sexta-feira, 3 de maio

Por que Deus nos amaldiçoou?

O propósito da maldição tendo a redenção em vista

A esta altura, você pode estar se perguntando: por que Deus faria isso? Não teria sido melhor fulminar Adão e sua mulher do que submetê-los a essa tortura? Mas, desde o princípio, Deus tinha planos para nossa redenção, de modo que até mesmo suas maldições são projetadas tendo a redenção em vista.

Lembra-se de como Adão aceitou o fruto de sua esposa, preferindo o dom ao Doador ao comer da mão dela? Por meio de suas maldições, Deus rejeitou o próprio arranjo que Adão estava tentando estabelecer: alegria no casamento fora da submissão à autoridade de Deus. Suas maldições diziam: “Você não pode desfrutar o casamento sem devolver seu coração a mim!”. As maldições de Deus sobre o relacionamento foram o veneno para o qual só o próprio Deus era o antídoto. Por isso o casamento praticamente não tem solução à parte da graça de Cristo, e o divórcio é tão desenfreado. As lutas que os homens e as mulheres experimentam no casamento são pensadas por Deus para nos conduzir aos nossos joelhos e às nossas Bíblias, a fim de que coloquemos Deus de volta no centro de nossas vidas. A prova de que as maldições de Deus tinham caráter de redenção é encontrada nas próprias maldições — especificamente em uma maldição anterior àquelas dadas à mulher e ao homem. Após condenar a serpente a rastejar pela terra por toda a sua vida, Deus deu esta maldição a Satanás: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).

A primeira parte dessa maldição garante que sempre haveria descendentes piedosos de Adão e sua esposa em oposição à descendência ímpia; Satanás nunca teria sucesso em ganhar toda a humanidade para sua causa profana. Porém, o mais significativo aqui é a promessa de Deus a respeito de uma semente particular da mulher: “Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Aqui está predita a derrota final de Satanás pelo Senhor Jesus Cristo, que nasceria de uma mulher e sofreria o ferimento do ataque de Satanás ao ser pendurado na cruz. No processo, porém, Jesus esmagaria a cabeça de Satanás, destruindo o alicerce do reino de Satanás ao sofrer a ira do Pai e morrer para nos libertar dos pecados.

Também podemos ver a graça redentora de Deus sobre o homem e a mulher em sua ação logo após pronunciar suas maldições: “Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu” (Gn 3.21). Deus dissera que, se Adão pecasse, haveria morte no jardim (Gn 2.17) e, de fato, houve. Mas foi um substituto que pagou a penalidade pelo pecado de Adão, já que ele e a mulher foram vestidos com peles de animais inocentes e imaculados. Aqui foi prefigurada a obra expiatória de Jesus, o Cordeiro que um dia morreria por nossos pecados (Jo 1.29). Aqui também vemos a imputação da justiça de Cristo — Deus nos revestindo da inocência de Cristo —, a fim de que o homem e a mulher, por meio da fé na promessa de um Salvador, pudessem estar diante de Deus e receber sua bênção. De fato, foi só depois disso que Adão decidiu o nome de sua esposa, e eu acho provável que esse nome tinha a intenção de expressar sua fé em comum na promessa de Deus de que o Messias viria pelo seu ventre: “E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos” (Gn 3.20).

Nossa esperança de renovação

Ao nos prepararmos agora, no final deste capítulo e ao longo do próximo, para considerar o ensino do Novo Testamento a respeito do casamento, vamos recapitular o que aprendemos em Gênesis 2 e 3 sobre pecado e redenção:

• Existe um padrão nos efeitos do pecado. O pecado tende a nos separar uns dos outros, assim como nos separa de Deus. O pecado traz culpa e, com a culpa, vem a incapacidade de confiar nos outros ou de permitir que se aproximem.

• A maldição de Deus sobre as mulheres faz com que tenham um desejo nocivo de possuir e até mesmo controlar os homens, cujo resultado inevitável é o conflito conjugal. O homem, chamado para cultivar e guardar o jardim, é tão absorvido por seu trabalho e lazer que dá pouca atenção à esposa.

• Toda essa luta dentro de nós e em nosso meio é planejada por Deus para nos atrair de volta para si mesmo quando olhamos para Jesus em busca de perdão e retidão. Quando lançamos fora as folhas de figueira de nossa justiça própria e deixamos de transferir nossa culpa aos outros, confessando nossos pecados e nos revestindo com a justiça de Cristo, Deus traz cura para nós e nosso relacionamento humano mais próximo e mais importante, nosso relacionamento conjugal com uma mulher.

Então, se o começo da história é realmente trágico e destrutivo, o fim é alegre e redentor. Acho que o apóstolo Paulo fez o melhor resumo de nossa esperança de renovação e restauração como cristãos. Ele escreveu em Colossenses sobre as bênçãos que Deus nos concedeu em Jesus Cristo, referindo-se a nós como “eleitos de Deus, santos e amados”, e perdoados de nossos pecados pelo Senhor (Cl 3.12-13).

Estes são os recursos da graça que Deus nos deu: ele nos escolheu em Cristo para a salvação, nos separou para a salvação e para uma nova vida, e colocou seu amor paternal sobre nós como filhos queridos. À luz da bênção restaurada de Deus por nós em Jesus Cristo, Paulo nos vê finalmente capazes de restaurar nosso relacionamento com outros cristãos, especialmente expondo a resposta da graça que, agora, podemos estender às nossas esposas: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de taldiçãoernos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3.12). Essas são as mesmas coisas que o pecado tenta impedir que eu ofereça — lembra-se de como o pecado fez com que Adão condenasse sua esposa com a finalidade de acobertar seu próprio pecado? Mas agora, perdoado e santificado por Deus em Cristo, um homem cristão é capaz de ter misericórdia, bondade, humildade, mansidão e longanimidade em relação à sua esposa (e vice-versa).

Quanta diferença isso faz! Paulo continua: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente” (Cl 3.13).

Consciente de que fui maravilhosamente perdoado através do sangue de Cristo, agora tenho a capacidade de perdoar os outros que pecam ou me decepcionam, assim como minha esposa agora graciosamente me perdoa. “Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, rica- mente, em vós a palavra de Cristo” (Cl 3.14-16).

Você vê como a maldição do pecado é redimida em Cristo? Esses versos não servem apenas para dar valor sentimental a guardanapos de casamento e quadros em paredes. Pelo contrário, eles são a agenda palpável da graça restauradora de Deus. Eu não tenho de esperar até entender completamente minha esposa para amá-la. Em Cristo, não tenho licença para reter meu amor até que ela mude de acordo com minha agenda egoísta. Sou livre em Cristo, através dos recursos da graça redentora de Deus para mim, para amar minha esposa. Porque Deus me perdoou, posso verdadeiramente perdoá-la. Porque Deus me deu, posso alegremente dar a ela. Com a compaixão de Deus por mim, tenho compaixão para dar; com a graça de Deus, posso mostrar graça. E, com a Palavra de Deus habitando em nosso relacionamento, minha esposa e eu podemos crescer nessa graça para aprendermos cada vez mais a amar um ao outro, enquanto, gradativamente, extraímos mais das fontes do amor salvador de Deus por nós.

Como eu disse no capítulo anterior, conhecer faz toda a diferença. Ajuda muito conhecer o que deu errado com a humanidade e com homens e mulheres em particular. Mas ajuda muito mais conhecer a graça que Deus tem para nós através da fé em Jesus, o Cordeiro que tira o nosso pecado. Deus quer que conheçamos seu valor como Doador, para que ele esteja no centro de toda a nossa adoração e vida. Quando retornamos a ele pela fé em Cristo e o colocamos no centro de nossas vidas e casamentos, Deus tem uma graça abundante para nós darmos a outros como Deus nos deu.


Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro “Homens de verdade”, de Richard D. Phillips, Editora Fiel.

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Autor: Richard D. Phillips

Richard D. Phillips servir por trinta anos no exército até que o Senhor o chamou para o ministério pastoral. Doutor em Divindade pela Greenville Presbyterian Theological Seminary, Phillips serve como ministro sênior da Second Presbyterian Church, em Greenville, Carolina do Sul, EUA, e é membro do conselho do The Gospel Coalition.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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