sábado, 12 de abril
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Por que os cristãos devem estudar ética?

O estudo da ética centrada em Deus e na Bíblia

Por que os cristãos devem estudar ética? Isto é, por que devemos nos envolver no processo de reunir e resumir o ensinamento de diversas passagens bíblicas sobre questões éticas específicas? Por que não é suficiente simplesmente continuar a ler a Bíblia com regularidade todos os dias de nossas vidas?

A principal razão. Ao responder essas questões, precisamos tomar cuidado para não defender uma razão para estudar a ética cristã que sugere podermos, de alguma maneira, “melhorar” a Bíblia, organizando melhor os seus ensinamentos éticos ou explicando-os de uma maneira melhor do que a explicação oferecida pela própria Bíblia. Se fizermos isso, corremos o risco de, implicitamente, negar a clareza ou suficiência da Escritura (veja o capítulo 2). A principal razão que temos para estudar a ética é a de conhecer melhor a vontade de Deus para nós. Diversas partes do Novo Testamento nos ensinam que devemos viver em obediência à vontade de Deus. Por exemplo, Jesus ensinou que seus seguidores devem guardar seus mandamentos:

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. (Mt 28.19-20)

Se me amais, guardareis os meus mandamentos. (Jo 14.15)

Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço. (Jo 15.10; veja também Rm 13.9; 1Co 7.19; 1Jo 2.3-4; 3.22, 24; 5.2-3; Ap 12.17; 14.12)

Mas, para guardarmos os mandamentos de Jesus, precisamos saber quais são seus mandamentos, entender qual é a aplicação deles nas atuais circunstâncias e conhecer o pano de fundo do Antigo Testamento e as explicações adicionais das epístolas do Novo Testamento.[1] Esse é o estudo da ética cristã.

As epístolas do Novo Testamento também trazem instruções para os leitores, as quais se parecem muito com chamados para que se estude a ética:

E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Rm 12.2)

…provando sempre o que é agradável ao Senhor. (Ef 5.10)

E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus. (Fp 1.9-11)

Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus. (Cl 1.9-10)

…por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento. (2Pe 1.5)

Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos. (1Jo 5.3)

Os benefícios que provêm do estudo da ética cristã. A esta altura, alguém pode questionar: “sim, Jesus e os escritores do Novo Testamento nos dizem que devemos aprender e guardar os mandamentos de Deus, mas por que isso deve ser realizado dessa maneira específica, reunindo e estudando grupos de textos bíblicos que lidam com um determinado assunto?” “Por que”, outro pode questionar, “eu não posso aprender sobre a vontade de Deus e sobre a obediência aos mandamentos de Jesus simplesmente lendo a Bíblia com frequência? Por que ler um livro sobre ética ou fazer uma aula específica sobre ética cristã?”

Em resposta, eu concordo que ler a Bíblia com regularidade é muito benéfico, especialmente a leitura constante da Bíblia inteira. Ao fazer isso, muitos cristãos ao longo da história levaram vidas maravilhosas, que verdadeiramente glorificaram a Deus. Eles foram amorosos com as pessoas e demonstraram um alto padrão de integridade pessoal, o que resultou em uma colheita espiritual com muitos frutos para o Reino de Deus.

Contudo, há benefícios significativos que provêm do estudo de questões éticas de maneira focada, além da leitura bíblica sequencial ou de simplesmente estudar passagens ou livros individuais.

  1. Adquirindo uma compreensão mais apurada da ética: Todo cristão que lê este livro já tem uma série de convicções, opiniões e ideias éticas sobre o que é moralmente certo e errado. Essas convicções éticas têm diversas origens — um instinto moral interno (que Deus dá a todos os seres humanos: Rm 1.32; 2.14-16), a educação familiar, as escolas, as tradições e as convicções culturais. Cristãos também formam suas convicções éticas a partir da leitura pessoal da Bíblia, dos sermões que ouvem e das conversas com os amigos.

Minha esperança é que este livro contribua para que os cristãos desenvolvam uma perspectiva mais apurada da ética de três maneiras:

  1. Substituindo convicções éticas instintivas por convicções éticas bem-informadas:Euespero que os cristãos que já têm posicionamentos éticos que são consistentes com a Escritura substituam convicções instintivas por convicções bem-informadas. Por exemplo, uma pessoa que lê o capítulo 21 talvez avance de uma convicção instintiva de que o aborto é moralmente errado para uma convicção bem-informada, inclusive entendendo de que maneira diversas passagens da Bíblia e fatos médicos sustentam essa convicção. Um leitor assim adquiriria uma compreensão melhor de algumas questões mais amplas, como a aplicação de diferentes passagens da Escritura a diversas situações médicas e se existem situações em que essas passagens não se aplicam.
  2. Substituindo convicções éticas imprecisas por convicções éticas precisas: Eu espero que os cristãos que têm um entendimento vago ou impreciso sobre uma determinada questão (por exemplo, o divórcio e o novo casamento, que são assuntos tratados no capítulo 32) cheguem a um entendimento mais preciso e bem definido de como os ensinamentos da Bíblia se aplicam à questão (por exemplo, diversas situações específicas relacionadas ao casamento, ao divórcio e ao novo casamento).
  3. Substituindo convicções éticas antibíblicas por convicções éticas Bíblicas: Eu espero que os cristãos que têm um entendimento incorreto dos padrões morais da Bíblia (como eu defendo, no capítulo 12, ser o caso de muitos cristãos em relação à mentira e à verdade) sejam convencidos a mudar de posição e a adotar uma convicção moral que é mais fiel à Escritura.

Por causa da grande quantidade de assuntos que são tratados em um estudo de ética e por causa da maneira detalhada como esses assuntos são analisados, é inevitável que, quando alguém estuda um texto de ética ou faz um curso de ética pela primeira vez, muitas de suas convicções pessoais sejam desafiadas, modificadas, refinadas ou enriquecidas. Portanto, é de extrema importância que cada pessoa comece esse tipo de curso com a firme decisão em sua mente de abandonar como falsa qualquer ideia que claramente entra em contradição com o ensino da Escritura. Mas também é importante que cada pessoa não creia em qualquer posição ética simplesmente porque este ou qualquer outro livro ou mestre diga que é verdadeira, a menos que o livro ou o mestre convença o estudante com base no próprio texto da Escritura. A Escritura somente, não a “tradição evangélica conservadora” ou pontos de vista de teólogos respeitados (ou qualquer outra autoridade humana), é a autoridade normativa para entendermos o que Deus aprova.

  • Utilizando o nosso tempo com sabedoria: Como nós temos um tempo de vida limitado na Terra, simplesmente não temos tempo suficiente para fazer um estudo detalhado de todas as questões que aparecem relacionadas a importantes assuntos éticos. Por exemplo, se alguém se pergunta o que a Bíblia, como um todo, ensina sobre casamento e divórcio, eu poderia dizer: “Continue lendo sua Bíblia que você vai descobrir”. Mas, caso essa pessoa comece lendo Gênesis 1.1, levará muito tempo antes de chegar às passagens que falam sobre o divórcio, em Mateus 19 e 1 Coríntios 7. E, quando isso acontecer, ela já terá muitas perguntas sobre outros assuntos: sacrifício de animais, pena capital, riqueza e pobreza, e assim por diante.

Por causa dessas limitações, se nossa intenção é aprender o que a Bíblia inteira ensina sobre assuntos éticos, precisamos fazer uso da obra de outras pessoas que examinaram a Escritura e escreveram resumos desses assuntos. Preparado com esse tipo de estudo, posso enviar uma lista com as cinco principais passagens e indicar um ou dois capítulos de livros que falam sobre divórcio e novo casamento para a pessoa que me fez a pergunta. Além disso, eu também poderia rapidamente resumir os argumentos mais comuns para as duas ou três posições mais populares sobre o assunto. Um panorama ou resumo básico da questão pode ser lido em uma noite.[2]

  • Preparando-se para enfrentar tentações reais: O melhor momento para nos prepararmos com princípios bíblicos corretos é antes de termos de enfrentar uma tentação repentina e tomar uma decisão rápida (por exemplo, uma tentação para aceitar suborno ou para contar uma mentira). Na Bíblia, José recebeu algum treinamento nos padrões morais de Deus, e foi por isso que ele decidiu fugir imediatamente da casa, quando a mulher de Potifar “o pegou pelas vestes e lhe disse: Deita-te comigo” (Gn 39.12). O próprio Jesus “crescia em sabedoria” (Lc 2.52) ao longo de sua infância e “aprendeu a obediência” (Hb 5.8) durante seus primeiros 30 anos de vida, antes de enfrentar as tentações de Satanás no deserto (Lc 4.1-13). O estudo antecipado da ética nos deixa preparados para tomarmos decisões éticas quando situações novas nos confrontam de surpresa. 
  • Adquirindo uma capacidade maior de tomar decisões éticas sobre novas questões que surgirão: Estudar a ética cristã nos ajuda a tomar decisões melhores sobre novas questões éticas que surgirem. Não temos como saber quais novas controvérsias se desenvolverão nas igrejas em que viveremos e ministraremos daqui a 10, 20 ou 30 anos, se o Senhor não voltar antes disso. Às vezes, essas novas controvérsias éticas incluem questões que ninguém analisou com profundidade antes. Os cristãos perguntarão: “o que a Bíblia diz sobre esse assunto?”

Essas novas questões éticas parecem ocorrer a cada geração. Por exemplo, gerações anteriores não tiveram que enfrentar questões relacionadas à clonagem humana, às pesquisas como células-tronco embrionárias, à gravidez in vitro, aos métodos de controle de natalidade, aos direitos ligados à privacidade na internet e ao aquecimento global. As questões relacionadas ao papel do marido e da esposa no casamento e ao papel do homem e da mulher na igreja se tornaram muito mais controvertidas depois da década de 1960 do que em qualquer outra época da história.

Seja qual for a controvérsia ética que se inicie nos próximos anos, aqueles que foram bem instruídos na ética cristã (e também na teologia sistemática) estarão muito mais bem preparados para lidar com esses assuntos. A razão é que tudo o que a Bíblia diz está de alguma forma relacionado com tudo o mais que ela afirma (pois tudo se encaixa de maneira consistente, pelo menos na esfera da compreensão divina sobre a realidade, bem como na natureza divina e na Criação, como elas realmente são). Assim, as novas questões estarão relacionadas a muito do que já foi aprendido da Escritura. Quanto mais aprendemos com o material anterior, mais preparados estaremos para lidar com as novas questões.

Uma analogia útil sobre isso é a de um jogo de quebra-cabeça.[3] Se o quebra-cabeça representa o que a Bíblia inteira nos ensina sobre todas as questões éticas, um curso de ética cristã significa colocar as peças do quebra-cabeça no devido lugar. Mas nós nunca conheceremos tudo o que a Bíblia ensina sobre todas as coisas, de maneira que o nosso quebra-cabeça sempre terá muito espaço vazio para muitas peças que precisam ser colocadas. Resolver um novo problema da vida real é como colocar as peças em uma parte do quebra-cabeça: quanto mais peças forem colocadas corretamente, mais fácil será colocar novas peças e mais difícil será cometer erros.

Neste livro, o objetivo é capacitar os cristãos a colocarem o maior número possível de peças no “quebra-cabeça ético” com a maior precisão possível e encorajá-los a continuar colocando peças corretas pelo resto da vida. Os ensinamentos deste livro servirão como diretrizes úteis no futuro, à medida que os cristãos continuarem a preencher outras áreas do quebra-cabeça relacionadas a todos os aspectos da obediência a Deus, em todos os aspectos da vida.

  • Crescendo em direção à maturidade cristã e à santidade pessoal: Não há dúvidas nas mentes dos autores do Novo Testamento de que nosso crescimento no conhecimento da ética bíblica, somado à obediência sincera ao que temos aprendido, é uma parte importante do crescimento em direção à maturidade em nossa fé cristã.

O autor de Hebreus explica que os crentes maduros são os que têm muitos anos de prática no aprendizado e na obediência de ensinamentos éticos corretos: “Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” (Hb 5.14).

Paulo diz para os crentes que desejava que eles crescessem no discernimento ético e na obediência:

Finalmente, irmãos, nós vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como de nós recebestes, quanto à maneira porque deveis viver e agradar a Deus, e efetivamente estais fazendo, continueis progredindo cada vez mais… Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação. (1Ts 4.1-3)

Uma parte significativa do crescimento na maturidade cristã é o crescimento em santidade pessoal, que é uma ênfase neotestamentária raramente mencionada em muitas igrejas de nossos dias. O autor de Hebreus diz aos cristãos: “segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14)

Outras passagens também enfatizam a necessidade de os cristãos crescerem em santidade de vida:

Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus. (2Co 7.1)

E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. (Ef 4.24)

Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. (Hb 12.10)

Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade. (2Pe 3.11)

Quanto mais soubermos sobre Deus e o que ele pede aos seus filhos, melhor serão as nossas orações por sua ajuda e sabedoria e mais preparados estaremos para obedecer a ele. Estudar a ética cristã da maneira correta nos tornará cristãos mais maduros e resultará em maior santidade pessoal em nossas vidas. Se o estudo da ética não tiver esse efeito, isso se dará por não estudarmos da maneira como Deus quer.

  • Evangelismo: Quando cristãos vivem em culturas seculares que justificam e até glorificam todos os tipos de pecados, é fácil que se sintam envergonhados ao mencionarem os padrões éticos cristãos aos incrédulos, bem como que se sintam relutantes em pregar sobre os padrões morais bíblicos na igreja, pois um visitante não cristão pode se sentir ofendido.

Mas essa não é a perspectiva bíblica. Com frequência, os padrões morais de Deus são vistos como meios maravilhosos de evangelismo. Mesmo no tempo da Antiga Aliança, Moisés disse ao povo de Israel que as nações ao redor ouviriam falar das sábias leis de Deus e ficariam impressionadas:

Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente. Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho? (Dt 4.5-8)

No Novo Testamento, os apóstolos costumavam incluir um chamado ao arrependimento dos pecados em suas mensagens evangelísticas, como Paulo fez em sua apresentação diante de filósofos gregos em Atenas:

Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos. (At 17.30-31)[4]

Pedro sabia que seus ouvintes estavam frequentemente cercados por incrédulos hostis que zombavam deles e os perseguiam, mas ele os lembrou de que a boa conduta deles era um testemunho que Deus usaria para trazer alguns para a salvação (esse é o sentido mais provável de “glorificar a Deus no dia da visitação”):

Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação. (1Pe 2.11-12)[5]

A proclamação dos padrões de Deus aos incrédulos é um componente essencial do evangelismo por duas razões: (1) a menos que conheçam os padrões morais de Deus, os incrédulos não serão convencidos de que pecaram contra esses padrões, de maneira que não se arrependerão de seus pecados e não serão salvos. Pregar sobre os padrões morais de Deus faz com que os incrédulos sejam convencidos, se arrependam de seus pecados e clamem a Cristo para receber o perdão (veja João 16.8 sobre o papel do Espírito Santo). (2) Incrédulos continuam tendo uma consciência de que, pela graça comum da parte de Deus, frequentemente atestam que os padrões morais que ridicularizam e violam são, de fato, padrões morais bons e verdadeiros,de forma que serão responsabilizados por transgredi-los (leia Rm 1.32; 2.14-15).

Portanto, os cristãos não devem se envergonhar da Bíblia, mas devem alegremente ensinar e graciosamente defender que seus ensinamentos morais são padrões bons — na verdade, maravilhosos —, procedentes do próprio Deus.

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Ética Cristâ, de Wayne Grudem, Editora Fiel (em breve).


[1] O que está incluso no ensino de “todas as coisas” que Jesus ordenou? Em um sentido mais estrito, ensinar todas as coisas que Jesus ensinou é simplesmente ensinar o conteúdo do ensino oral de Jesus que está registrado nos quatro Evangelhos.

Contudo, em um sentido mais amplo, “todas as coisas que Jesus ordenou” inclui a interpretação e a aplicação de sua vida e de seus ensinamentos, pois o primeiro verso do livro de Atos indica que o livro contém uma narrativa sobre o que Jesus continuou a fazer e a ensinar através dos apóstolos depois de sua ressurreição. “Todas as coisas que Jesus ordenou” pode incluir as epístolas, pois elas foram escritas sob a supervisão do Espírito Santo e também eram consideradas como um “mandamento do Senhor” (1Co 14.37; veja também Jo 14.26; 16.13; 1Ts 4.15; 2Pe 3.2; Ap      1.1-3). Desse modo, “todas as coisas que Jesus ordenou” inclui todo o Novo Testamento.

Ademais, quando consideramos que os escritos do Novo Testamento endossam a absoluta confiança de Jesus na autoridade e confiabilidade das Escrituras do Antigo Testamento como Palavra de Deus (confira o capítulo 34) e quando percebemos que as epístolas do Novo Testamento também endossam essa perspectiva de que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus completamente autoritativa, torna-se evidente que não podemos ensinar “todas as coisas que Jesus ordenou” sem também incluir todo o Antigo Testamento (com um entendimento correto sobre as diferentes aplicações do Antigo Testamento na era da Nova Aliança na História da Redenção). Em um sentido amplo, “todas as coisas que Jesus ordenou” inclui a correta compreensão e aplicação da Bíblia inteira na vida dos crentes da era do Novo Testamento (também chamada de era da Nova Aliança; confira os capítulos 3 e 8).

[2] Por exemplo, leia o artigo “Divorce and Remarriage”, na ESV Study Bible (Wheaton: Crossway, 2008), p. 2545-47. Breves visões gerais de outros 12 tópicos éticos podem ser encontradas nas p. 2535-60.

[3] Eu também usei a analogia do quebra-cabeça para o estudo da teologia sistemática; veja Grudem, Systematic Theology, 2ª ed., p. 10.

[4] Confira também a conversa de Paulo com Félix em Atos 24.24-25 e a longa lista de pecados específicos em seu resumo da mensagem do Evangelho em Romanos 1.18–3.20. Eu falo sobre a ênfase que o Novo Testamento dá para o chamado ao arrependimento na pregação evangelística em meu livro “Free Grace” Theology: 5 Ways It Diminishes the Gospel (Wheaton: Crossway, 2016), p. 41-48 [edição em português: Teologia da “Livre Graça”: 5 Maneiras em que Ela Diminui o Evangelho (São Paulo: Vida Nova, 2019)]. 

[5] Confira Wayne Grudem, The First Epistle of Peter: An Introduction and Commentary, TNTC (Leicester: Inter-Varsity; Grand Rapids: Eerdmans, 1988), p. 116-17 [edição em português: 1Pedro: Introdução e Comentário, Série Cultura Bíblica(São Paulo: Vida Nova, 2016)].


Autor: Wayne Grudem

É professor pesquisador de Teologia e Bíblia no Phoenix Seminary. É bacharel em ciências humanas (Harvard), mestre e doutor em teologia (Westminster Seminary, Philadelphia) e PhD em Novo Testamento (University of Cambridge). Foi tradutor da Bíblia English Standard Version, editor geral da ESV Study Bible e presidente da Evangelical Theological Society. Publicou mais de vinte livros, entre eles Ética Cristâ, publicado pela Editora Fiel.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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