quinta-feira, 28 de março

Os dois filhos de José

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Antes dos anos de fome, Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om, deu a José dois filhos.  Ao primeiro, José deu o nome de Manassés, dizendo: “Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai”. Ao segundo filho chamou Efraim, dizendo: “Deus me fez prosperar na terra onde tenho sofrido”. (Gn 41:50-52)

Em Adão toda raça humana rebelou-se contra Deus, o Criador dos céus e da terra. Mas Ele não desistiu de nós!  Ele escolheu e chamou a Abraão para formar uma nação através da qual viria o Messias, o Redentor. Bem, Abraão e Sara geraram Isaque; Isaque e Rebeca geraram Esaú e Jacó. Jacó, que teve seu nome mudado para Israel, gerou doze filhos, a saber: Ruben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulon, Dã, Naftali, Gade, Aser, José e Benjamim.

Neste artigo gostaria de considerar a vida de José por dois bons motivos. Em primeiro lugar, porque sua adolescência e juventude foram muito complicadas e traumáticas! Em segundo lugar, porque, apesar disto, ele se tornou um adulto resolvido, emocionalmente saudável e abençoador. Por isso, acredito que temos muito que aprender com sua experiência! Mas vamos por partes. Primeiro, consideremos os traumas que ele sofreu:

  1. Ele foi vítima da preferência paternal. Ele foi o “filhinho do papai”. “Ora, Israel gostava mais de José do que de qualquer outro filho, porque lhe havia nascido em sua velhice; por isso mandou fazer para ele uma túnica longa.” (Gn 37:3)
  2. Ele foi o objeto de ódio de seus irmãos. “Quando os seus irmãos viram que o pai gostava mais dele do que de qualquer outro filho, odiaram-no e não conseguiam falar com ele amigavelmente.” (Gn 37:4)
  3. Ele foi objeto de inveja espiritual. Deus o escolheu para ser uma benção e, através de sonhos, lhe mostrava Seus sonhos para sua vida. Por isto seus irmãos “o odiavam ainda mais!” (Gn 37:5)
  4. Ele foi objeto de violência familiar! Seus irmãos planejaram matá-lo! (Gn 37:18) Eles tiraram sua túnica colorida (23); jogaram-no num poço vazio (24); venderam-no como escravo aos ismaelitas (28); mancharam a túnica com sangue de bode e passaram para seu pai a ideia de que ele havia sido despedaçado por um animal selvagem (33).
  5. Ele foi traído, humilhado e torturado emocionalmente. Ele foi vendido como um escravo e levado para um país estranho (36).

Obviamente, isto tudo foi muito dolorido para o jovem José! Certamente isto marcou a sua alma! Afinal, qualquer um sabe da importância dos laços familiares no desenvolvimento de nossa autoestima, identidade e segurança. É através da convivência familiar que a gente desenvolve a capacidade de interação social; a compreensão do que seja companheirismo genuíno. É através da família que a gente aprende a dar e receber amor; a desenvolver tolerância e apreciação pelos outros; pedir e conceder perdão. Por isso José tinha tudo para ser um adulto amargurado, problemático, mal resolvido, emocionalmente desequilibrado!

Mas, milagres dos milagres! Em Gênesis 41:50-52, lemos que quando nasceu o seu primeiro filho ele o chamou de Manassés por causa de algo muito especial! Porque “Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai”. Ao segundo filho chamou Efraim, dizendo: “Deus me fez prosperar na terra onde tenho sofrido”.

O que isto tem a ver conosco?  Qual a mensagem que José tem a nos ensinar?

Primeira. Nós não podermos ter uma vida abençoada no presente enquanto não superarmos os traumas do passado! Os traumas do passado são como uma página usada e rasurada… que precisa ser virada!  Fernando Pessoa, poeta, filósofo e escritor português, escreveu:

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, a serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará. Não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora…

Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso estará apenas envenenando-o, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”.

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo! Por isso, vire a página!  Mude o disco!  Limpe a casa!  Sacuda a poeira!

É fácil entender a importância disto, o difícil é fazer isso do jeito certo pelos motivos certos.  Por isso, a segunda lição que precisamos aprender é esta: nós não podemos ter uma vida frutífera até que Deus nos ajude a superar as mágoas do passado!Em outras palavras: nós nunca poderemos ter uma vida frutífera (na terra da sua aflição) até que Deus nos dê um Manassés que nos ajude a superar as mágoas e traumas do passado.  Nós nunca poderemos experimentar um “Efraim” em nossas vidas, enquanto Deus não gerar um “Manassés” em nosso coração.  Por isso José declarou:

“Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai”.

“Deus me fez prosperar na terra onde tenho sofrido”.

Leitor, só Deus é poderoso para ajudá-lo a superar os traumas do seu passado! Não importa o que ou o quanto você já sofreu. Deus é poderoso para libertá-lo, para torná-lo frutífero no Seu reino. A inveja e ódio de seus irmãos abriram uma grande ferida no coração de José, mas Deus, na Sua graça, o curou completamente! Tanto é que no capitulo 50 vemos um milagre!  A grande reconciliação entre José e seus irmãos! Isto só foi possível por causa do nascimento de Manassés no capitulo 41. José só conseguiu perdoar seus irmãos porque Deus lhe fez esquecer todo o seu sofrimento!  Porque Deus curou as feridas da sua alma!

Você foi machucado e vive aprisionado por traumas do passado? Você carrega memórias difíceis de serem apagadas? Memórias que geram desânimo, amargura, depressão? Então você precisa desta libertação que só Deus pode conceder! Mas, o que fazer? A quem recorrer? Onde encontrar o seu Manassés? Acredito que a resposta está nesta profecia feita 700ac:

O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória. (Isaias 61:1-3)

Esta é uma profecia Messiânica! Ela declara que Jesus Cristo é o nosso Manassés! É Ele quem pode cuidar do seu coração quebrantado! É Ele quem pode libertá-lo dos seus muitos pecados contra Deus! E é Ele quem pode lhe dar graça para perdoar aqueles que pecaram contra você! É Ele quem pode consolar seu coração deprimido, enxugar todas as suas lágrimas! É Ele quem pode transformar seu pranto de tristeza num cântico de alegria! Num manto de louvor! Ele poderá transformá-lo num Carvalho de Justiça! Plantado pelo próprio Deus, para manifestação da Sua glória! Jesus Cristo pode fazer isto! Jesus Cristo é o nosso Manassés!!!

Mas alguém diria: “Meu problema não é o que outros fizeram contra mim… mas o que eu fiz contra outros!” Então, veja o exemplo de Saulo. Ele odiava a Cristo e perseguia seus seguidores. Ele participou do apedrejamento de Estevão, que morreu orando por ele. Imagino que esta e outras lembranças, à noite, queimavam em sua consciência. Mas quando Jesus, nosso Manassés, o encontrou na estrada para Damasco, Ele o perdoou de tal forma que Saulo passou a dizer: “esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:13-14)

Amigo, eu não sei o que você fez contra os outros. Mas eu sei que Jesus Cristo“… foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados.” (Isaías. 53:5) Por isso, clame a Deus por arrependimento. Confesse seu pecado.  Creia, confie e descanse em Cristo e no seu sacrifício perfeito pelos nossos pecados! E assim, deixe Manassés nascer no seu coração!

O livro da vida é feita de páginas que precisam ser viradas. José, o apóstolo Paulo e muitos outros cristãos através dos séculos, com a ajuda de Deus, superaram seus traumas e se tornaram como carvalhos de justiça, para manifestação da glória de Deus. Horatio Spafford foi um deles. Por volta de 1870, na cidade de Chicago, este advogado e sua esposa Anna serviam a Deus com alegria. Mas em 1871, eles perderam seu único filho homem, brutalmente consumido pelo grande incêndio da cidade de Chicago. Além de perder o filho, Horatio perdeu seus investimentos imobiliários. Então, em 1873, planejou viajar à Europa com sua família no SS Ville Du Havre, mas na última hora, ele precisou permanecer em seu país devido a um imprevisto profissional.

No dia 2 de novembro de 1873, atravessando o Atlântico, o SS Ville Du Havrecolidiu com um barco veleiro, o Loch Earn, matando 226 pessoas, inclusive as quatro filhas de Horatio Spafford. Sua esposa Anna sobreviveu e enviou-lhe um telegrama, “salva sozinha“. Assim que pôde, ele viajou para encontrar sua esposa aflita. Durante a viagem, enquanto o navio passava próximo ao local onde suas filhas foram sepultadas, ele escreveu esta poesia que revela um fortalecimento que só Deus pode dar:

Se paz a mais doce me deres gozar.
Se dor a mais forte sofrer,
Oh! Seja o que for, Tu me fazes saber,
que feliz com Jesus sempre sou!

Sou feliz com Jesus. Sou feliz com Jesus, meu Senhor!

Embora me assalte o cruel
Satanás,
E ataque com vis tentações,
Oh, sim certo estou, mesmo em tais provações,
Em Jesus acharei força e paz.

Sou feliz com Jesus! Sou feliz com Jesus, meu Senhor!

Jesus meu Senhor, ao morrer sobre a cruz.
Livrou-me da culpa e do mal;
Salvou-me Jesus, oh, mercê sem igual!
Sou feliz, hoje vivo na luz.
A vinda eu anseio do meu Salvador;
Em breve virá me buscar;
E então lá no céu vou pra sempre morar,
com remidos na luz do Senhor.


Autor: Sillas Campos

Sillas Campos é pastor da Igreja Batista Central de Campinas (SP). Formado em Teologia pelo San Diego Christian College (EUA) e mestrando em Teologia pela Liberty University.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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