O texto abaixo foi extraído do livro 40 questões para se Interpretar a Bíblia, de Rob Plummer, lançamento da Editora Fiel.
Apelando à mesma Bíblia, cristãos, mórmons e testemunhas de Jeová podem chegar admiravelmente a conclusões divergentes. Por exemplo, os cristãos creem que há um único Deus, o Deus trino (Pai, Filho e Espírito Santo), que existe e existirá para sempre. Os mórmons podem citar versículos para asseverar que o Deus da Bíblia é apenas um entre inúmeras deidades e que nós mesmos, se masculinos, somos também deuses. Testemunhas de Jeová afirmam que é blasfêmia dizer que Jesus ou o Espírito Santo é uma pessoa divina. Até pessoas que confessam o nome de cristão debatem veementemente se a Bíblia condena o comportamento homossexual. Em outro nível, cristãos genuínos podem ficar admirados depois de lerem um texto do Antigo Testamento que regulava doenças de pele infecciosas ou redistribuição de terra no antigo Israel (ver Questão 19, “Todos os mandamentos da Bíblia se aplicam hoje?”). Como esses textos são aplicáveis hoje? Evidentemente, não basta dizer: “Eu creio na Bíblia”. A correta interpretação da Bíblia é essencial.
O que é interpretação?
Interpretar um documento é expressar seu significado por meio de falar ou de escrever. Envolver-se em interpretação presume que há, de fato, um significado correto e um significado incorreto de um texto, e que devemos ter cuidado para não interpretarmos errado esses significados. Quando lidamos com as Escrituras, interpretar apropriadamente um texto significa comunicar, de modo fiel, o significado do texto do autor humano inspirado, embora não negligenciando a intenção divina (ver Questão 3, “Quem escreveu a Bíblia – humanos ou Deus?”).
As escrituras mostram a necessidade de interpretação bíblica
Vários textos na Bíblia demonstram claramente que há tanto uma maneira correta como uma maneira incorreta de entender as Escrituras. Em seguida, oferecemos alguns exemplos desses textos, com breve comentário.
2 Timóteo 2:15: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Nesse versículo, Paulo exorta Timóteo a manejar bem ou “interpretar corretamente” (orthotomounta) a palavra da verdade, ou seja, as Escrituras. Essa advertência subentende que as Escrituras podem ser manejadas ou interpretadas de maneira incorreta.
Salmos 119:18 “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei”. Aqui, o salmista rogou que o Senhor lhe permitisse entender e se deleitar no significado da Escritura. Essa súplica mostra que a experiência de entendimento prazeroso da Escritura não é universal.
2 Pedro 3:15-16 “Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca desses assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles”. É claro, nas instruções de Pedro, que é possível distorcer o significado da Escritura. E, em vez de aprovar essa liberdade interpretativa, Pedro diz que perverter o significado da Escritura é um pecado de consequência séria.
Efésios 4:11-13 “Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”. Se as Escrituras fossem entendidas automaticamente por todos, não haveria necessidade de mestres capacitados por Deus para instruir e edificar a igreja. A provisão de Deus de um ofício de ensino na igreja demonstra a necessidade de pessoas que possam entender e explicar corretamente a Bíblia.
2 Timóteo 4:2-3 “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”. As instruções de Paulo a Timóteo mostram que há uma maneira correta de pregar a revelação da Escritura e que também haverá corruptores dessa revelação.