas naturezas, humana e divina.

Que criança é essa na manjedoura, então? Ele é a criança que é o Filho enviado pelo Pai, o Filho que agora é e de agora em diante sempre será Deus e homem.

Ao longo desta série de três partes, refletimos nas respostas do apóstolo Paulo à pergunta educada, mas persistentemente colocada para nós na canção de Natal de William C. Dix, What Child is this? [“Que criança é essa?”]. Para todo o mérito das respostas encontradas na canção, precisamos ter certeza de que cremos que as Escrituras ensinam sobre o bebê na manjedoura. De acordo com o apóstolo, ele é o filho pelo qual todo o tempo havia esperado. Ele é o Filho nascido de mulher e nascido sob a lei. Verdadeiramente, esta criança não era apenas um bebê de festas e feriados: ele era e continua a ser o Filho Eterno enviado pelo Pai para nascer como aquela criança santa que cumpriria a maior comissão de todas, a de nos redimir dos nossos pecados e nos fazer herdeiros de Deus com ele.

 

Tradução: João Paulo Aragão da Guia Oliveira
Revisão: Yago Martins
Original: Christmas according to the Apostle Paul — Gal 4:4-5 (Pt. 3 of 3)


Autor: R. Fowler White

Dr. R. Fowler White serviu por quase duas décadas como professor e gestor em instituições teológicas. Ele contribuiu para diversos livros, incluindo By Faith Alone: Answering the Challenges to the Doctrine of Justification e Whatever Happened to the Reformation? [ambos sem tradução em português].

Parceiro: Ministério Ligonier

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