domingo, 22 de dezembro
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O valor das ilustrações na pregação

O que as pessoas vêem, elas recordam

Uma ilustração é uma linguagem figurada que traz clareza ou discernimento a um assunto. É uma janela que permite a luz entrar em uma sala escura. Muitas pessoas não têm muita facilidade no manuseio das palavras. Acham difícil lidar com a lógica abstrata e a argumentação teórica. Argumentos profundos e consistentes deixam-nas confusas. Quando as palavras são usadas desta maneira, tais pessoas se sentem perdidas na escuridão. Alguém quer ajudá-las a ver? Será que alguém pode lhes dar um par de óculos infravermelhos? Ou melhor, uma tocha?

Muitas pessoas não podem entender muito bem alguma coisa, se não puderem vê-la em sua mente. Elas reagem positivamente a palavras que projetam imagens, mas consideram as palavras em si mesmas como algo monótono, obscuro e desinteressante. Os Arqueiros é um programa de rádio inglês que tem sido transmitido quase todos os dias por mais de cinquenta anos. Milhões de pessoas ainda o sintonizam. Elas ouvem as palavras dos atores, mas não vêem nada. Então, o que é tão atraente nesse programa? Divulga-se a si mesmo como “uma história diária do povo inglês”. Os seus fãs não estão sintonizados em um dilúvio de proposições abstratas, e sim em uma história que podem ver descortinada em sua mente.

Muitos pregadores são bastante críticos da cultura moderna, especialmente de sua dependência de linguagem figurada. Peço-lhes que enfrentem a realidade. Talvez não gostem da maneira como as coisas são. Mas precisam lembrar que esta é uma geração que precisa de linguagem figurada. E, o que há de errado nisso? As Escrituras contêm ilustrações em cada uma de suas páginas, e nosso Senhor as usou em todo o tempo.

O assunto das ilustrações exige nossa atenção urgente. Não precisamos ser semelhantes a radialistas que tentam comentar uma partida de futebol, quando os holofotes já se apagaram. Acenda as luzes! Mostre a Palavra de Deus em todas as suas cores e movimentos. Prepare suas ilustrações e, para comprovar seu valor, considere estes três pontos:

As ilustrações explicam a verdade

Esta é a razão porque o Senhor dizia frequentemente: “O reino dos céus é semelhante a… (Mt 13.24, 31, 33, 44-45, 47). Uma vez que uma ilustração se abrigue na mente de uma pessoa, tudo se torna claro.

Em Romanos 6 e 7, o apóstolo Paulo explica por que continuar no pecado é um absurdo para uma pessoa justificada pela fé. Eu mesmo, por exemplo, acharia difícil entender aqueles capítulos, se estivessem cheios de argumentos complexos e racionalizados. Mas não estão. Paulo fala sobre um escravo que morre para um senhor, mas é ressuscitado para servir a outro. Ele se refere a um mercado de escravos no qual você pode dizer quem é o senhor de cada servo. Fala a respeito de um casamento em que um cônjuge morre e deixa o outro livre para casar com outra pessoa. O apóstolo não usa nada mais do que palavras, mas nos fala por meio de figuras. E estas não somente nos ajudam a entender, mas também nos convencem do que ele está dizendo. Não devemos copiar o exemplo do apóstolo? Alguém conhece uma maneira melhor de explicar a verdade?

As ilustrações tornam a verdade atraente

Você já viu um pregador perdendo a atenção de seus ouvintes? As pessoas estão no templo, mas seus pensamentos estão em outro lugar. Repentinamente, elas se concentram, olham para o pregador e lhe dão toda a sua atenção. O que aconteceu? O que causou a mudança de atitude? Ele está usando uma ilustração!

Os pregadores nem sempre podem tornar tudo fácil. Algumas coisas na Bíblia são difíceis de entender. Mas as pessoas só podem ouvir coisas difíceis por um período limitado de tempo. Dê-lhes um descanso, um refrigério e, logo, estarão prontas para ouvi-lo novamente.

A maioria das pessoas da Suíça não vive em chalés, e sim em blocos de apartamentos. Quase todos os blocos de apartamentos têm um elevador — maravilha das maravilhas! — que quase nunca quebra. Mas, se quebrar, pode-se usar as escadas. Há dois lances de escadas para cada andar, e, onde os lances se encontram, há sempre uma cadeira! É difícil subir escadas, mas, se você parar e sentar na cadeira para descansar, descobrirá que, afinal de contas, subir escadas não é tão difícil. As ilustrações de um sermão são como essas cadeiras.

Se tivéssemos de fazer uma longa viagem em um breve período de tempo, acharíamos melhor ir por uma auto-estrada. Isso não é tão interessante como dirigir pelas estradas do interior. Na auto-estrada, cada quilômetro parece exatamente igual ao anterior. Depois de um tempo, cansamos da auto-estrada e paramos nos seus restaurantes e lojas de conveniência. Vamos ao banheiro, tomamos um cafezinho e passamos alguns minutos nas lojas. Assim, achamos que estamos prontos para continuar a viagem e desejamos continuá-la. O que aconteceu conosco? Descansamos e fomos revigorados. As ilustrações dos sermões são como essas paradas na auto-estrada.

Você já leu uma história para uma criança que assentou ao seu lado? A princípio, ela está interessada e se deleita com a história. Mas, depois de alguns minutos, começa a inquietar-se. Então, tudo muda: ela insiste que você prossiga. Você virou a página e a criança viu uma figura!

Visto que as ilustrações tornam a verdade atraente, elas também a tornam impressionante. Nosso Senhor poderia ter dito algo assim: “Não importa como você vive, nem onde, nem durante, ou por quanto tempo tem vivido assim, se você se voltar para Deus, Ele o receberá”. Mas estas não foram as suas palavras. Pelo contrário, Ele disse: “Certo homem tinha dois filhos…” (Lc 15.11). A parábola do Filho Pródigo imprime em nós a recepção do Pai de um modo que nenhuma outra afirmação poderia fazê-lo. Vemos a verdade, vemos com clareza e choramos de alegria.

Quando Davi pecou tão descaradamente contra o Senhor, com adultério e crime de assassinato, e meses se passaram sem que ele se voltasse para Deus em oração, Deus lhe enviou o profeta Natã. Este invadiu a presença do rei, apontou-lhe o dedo, com ira, e o denunciou? Não. Natã foi muito sábio no que fez. Seu alvo era restaurar o pecador caído, e não levá-lo a apostatar. Ele entrou com gentileza e contou uma história a Davi. Pouco depois, era o rei, e não o profeta, quem estava furioso. Contudo, milhares de anos mais tarde, ainda ficamos chocados com a autoridade de Natã, ao dizer: “Tu és o homem” (2Sm 12.7).

As ilustrações fazem com que a verdade fique gravada em nossa mente

O que você recorda do último sermão que ouviu? Algumas frases lhe causaram impacto? A linguagem o comoveu? Houve alguns exemplos brilhantes de argumentos persuasivos? Quais são as coisas que você recorda? Talvez não. Mas estou certo de que você, assim como eu, pode lembrar das ilustrações!

Muitos anos atrás, no início de meu ministério, recebi um convite especial para assistir o exame cadavérico de um fumante. O propósito era que eu ficasse tão chocado ao ver o que o tabaco faz aos pulmões das pessoas, que usaria minha influência ministerial para desestimular a prática de fumar em todos os lugares. Sou um homem frágil e provavelmente teria desmaiado, se tivesse assistido ao exame. Por isso, recusei o convite. Mas de uma coisa estou certo: se aceitasse o convite, teria ficado infinitamente mais impressionado pelo que teria visto do que por todas as estatísticas que já li a respeito de fumar. Recordamos aquilo que vemos. Esquecemos muito do que lemos e ouvimos.

Como pregadores, não usamos recursos visuais. Nosso Senhor nos chamou a trabalhar com palavras. Mas devemos usá-las para estimular o poder de imaginação que Deus outorgou às pessoas. Temos de colocar os olhos nos ouvidos das pessoas. Não há maneira melhor de atingirmos a sua mente.

Quando nos levantamos para pregar, temos diante de nós todos os tipos de pessoas. Elas são diferentes em raça, idade, cultura, educação, habilidades, conhecimento, caráter, temperamento e outras coisas mais. Todavia, podemos atraí-las com ilustrações bem ponderadas. Foi isso que nosso Senhor fez durante os dias que o levaram à crucificação. Um exemplo é a parábola dos lavradores maus que encontramos em Marcos 12.1-12, bem como as três parábolas em Mateus 25. Durante esse período, nosso Senhor falou a uma variedade de pessoas excessivamente ampla. Sua audiência incluía inimigos eruditos que não estavam presentes em seu ministério fora de Jerusalém. Ele lhes ensinou verdades desagradáveis que nunca esqueceriam!

Uma verdade lembrada pode cumprir seu objetivo muito, muito tempo depois de o sermão ter sido pregado. Quando eu tinha os meus vinte anos, li vários sermões de F. B. Meyer. Os sermões continham ilustrações que têm ajudado minha vida cristã até aos dias de hoje. De modo semelhante, minha alma continua a se alimentar dos sermões de Hywel Griffiths, de Bridgend, que foi indubitavelmente o maior pregador que já ouvi. Eu tinha vinte anos de idade quando o ouvi pela primeira vez, em uma de suas visitas anuais à nossa pequena vila no Sul do condado de Pembroke. E suas pregações, proferidas naquela época, ainda me fazem bem, quase todos os dias. Isso ocorre não porque as gravei em cassetes, e sim porque eu as recordo. Tenho escutado milhares de sermões através dos anos, e quase todos eles não se abrigaram em minha memória. Mas a pregação de Hywel Griffiths continua viva, primeiramente por causa de seu poder celestial (um assunto que abordaremos em outro capítulo) e, em segundo lugar, porque a pregação dele era ilustrativa do começo ao fim.

O que as pessoas vêem, elas o recordam. O que as pessoas vêem em sua mente, elas também recordam. Esta é a maneira como somos constituídos. Pessoas que têm se ausentado da igreja por muitos anos, mas que frequentaram a escola dominical quando crianças, ainda podem lembrar muitas histórias bíblicas. Portanto, podemos utilizar ilustrações em nossa pregação e ajudar os ouvintes a lembrar o evangelho.

Um dos livros que têm moldado meus pontos de vista sobre a pregação é Some Great Preachers of Wales (Grandes Pregadores do País de Gales), escrito por Owen Jones. Esse livro considera em detalhes vários homens cuja pregação poderosa resultou na conversão de milhares de pessoas e, consequentemente, transformou a nação. A parte mais proveitosa desse livro é sua introdução, na qual Owen Jones identifica cinco características que esses homens tinham em comum. É interessante observar que uma dessas características era a imaginação. Esses homens, em medidas diferentes, levavam os seus ouvintes a ver algo. Não podemos fazer o mesmo?

O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Pregação pura e simples, de Stuart Olyott, Editora Fiel.


Autor: Stuart Olyott

Stuart Olyott nasceu no Paquistão, em 1942. Foi criado na Ásia, Inglaterra e Pais de Gales. Pastoreou igrejas em Londres, Liverpool e Lausanne. Atualmente, é o Diretor Pastoral do Movimento Evangélico do País de Gales. Viaja por muitos lugares, servindo como preletor em conferências. É autor de vários livros.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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