quarta-feira, 17 de setembro
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Persevere até o fim na vida cristã

Sacrifício, serviço e crescimento espiritual

… reunindo toda a vossa diligência, associai […] com o domínio próprio, a perseverança… — 2 Pedro 1.5-6

No momento em que escrevo este livro, faz mais de 40 anos que sou cristão. Quando me lembro de todos esses anos, penso na importância da firmeza. Lembro-me de que, nos primeiros anos de minha caminhada com Cristo, muitos de meus colegas professavam a fé cristã. Foi como um avivamento! Se a taxa com que as pessoas se entregavam a Cristo naquela época tivesse continuado a mesma, provavelmente teríamos uma Zâmbia diferente agora. As igrejas cristãs certamente seriam diferentes. Muitos dos que cantaram louvores a Deus conosco ainda estão vivos, mas suas histórias são muito tristes. Em algum lugar ao longo do caminho, eles pararam de crescer e entraram em declínio. Eles pararam de acrescentar virtude à fé, conhecimento à virtude, domínio próprio ao conhecimento e perseverança ao domínio próprio. Hoje, eles são nada mais do que um alerta aos crentes mais jovens para que não sigam o mesmo caminho que tomaram.

Infelizmente, isso continua a acontecer. Muitas pessoas que atualmente estão mostrando muito potencial e são promissoras em todas as áreas da fé cristã acabarão por falhar nesta área: a perseverança. Daqui a 20 ou 30 anos, a vida delas exibirá o mesmo declínio. Por isso, é tão importante estudar o tema da perseverança. O apóstolo Pedro diz que devemos acrescentar perseverança ao domínio próprio. Vejamos o que exatamente ele tem em mente ao exortar os crentes a fazerem isso.

O que é perseverança?

Uma forma de entender uma palavra é simplesmente olhando para seus sinônimos. A palavra “perseverança” pode ser substituída por “firmeza”, “resistência”, “paciência” ou “constância”. Outra maneira de entender o significado de uma palavra é olhando para seus antônimos, seus opostos. O antônimo de “perseverante” é expresso por termos como “incerto”, “instável”, “indeciso”, “não confiável” e “vacilante”. Isso ajuda você a compreender o que Pedro diz aqui aos crentes: que não devem ser indecisos e vacilantes.

A palavra grega usada no texto original é hupomeno, que significa “permanecer debaixo de”. Nesse caso, significa ser constante sob pressão. Os que frequentam academia para desenvolver os músculos sabem o que isso significa. Eles levantam pesos e se esforçam para continuar treinando, mesmo quando seus músculos gritam por descanso. Os mais fracos fazem pausas mais frequentes e terminam o treino mais cedo. Eles não conseguem aguentar. Os que suportam a pressão por muito mais tempo tornam-se mais fortes por causa de sua perseverança. Essa qualidade espiritual é fruto do domínio próprio — daí a conexão feita no texto. Aqui ela significa um firme compromisso de perseverar a longo prazo, apesar da dor e do sofrimento.

A maioria de nós consegue correr. Se nos pedissem para correr entre um poste de luz e outro, até mesmo um velho poderia fazer isso. No entanto, se tivéssemos de correr entre duas cidades em uma maratona, apenas alguns chegariam ao fim. O segredo não é a velocidade com que você corre, mas a distância que você consegue correr. Isso é o que é falado aqui com respeito à continuidade do crescimento na vida cristã, até que nossa corrida na terra termine. É disso que se trata a perseverança.

A perseverança do cristão

Como aplicamos isso à vida cristã? Vamos começar com algumas más notícias. As tentações e provações nunca cessarão ao longo de sua vida aqui na terra. Elas continuarão a investir contra sua alma até que você morra. É aqui que a perseverança entra em cena. Em outras áreas da vida, você pode esperar um ponto final claramente definido. Quando está na escola, sonha com o dia da formatura, ocasião em que poderá deixar de lado para sempre toda a pressão dos exames e tarefas. Em algum momento de sua carreira, você se aposenta e pode aproveitar os frutos do seu suor pelo resto da vida. Não há necessidade de acordar cedo e sentir a pressão de cumprir prazos. No entanto, com relação à tentação e às provações, isso nunca acontecerá. Essa é mesmo uma má notícia.

Imagine que você é cristão há cinco anos e olha para pessoas que são crentes há cerca de três décadas. É muito comum que você pense nas tentações e provações pelas quais tem passado e imagine que, talvez, ao passar do décimo ou vigésimo ano de caminhada com o Senhor, essas pressões acabarão. Você imagina que os cristãos mais velhos conquistaram a vitória há muito tempo, de modo que agora simplesmente planam tranquilos em direção ao Céu. Nada poderia estar mais longe da verdade.

Perseverança significa nunca desistir, nunca ceder às tentações de Satanás e às provações do mundo. Você não deve se entregar nunca. Ao contrário, deve acrescentar perseverança ao domínio próprio. Todos nós podemos exercer autocontrole por um dia. Talvez até por uma semana ou um mês. Pedro diz que devemos ir além disso. Devemos perseverar até o fim da vida. Nosso crescimento espiritual deve ser uma busca constante, ao longo de toda a vida.

Imagine uma jovem cristã solteira. Ela consegue um novo emprego em uma empresa e imediatamente chama a atenção de vários homens em seu novo local de trabalho. Ela deixa claro, desde o primeiro dia, que é uma cristã que ama o Senhor. Apesar dessa afirmação, um homem incrédulo está determinado a romper essa barreira e namorar com ela. Inicialmente, assim que ela percebe sua atenção excessiva, nem quer conversar com ele. Mas ele não desiste. Passado um tempo, ela começa a gostar de suas piadas e seus elogios. À medida que o ano passa, ele começa a usar palavras charmosas ao se dirigir a ela, que responde com um sorriso. Ele lhe oferece carona para casa e muitas vezes sugere subir para tomar uma xícara de chá. Ela finalmente concorda, e o resto é história. O que aconteceu aqui? Sua resistência inicial e domínio próprio foram corroídos. Alguns meses depois, o presbítero de sua igreja a ouve dizer que quer se casar com esse homem, que ela sabe muito bem que não é cristão. Ela sabe o que a Bíblia diz sobre o jugo desigual, mas ainda quer ir em frente e se casar com ele. Talvez, a essa altura, ela possa até estar grávida dele. Ela não foi firme o suficiente para resistir à tentação. No início, ela se controlou, mas esse autocontrole não durou.

A razão pela qual cedemos à pressão é que estivemos carregando um peso por muito tempo, de maneira que os nossos músculos espirituais finalmente cederam. Eles gritam por descanso dessa tentação há algum tempo, e Satanás não dará trégua até que o desastre aconteça com você. Você rebaixa seus padrões morais — suas virtudes espirituais — para ter algum alívio, mas isso é o começo do fim. Você começa a justificar a queda de padrão, comparando-se com outros muitos cristãos ao seu redor que vivem em transigência e pecado. Você também começa a acusar Deus de falhar com você. A jovem em nosso exemplo pode dizer: “Se ele realmente me amava, por que não me trouxe um homem cristão? Esperei e orei por tanto tempo, sem nenhuma resposta de Deus. Eu, sinceramente, queria ter um excelente casamento cristão. Deus não cumpriu sua promessa. Então, optei por algo intermediário. Casar com um homem ímpio é melhor do que continuar solteira pelo resto da vida e sofrer assédio de todos os tipos de homens. Estou cansada de esperar.”

Tiago aborda esse mesmo assunto. Ele escreve: “Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima. […] Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo” (Tg 5.7-8, 11).

Também conhecemos a história de Jó. Ele literalmente perdeu tudo o que tinha, até mesmo seus filhos. Porém, em meio à dor da perda, disse: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1.21). Mais tarde, seus amigos foram consolá-lo, mas acabaram sendo tão úteis quanto buracos em um balde. Eles só pioraram seu sofrimento, acusando-o de transgressão. No entanto, em meio ao seu sofrimento e a algumas declarações imprudentes que fez, encontramos algumas verdadeiras joias de fé. Jó certamente era firme. Em certo momento, exclamou: “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro de mim” (Jó 19.25-27). Ele estava determinado a perseverar até o fim, fixando seu coração e mente no fato de que seu Redentor vivia e que, por causa disso, ele veria a Deus. O exemplo de Jó é um desafio para nós hoje.

Pelo fato de ter perseverado durante sua provação, Jó realmente cresceu espiritualmente. Cresceu em seu conhecimento e apreciação de quem era Deus. Quando o período da provação de Jó estava perto do fim, Deus o repreendeu sobre a maneira como ele havia começado a questionar a sabedoria divina. Deus disse que Jó estava se comportando como se pudesse fazer um trabalho melhor se governasse o universo. Deus perguntou onde ele estava quando a criação foi trazida à existência. Ele também perguntou a Jó onde ele está todos os dias, quando várias criaturas no mundo buscam provisão. No fim, Jó reconheceu que, por meio daquela experiência, agora conhecia melhor a Deus: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. […] Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.1-2, 5-6). Vemos, assim, que a perseverança não só nos capacita a termos domínio próprio por um longo tempo, como também nos torna cristãos melhores.

Precisamos crescer constantemente em nossa fé, virtude, conhecimento e domínio próprio. A trajetória da nossa vida espiritual deve ser sempre ascendente, apesar de alguns solavancos ao longo do caminho. Qualquer um que tenha convivido com você por um longo período deve ser capaz de ver que você é um cristão em constante crescimento.

Precisamos ser decididos e firmes a esse respeito. É por isso que você deve comprar e ler livros cristãos. É por isso que deve reservar um tempo para ler a Bíblia e orar diariamente. É por isso que deve organizar seu tempo de modo a ter comunhão com outros crentes. Você sabe que precisa desse calor extra de outros santos que estão andando com Deus para ser estimulado a continuar crescendo. Você sabe que isso exige tempo e esforço, e está disposto a pagar esse preço para continuar a crescer. Infelizmente, essa constância espiritual não é comum.

Como acrescentar perseverança ao domínio próprio

Como um cristão acrescenta perseverança à sua vida? A perseverança piedosa surge a partir da fé, da virtude, do conhecimento e do domínio próprio. Você não pode ser perseverante se, por exemplo, não praticar o domínio próprio. Qualquer um que já tenha feito progresso de verdade no campo do condicionamento físico dirá que, mesmo quando seus músculos gritam por descanso, continua se esforçando cada vez mais, até completar o treino que planejou para aquele dia. Ele desenvolveu sua capacidade de dizer “não” a si mesmo até atingir seu objetivo. Isso é domínio próprio, e a perseverança brota do solo dessa disciplina continuada.

Outra realidade é que a perseverança é uma consequência do conhecimento. O apóstolo Paulo escreveu aos romanos: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm 5.3-4). O apóstolo afirma que os cristãos podem se alegrar com seu sofrimento porque têm um determinado conhecimento. Que conhecimento é esse? É a compreensão de que o sofrimento produz perseverança. 

Também vemos Tiago defendendo a mesma ideia: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tg 1.2-4). Esse “sabendo” de que Tiago fala capacita o crente a considerar as provações como motivo de alegria. Ele sabe que a provação produz um cristão melhor. Sem esse conhecimento, um crente se desesperaria.

Pense, por exemplo, em uma mulher cujo marido lhe dá problemas em casa. De onde vem esse problema? É do marido? Sim, é. É também do diabo. No entanto, se ela parar por aí, não conseguirá perseverar. Ela precisa ir para um nível mais profundo. Precisa ter o conhecimento de que Deus permitiu que essa situação acontecesse para o seu próprio bem. Se ela não conseguir ver a mão de Deus em seus problemas, desenvolverá um sentimento de amargura em relação ao marido e acabará pecando contra ele e contra Deus.

Pense na situação de José, que foi vendido para ser escravo no Egito. Chegou um momento em que a situação se inverteu, e seus irmãos ficaram como mendigos diante dele, enquanto ele era o segundo homem mais poderoso do Egito. Se ele tivesse se tornado amargo por causa do que seus irmãos lhe haviam feito, essa teria sido sua oportunidade de aniquilá-los. Na verdade, seus irmãos pensaram que ele estava só esperando que o pai deles morresse para se vingar. Por isso, inventaram uma história de que Jacó tinha dito que José devia perdoá-los. Como José reagiu a tudo isso? Ele disse: “Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. Não temais, pois; eu vos sustentarei a vós outros e a vossos filhos. Assim, os consolou e lhes falou ao coração” (Gn 50.19-21). A perseverança de José em ser uma pessoa benevolente até mesmo com seus irmãos e suas famílias foi fruto de seu conhecimento da soberania e do amor de Deus. O mesmo deve ocorrer conosco. Se não crescermos em nosso conhecimento do Deus da providência, não conseguiremos perseverar nas provações.

Jesus deve ser nosso modelo de virtude. O escritor da carta aos Hebreus afirma que Jesus tinha um certo conhecimento que o capacitou a suportar corajosamente a cruz. Ele diz: “[Nós devemos correr] olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12.2). A alegria que estava colocada diante de Jesus era a sua glorificação e a recompensa final de sua obra redentora. Ela era o foco de sua mente quando ele foi para o Gólgota e, assim, alimentou sua determinação de suportar a cruz. Quanto a nós, o conhecimento das recompensas que nos aguardam na glória deve nos dar coragem e nos capacitar a perseverar nas provações. Também vemos o apóstolo Pedro usando esse ponto para exortar os cristãos sofredores de sua época:

Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente. (1Pe 2.21-23)

Jesus se concentrou em Deus como seu vindicador final. Foi isso que o fez sair vitorioso durante sua provação terrena na véspera de ir para a cruz. Ele deve ser nosso modelo. Quando temos esse conhecimento em nós, isso nos ajuda a perseverar em meio a todas as provações.

A falta de perseverança que tem caracterizado tantos cristãos não deve ter lugar na sua vida. Você não deve acabar como um exemplo negativo que sirva de advertência para a próxima geração de crentes. Infelizmente, muitos crentes professos com quem comecei minha vida cristã hoje me parecem navios danificados que estão no estaleiro. Eles não afundaram nas profundezas do mar, mas também não estão cruzando os oceanos, carregados de mercadorias. Pela falta de domínio próprio, eles não perseveraram quando ondas de tentações e provações bateram com força contra eles.

A igreja de amanhã precisa de líderes maduros e piedosos, que tenham sido testados e provados pelas tentações e tenham saído delas com passos mais firmes em sua caminhada com Deus. Sim, a igreja de amanhã precisa de missionários e pastores que exponham fielmente a mensagem de Deus diante do mundo e a exemplifiquem em sua própria vida. Isso não acontecerá sem a virtude da perseverança. Que os crentes de hoje estejam à altura do desafio de serem firmes e perseverantes. Se isso acontecer, teremos um amanhã mais luminoso.


O artigo acima foi retirado e adaptado com permissão do livro Crescimento Espiritual – Como alcançar a maturidade em Cristo, de Conrad Mbewe, em breve pela Editora Fiel.


Autor: Conrad Mbewe

Pr. Mbewe é pastor da Igreja Batista Kabwata em Lusaka, Zâmbia. Foi preletor da Conferência Fiel no Brasil, autor de vários artigos e faz parte do núcleo da Reforma África Austral. É conhecido pelo seu amor para com o Senhor e fidelidade à Sagradas Escrituras. Veja o seu artigo na revista “Fé Para Hoje”, nº16, com o título “Pureza Pastoral”.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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