“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo” (Fp 3:7). Com estas palavras, o apóstolo Paulo enfrenta a oposição que afetava a igreja em Filipos (Fp 1:28; 3:2, 18).
Seus opositores orgulhavam-se da circuncisão (3:2); gloriavam-se em ser judeus e detentores dos rituais; afirmavam possuir a justiça baseada na lei (3:9) e conduziam a igreja no enfrentamento de alguns erros sérios, como: achar que tinham atingido a perfeição nesta vida (3:15) ou alimentar a presunção e vaidosa superioridade (2:3) que induziam ao egoísmo.
Diante disso, o apóstolo Paulo defende a igreja dos falsos pastores e das falsas doutrinas, apelando para o que movia sua vida e interesses. Seu alvo era ajudar a igreja a buscar valor naquilo que era importante e não na pressão exercida pelos opositores, que supervalorizavam títulos e posições.
O apóstolo Paulo afirma que nada pode ter mais valor do que Cristo na vida do salvo (7-8). A valorização dos judeus não era legítima (vv.4-6), portanto o único lucro deveria ser o Senhor Jesus. Esse termo “lucro” é plural, sugerindo que Paulo ajunta todos os privilégios e reivindicações da seção precedente, coloca tudo num pacote e depois, surpreendentemente, considera tudo como perda.
A motivação do apóstolo o levou a tomar uma atitude diária firme e não neutra, pois ele rejeitou, com desprezo, qualquer posição que tentava sobressair-se a Cristo em sua vida (v.8).
O que se entende é que “meias medidas” não adiantam. A vida cristã não fará sentido se Cristo não for o sentido dessa vida!
Outra descoberta do apóstolo é que nada pode ser mais desejado do que Cristo na vida do salvo (8b-11). A fé consiste em conhecer a Cristo, e esta íntima união com o Senhor ressurreto só é possível quando se compartilha Seus sofrimentos, tornando-se como Ele em Sua morte ou na comunhão dos seus sofrimentos. Por isso, “alcançar a ressurreição dos mortos” trata-se de uma convocação para que se conheça a Cristo numa vida de serviço, sofrimento e em labutas difíceis, iguais aos que ele próprio estava experimentando no decurso de sua obra apostólica.
A pergunta crucial para nossa geração – e para cada geração – é: se você pudesse ter o céu, sem doenças, com todos os amigos que tinha na terra, com toda a comida que gostava, com todas as atividades relaxantes que já desfrutou, todas as belezas naturais que já contemplou, todos os prazeres físicos que já experimentou, nenhum conflito humano ou desastres naturais, ficaria satisfeito com o céu, se Cristo não estivesse lá? (Piper, Deus é o Evangelho, p. 14)
O interesse em Cristo, maculado pelos interesses pessoais, invalida a fidelidade do salvo. Jesus não pode nem deve ser usado como um trampolim para buscas particulares. Quando o salvo entende que vive por causa de Cristo e para sua causa, ele abre mão de suas próprias causas, para glorificar Aquele que está acima de todos os interesses humanos.
A Palavra de Deus nos convoca a crer e a afirmar como Paulo: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo”. Jim Ellyot, missionário assassinado pelos índios Alcas, no Equador, disse certa vez: “Aquele que dá o que não pode guardar, para ganhar o que não pode perder, não é tolo”. Abrir mão de privilégios, autojustificação, desejos terrenos é essencial no processo de viver para a glória de Deus.