Neste livro, definirei submissão como algo que envolve dois aspectos: o primeiro é acatar, por constrição moral, a decisão de outra pessoa; o segundo é aplicar seus recursos para realizar aquilo que essa pessoa decidiu. Exploremos esses aspectos separadamente.
Uma garotinha está brincando no balanço do quintal. Ela ouve a porta dos fundos se abrir e a mãe gritar: “Querida, hora de entrar.” Isso a deixa um pouco triste, porque ela preferiria continuar se balançando. No entanto, ela reconhece a autoridade da mãe e, portanto, como um ato de submissão ou obediência, ela acata a decisão da mãe, por constrição moral, e corre para dentro.
O que estamos fazendo quando “nos submetemos” ou “obedecemos”? Estamos acatando, por constrição moral, as decisões de uma figura de autoridade, mesmo que não concordemos imediatamente com essas decisões.
Quando concordei em votar a favor de todos os cinco candidatos a presbíteros, estava acatando, por constrição moral, a avaliação do pastor Mark. Estava me submetendo.
Você deve ter percebido que continuo falando em “constrição moral”. Uma constrição moral, obviamente, é diferente de uma constrição física. Submissão, conforme a defino aqui, envolve nossa livre agência. Ninguém o força fisicamente a acatar. Você escolhe acatar — mesmo que essa escolha venha acompanhada de pressões externas, como o risco de sofrer consequências. Uma placa de limite de velocidade, por exemplo, determina que eu dirija a oitenta quilômetros por hora. Sei que posso ser multado se ultrapassar esse limite. Ainda assim, tenho a opção de obedecer ou desobedecer. Possuo a capacidade de escolha. Possuo agência. Se, contudo, eu fosse algemado e jogado na parte de trás do carro da polícia por dirigir a cem quilômetros por hora, perderia a capacidade de me submeter, pois perderia a minha agência. Ser forçado a fazer algo, em outras palavras, é diferente de escolher se submeter — pelo menos da maneira uso o termo neste livro. Nesse sentido, a submissão também envolve um ato de julgamento ou decisão. Quando a filha escolhe entrar ao ouvir o chamado da mãe, julga que ouvir a mãe é melhor, à luz da natureza moral do comando materno, do que continuar a fazer o que ela inicialmente preferia.
Uma vez que a submissão envolve decisões escolhidas livremente — não forçadas —, a oportunidade de se submeter é uma oportunidade de treinar. A submissão treina nossas faculdades de julgamento a fim de julgarmos e decidirmos melhor. Você ainda está fazendo escolhas, mas está praticando a arte de fazer escolhas com base em um padrão, uma régua. É como aprender a manejar um taco de golfe. Na primeira tentativa, seus braços, ombros e quadris se movem de forma desajeitada e sem coordenação. Porém, o que acontece quando você submete seu corpo às instruções de um jogador de golfe profissional? Pouco a pouco, seus braços, ombros e quadris começam a se mover com mais naturalidade. O mesmo acontece quando um filho acata as decisões dos pais. Ao se submeter, a criança aprende a exercitar sua consciência, seus desejos e sua capacidade de tomar decisões de maneira mais refinada — com autocontrole, senso moral e amor ao próximo.
Na medida em que a submissão envolve nossas decisões livremente escolhidas, o ato de se submeter também envolve fazer uma declaração. Quando nos submetemos, declaramos: “Isto é melhor” ou “Isto é digno, justo ou verdadeiro.” Assim é quando nos submetemos à lei de Deus. Declaramos que ele e sua lei são bons. Nas palavras do salmista: “Terei prazer nos teus mandamentos, os quais eu amo” (Sl 119.47).
Quando nos submetemos a Deus, somos treinados a fazer algo “semelhante a Deus”. Não é certo dizer que Deus “se submete”, pois ele nunca acata as decisões de outra pessoa. No entanto, ele se submete à lei de sua própria natureza, e é isso que quero dizer quando afirmo que estamos fazendo algo “semelhante a Deus” ao nos submetermos a ele. Assim como Deus está sujeito à lei de sua natureza, também nós devemos nos sujeitar à lei da natureza divina.
Além disso, o Filho encarnado se sujeitou à vontade de Deus. A natureza e a vontade humanas de Cristo se submeteram à natureza e vontade divinas. O Jesus encarnado julgava a vontade de Deus como possuindo a mais alta dignidade, e foi por isso que ele observou: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34; cf. Fp 2.5-11). E esse ato de submissão começou com uma decisão ou julgamento: “O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou” (Jo 5.30).
Submeter-se a Deus significa prezar e valorizar a justiça, o amor e a glória de Deus acima de tudo o mais, assim como Deus preza supremamente sua justiça, amor e glória acima de tudo o mais. Ironicamente, somos mais semelhantes a Deus e a Cristo quando nos submetemos totalmente a ele, pois isso nos envolve na obra que ele mesmo faz: governar em submissão ao seu caráter e natureza.

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Autoridade redimida, de Jonathan Leeman, Editora Fiel (em breve).
