O texto abaixo foi extraído do livro As Crônicas de Olam – Vol. 3 – Morte e Ressurreição, de L.L. Wurlitzer, lançamento da Editora Fiel.
É só isso o que eu preciso fazer? — Perguntou Adin.
A proposta do cashaph soava como algo irreal. Adin ainda não conseguia entender as intenções do homem. Ele iria ser libertado?
— Você voltará até Thamam — confirmou o cashaph, andando ao redor do fosso, monitorando uma a uma as shoham escuras que estavam lá —, pegará o pergaminho e o trará até aqui. Quando tivermos todo o poder do Abadom, você e sua amada poderão ir conosco para o novo mundo.
Do outro lado do salão, Timna exibia um rosto tão surpreso quanto o de Adin por causa das palavras do homem. E isso deixava Adin ainda mais confuso com a proposta do cashaph.
— Que garantias eu terei de que vocês permitirão que nós os acompanhemos?
— Perguntou Adin, como para se mostrar interessado.
— Você conduzirá todo o processo — explicou o cashaph. — Portanto, como eu poderia impedi-lo de ir até o fim? No entanto, você só poderá fazer isso aqui. Essa é a garantia que eu tenho de que você voltará.
— Thamam nunca entregará o outro pergaminho para mim. Eu não conseguirei fazer isso.
— Você veio até aqui por causa desses pergaminhos — Télom tirou os dois pergaminhos da cintura e os mostrou. — Então, leve-os. Quando conseguir o outro, você sabe o que deve fazer.
Adin se espantou com a oferta do homem. Por um segundo, teve que se controlar para não se apossar dos artefatos imediatamente.
Timna se aproximou com um rosto estupefato, como se estivesse duvidando da sanidade mental de seu líder. Porém, manteve-se em silêncio.
Adin olhou para os dois pergaminhos na mão de Télom. Será que o homem realmente os entregaria? Será que deixaria que ele os levasse para Thamam? Estaria acreditando mesmo que ele trairia seus amigos? Ou será que era apenas um teste? Adin acreditou que logo seria colocado outra vez nas celas celestes.
— E se eu não conseguir pegar o outro pergaminho?
— Eu lhe darei uma pedra escura. Com ela, você poderá fazer tudo o que desejar.
— Parece justo — disse Adin, acreditando que, a qualquer momento, o homem soltaria alguma gargalhada de desprezo e o enviaria de volta à prisão.
— Então, o que você está esperando? Não temos muito tempo. Adin estendeu as mãos e segurou os dois pergaminhos.
— Temos um acordo? — Perguntou o cashaph antes de soltá-los.
— Sim — disse Adin.
Télom soltou os pergaminhos e Adin os contemplou. Ambos eram escritos por dentro e por fora, mas muitas coisas que estavam escritas neles só podiam ser lidas com uma lupa, e outras, nem uma lupa poderia decifrar. Eram muito semelhantes ao pergaminho que ele havia lido no oriente, após a chantagem do velho rei bárbaro.
Mesmo segurando os dois instrumentos, era difícil acreditar naquilo. O homem estava lhe dando o poder de decidir aquela guerra? Com os pergaminhos, Thamam poderia fechar o Abadom e aprisionar os shedins dentro dele novamente.
— Posso partir agora? — Perguntou timidamente, ainda sem conseguir acreditar que o homem permitiria aquilo.
— Eu acho melhor você voltar pelo mesmo lugar que entrou, pois os shedins podem desconfiar se, de algum modo, você for visto saindo de Nod livremente. O re’im que o trouxe até aqui está por perto, e será muito mais convincente se você sair pelos fundos, como um fugitivo, do que se sair pela porta de entrada.
— Está bem — concordou Adin, mesmo sentindo um frio na barriga só em pensar em deslizar outra vez pela canaleta até o poço da cachoeira.
— Os tannînins o perseguirão e isso tornará sua fuga ainda mais convincente. Voe o mais rápido que puder para o leste e retorne aqui em três dias. Esse é o nosso tempo limite. Use a pedra escura para convencer sua rainha a acompanhá-lo. Ela precisará dessa ajuda, pois mesmo desejando fazer isso, ela poderá resistir, uma vez que não compreende a realidade que nos cerca do mesmo modo como você compreende agora. Adin pegou a pedra escura da mão do cashaph. Era a primeira vez que via uma pedra como aquela tão de perto. Ao pegar a pedra, ele sentiu algo estranho em sua mente. Uma conexão se estabeleceu.
— E quanto à minha irmã? Ela também poderá vir comigo?
— Ela nunca aceitaria fazer isso, por causa do Olho de Olam. No fundo ela sabe que a pedra está se apagando mais uma vez, porém o senso de honra e dever pode ser mais forte. Além disso, ela ama o guardião de livros, e certamente não vai querer abandoná-lo. Agora vá. O tempo é curto.
— Obrigado — disse Adin.
— Não estou lhe fazendo um favor — respondeu Télom.
Adin assentiu e em seguida se pôs a subir as escadas que o levavam para a divisão das câmaras acima. Não olhou para trás, mas tinha a sensação de que a qualquer momento eles o impediriam apenas para rir dele, aprisionando-o mais uma vez. No entanto, continuou caminhando e não ouviu sons de calçados seguindo-o, mesmo quando ele começou a correr desesperadamente em direção ao túnel. Quando Adin alcançou a câmara divisória, deparou-se outra vez com a parede, onde leu o escrito dos kedoshins. Tudo parecia uma grande loucura.
Lá embaixo, junto ao fosso, Timna olhava espantado para Télom, mas parecia não ter coragem de questioná-lo.
— Não se preocupe — disse o cashaph. — Eu sei o que estou fazendo.
— Você o convenceu? — Perguntou Timna. — Ele vai fazer o que você quer?
— Nem por um minuto eu o convenci — disse Télom. — Mas ele vai fazer tudo o que eu quero.