“Se você tivesse que fazer isso tudo de novo, ainda o faria?”.
Esta parece uma pergunta que você poderia fazer a alguém que acabou de ser condenado por um crime, e é uma que foi feita a mim nesta manhã. Meu crime? Enviar trinta e sete de nossos melhores membros, junto com dois de nossos melhores presbíteros, para plantar uma igreja. O questionador? Um presbítero de uma nova plantação de igreja em Dubai. Acabei de compartilhar com ele o quanto nossa última plantação de igreja nos custou.
Sempre podemos encontrar razões, mesmo boas, para não plantar uma igreja. E, ainda assim, a necessidade de plantação de igrejas em minha cidade (Austin, Texas) supera em muito quaisquer efeitos adversos que possamos enfrentar.
Nossa necessidade de plantar outra igreja
Não precisávamos plantar outra igreja porque estávamos lotados. Ainda temos muito espaço em nosso prédio. Não plantamos outra igreja porque possuímos recursos financeiros abundantes. Temos uma dívida enorme que paira como uma pedra de moinho ao redor de nossos pescoços. Antes, precisávamos plantar uma igreja por motivos pastorais e evangelísticos.
Em primeiro lugar, tínhamos um número significativo de membros que estavam vindo do noroeste de Austin para se reunir conosco a cada semana. Isso significa no mínimo trinta minutos de carro para a maioria deles. Quando os membros vivem tão longe, é difícil pastorear “o rebanho de Deus que há entre vós” (1Pe 5.2). Temos dificuldades para fomentar a comunidade evangélica entre nossos membros, porque a distância se tornou um obstáculo logístico. Em segundo lugar, os membros que viviam longe consideravam difícil construir relacionamentos evangélicos com os vizinhos e convidá-los para os nossos encontros.
Mas não somente nós precisávamos plantar uma igreja, a nossa cidade precisava que nós plantássemos outra igreja. Entre 2005 e 2015, a população de Austin cresceu quase 38%, passando de dois milhões de pessoas. Na verdade, de 1º de julho de 2015 a 1º de julho de 2016, a população de Austin aumentou em 58.301. Isso é cerca de cento e sessenta e quatro pessoas por dia. Esse crescimento significa que os esforços de plantação de igrejas em nossa cidade não estão acompanhando o crescimento populacional. Em nosso contexto, não podemos admitir NÃO plantar uma igreja.
Nosso risco calculado ao plantar outra igreja
Então, ao entender nossas preocupações pastorais e evangelísticas, e a necessidade de nossa cidade, nos arriscamos de modo calculado e plantamos outra igreja. Nunca há um bom momento para plantar uma igreja. Você sempre encontrará razões válidas, até mesmo lógicas, para descartar isso. Em nosso caso, contudo, percebemos que muitas das nossas razões para não plantarmos estavam fundamentadas no temor. Estávamos com medo de perder membros, finanças e líderes.
Para nossa surpresa, sentimos os efeitos de plantar uma igreja quase que imediatamente. Antes, tínhamos oito presbíteros para pouco mais de quinhentos membros. Em dezembro, antes de plantarmos, um de nossos presbíteros saiu do quadro de presbíteros. Em fevereiro do ano seguinte, nossa nova igreja realizou as suas primeiras reuniões públicas. Em um período de pouco mais de dois meses, passamos de oito presbíteros para cinco. E uma vez que a plantação da igreja recebia oficialmente novos membros, removemos aqueles que enviamos a partir de nossa membresia: um total de trinta e sete.
Não me interprete mal. Não estávamos apenas interessados ??em números. Mas esses números representavam alguns dos nossos melhores membros e maiores doadores. Em consequência, durante o ano seguinte, começamos a sentir o vazio. Nossos cinco presbíteros restantes tiveram dificuldades em cuidar dos nossos quase quinhentos membros. Embora tenhamos sido sábios em reduzir o nosso novo orçamento em 10% devido à perda calculada de renda, as nossas ofertas não foram tão grandes quanto esperávamos. Nesse aspecto, plantar aquela nova igreja pareceu uma decisão insensata.
Então, se tivéssemos que fazê-lo de novo, ainda o faríamos? Com certeza!
A bênção de plantar uma igreja
Como sempre, Deus é fiel. Quando enviamos trinta e sete dos nossos melhores membros em fevereiro de 2015, rogamos a Deus que nos enviasse trinta e sete novos membros no próximo ano. O Senhor respondeu as nossas orações. Ele deu o crescimento (1Co 3.6) e, no fim de 2015, recebemos setenta e quatro novos membros. Ao observar a bondade de Deus, fomos encorajados em nossa decisão de plantar uma igreja. Se não tivéssemos plantado uma nova igreja, teríamos perdido a alegria da oração respondida por novos membros.
Infelizmente, a adição de novos membros não compensou nosso déficit financeiro. Pensamos que reduzir o nosso orçamento em 10%, juntamente com o acréscimo de novos membros, atenderia às nossas necessidades financeiras. Estávamos errados.
Mas, novamente, Deus é fiel! Vários meses depois do nascimento da nova igreja, eles tinham mais dinheiro do que nós. Compreendendo a nossa situação financeira, eles solicitaram que nós deixássemos de fornecer suporte financeiro. Embora tenhamos nos regozijado com a liberdade financeira e agradecido a sua generosidade, esse alívio financeiro não foi suficiente para que nossa igreja deixasse de ter dificuldades financeiras. No segundo ano de nossa nova igreja plantada, nos encontramos em um déficit financeiro significativo.
Estávamos aproximadamente com um déficit de $ 130.000,00 em nosso orçamento. Depois de muita deliberação, nossos presbíteros concordaram em ir diante da congregação e informá-los sobre nossa necessidade. Além de nossa necessidade semanal normal de cerca de $ 28.000,00, os presbíteros propuseram uma oferta especial de um dia com um objetivo de $ 100.000,00. Pela graça de Deus, nossos membros responderam em generosidade transbordante. Recebemos pouco mais de $ 105.000,00 pela oferta especial e cerca de $ 48.000,00 pela nossa oferta semanal regular. Se não tivéssemos plantado uma nova igreja, nunca conheceríamos a graça de Deus através da generosidade de nossos membros (2Co 8.1-5).
Por fim, ainda precisávamos de mais líderes (2Tm 2.2). Por causa do fardo de tão poucos presbíteros cuidando de tantos membros, rogamos a Deus por mais presbíteros. Como sempre, continuamos a identificar homens qualificados para serem presbíteros na congregação. Mas, agora, percebemos uma maior urgência. Tendo orado regularmente e provado homens diligentemente, identificamos vários homens mais jovens em nossa congregação que estavam qualificados. Um ano após a plantação da igreja, o presbítero que havia saído retornou, fazendo-nos ficar com seis presbíteros. Também identificamos outros cinco homens que acreditamos serem qualificados. Embora, por várias razões, dois desses homens não pudessem servir naquele momento, três deles puderam. Em relação ao ano que vem, a igreja confirmou três deles e hoje temos nove presbíteros. Se não tivéssemos plantado uma igreja, talvez não teríamos levantado esses homens com urgência, mas cada um desses irmãos tem provado ser um acréscimo valioso para nosso presbitério.
Conclusão
Não tenho dúvida de que deveríamos fazer tudo de novo. Esta é a nossa terceira plantação de igreja. No fim de 2017, esperamos plantar uma quarta — uma congregação etíope que atinja a população de língua amárica em Austin.
Certamente, nem todos os contextos são os mesmos; nem todas as cidades estão crescendo como Austin; nem todas as igrejas serão abençoadas do mesmo modo. Mas, depois de plantar essas igrejas, o Senhor nos ensinou que não apenas a nossa cidade precisa que nós continuemos plantando igrejas, mas, para a saúde de nossa igreja, nós precisamos continuar plantando igrejas. E isso seria verdade tanto se continuássemos a crescer, aumentar o nosso orçamento e crescer em abundância de novos líderes, quanto se isso não acontecesse. Independentemente dos custos e efeitos da plantação de igrejas na igreja que realiza a plantação, o Senhor sempre é fiel.
Tradução: Camila Rebeca Teixeira
Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva
Original: The Calculated Risks of Church Planting: Sending Your Best Members and Elders