domingo, 22 de dezembro
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A presunção tóxica está no centro da opressão

O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Desmascarando o abuso, de Darby A. Strickland, Editora Fiel.

A dinâmica do opressor

A presunção tóxica está no centro da opressão

Muita confusão com respeito ao abuso se resume a mal-entendidos sobre por que uma pessoa age de forma opressiva em relação a outra. É vital entender que a presunção tóxica está no centro da opressão. Os opressores estão tão envolvidos em suas próprias necessidades que acreditam que a principal razão pela qual as outras pessoas existem é para atender às suas exigências. Quando essas pessoas falham em fazê-lo, eles as penalizam. Alguns usam táticas agressivas, como gritar, xingar, atirar objetos ou até pior. Alguns usam táticas passivas, como mentir, ignorar suas vítimas ou se retirar. De qualquer forma, eles usam a dominação e o medo para obter poder, de modo a viverem a vida que desejam. Eles procuram controlar e ferir a pessoa “infratora”.

Em cada um dos exemplos a seguir, observe como a reação da pessoa presunçosa ao problema tem a intenção não apenas de punir ou culpar, mas também de controlar o resultado:

  • Um marido está com dificuldades para consertar a bicicleta quebrada de sua esposa. Ele irrompe em palavrões, começa a jogar suas ferramentas para todo lado e diz à esposa que foi a inépcia dela que levou a esse momento de ira. Ela aprende a não lhe pedir ajuda.
  • Um casal está conversando sobre contratar um eletricista. Quando a esposa pergunta se aquilo cabe no orçamento deles, a conversa se transforma em uma discussão. O marido fica tão aborrecido com as perguntas dela que sai abruptamente de casa, pensando: “Como ela ousa me interrogar?”. O marido assim estabelece que não deve ser contestado.
  • Um marido chega do trabalho na tarde de sexta-feira e explode ao ver a bagunça na porta de casa e ouvir música tocando. Ele repreende sua esposa por suas habilidades domésticas e seu caráter, depois a ignora durante todo o fim de semana. A esposa aprende que deve manter a casa em ordem.

Os opressores acreditam que são o centro do mundo ao seu redor. Eles são em grande parte insensíveis às preocupações, necessidades e importância dos outros. Acreditam sinceramente que sua visão da vida e dos relacionamentos é verdadeira e correta. Mas, é claro, este é um senso distorcido da realidade.

Consideremos seis falsas crenças que são comuns às pessoas presunçosas. Tais pessoas podem não estar conscientes dessas crenças, mas as vivem funcionalmente em seus relacionamentos e, principalmente, em seu casamento. Portanto, você geralmente não ouvirá um opressor articular essas crenças, mas precisará descortiná-las. Dependendo do indivíduo que as possui, algumas crenças são mais proeminentes do que outras, e nem todo opressor possui todas as seis. Descreverei a mentalidade de cada crença e como ela afeta um relacionamento conjugal. Ao ler a respeito de cada uma delas, tente imaginar como é estar casado com alguém que pensa assim.

Crença básica 1: Tudo tem a ver comigo

Mentalidade: Pessoas presunçosas acreditam que possuem uma posição especial. Seus direitos são os mais importantes. Trata-se de egoísmo ao extremo. É uma postura cega, autocentrada, totalmente perversa em sua essência e terrivelmente destrutiva. Quanto mais elevada for a percepção do opressor sobre si mesmo, mais a sua visão será eclipsada por suas próprias necessidades e desejos — e, de fato, mais cego ele será para o modo como suas exigências afetam os outros, e mais incapaz ele será de perceber que outras pessoas também têm necessidades e desejos. Em suma, opressores não têm empatia. Como você pode empatizar com uma pessoa que você não se dispõe a entender? Também é provável que os opressores não concebam que seu cônjuge tenha pensamentos diferentes dos seus — muito menos que tais pensamentos tenham algum valor. Eles exigem que seu cônjuge olhe para seu mundo como se eles fossem o centro de tudo.

Dinâmica conjugal: Com o tempo, as mulheres oprimidas são esmagadas sob o peso do egocentrismo de seus cônjuges. Como os opressores não têm empatia e nem noção de como suas ações afetam seus cônjuges, as oprimidas são negligenciadas e desamparadas. Elas relatam sentir-se “esmagadas” ou “negligenciadas”. Cuidado mútuo e apoio em seu casamento são quase inexistentes.

Por exemplo: o marido gasta a maior parte da renda livre de sua família em seus passatempos. Mesmo quando sua esposa precisa de fisioterapia para uma lesão na mão, ele não muda seus padrões de gastos. Em vez disso, ele exige que ela trabalhe horas extras para pagar por seu próprio tratamento.

Crença básica 2: Só a minha voz precisa ser ouvida

Mentalidade: Pessoas presunçosas sempre têm razão e sabem o que é melhor. As opiniões dos outros são inconvenientes, irrelevantes ou imprecisas. Como as outras pessoas estão erradas, os presunçosos descartam, ignoram, zombam ou aniquilam verbalmente as preocupações delas. Apenas o seu próprio conhecimento ou opinião importa. Quando seus cônjuges discordam deles, eles provavelmente recebem essa discordância como rejeição ou como sabotagem — e consequências danosas resultam quando eles reagem de maneira punitiva.

Dinâmica conjugal: É difícil ser casada com alguém que não pede sua opinião ou que consistentemente a desconsidera quando você a oferece. Pessoas presunçosas normalmente ignoram ou interrompem seus cônjuges. Às vezes, eles terminam uma discussão cedendo, mas depois fazem o que queriam fazer desde o início. Como as mulheres casadas com pessoas assim não têm voz e suas contribuições não são valorizadas, elas perdem a autoconfiança, temem que seus cônjuges tomem decisões imprudentes, tornam-se exasperadas ao tentar se comunicar com eles, e ficam cada vez menos dispostas a interagir com eles. Como ninguém as ouve ou considera suas preocupações, elas se sentem sozinhas e podem ficar com medo ou deprimidas.

Por exemplo: uma esposa compartilha que está preocupada com o comportamento de um dos filhos e acha que eles deveriam marcar uma reunião com o professor da criança. Seu marido lhe diz que suas preocupações são ridículas e se recusa a ouvir suas inquietações específicas. Ele dá a entender que pedir ajuda à escola vai expô-la como uma mãe superprotetora e ansiosa.

Crença básica 3: Regras não existem para eu segui-las, mas para me manterem feliz

Mentalidade: “Eu tenho regras que você deve seguir para me manter feliz — mas você não pode nutrir nenhuma expectativa sobre mim”. As regras de uma pessoa presunçosa podem soar como: “Você tem de seguir um orçamento apertado (mas eu posso ostentar a tecnologia mais recente)” ou “Você tem de manter a casa imaculada (mas eu posso deixar minhas coisas onde eu quiser)”. O amor da pessoa presunçosa pelo seu próprio conforto e controle geralmente resulta em dois pesos e duas medidas: “Faça o que eu digo, mas não o que eu faço”. As regras que as pessoas presunçosas estabelecem para os outros não se aplicam a elas mesmas.

Dinâmica conjugal: À medida que essa mentalidade toma conta, a quantidade e a intensidade das regras das pessoas presunçosas sobrecarregam seus cônjuges. Não só isso, as regras mudam continuamente. As vítimas da presunção de outra pessoa simplesmente não são capazes de cumprir todas as regras, mesmo quando gastam muito de sua energia contorcendo suas vidas para tentar evitar a punição que resulta da violação dessas regras. Isso se dá porque pessoas presunçosas fazem com que seja literalmente impossível seguir suas regras. Eles estão sempre mudando as coisas para que as regras tácitas se adaptem a eles; o relacionamento é uma confusão interminável de “regras” com foco em um alvo que está sempre em movimento.

Por exemplo: um marido insiste que sua esposa e filhos não falem com ele enquanto ele assiste ao futebol. No entanto, quando eles estão sentados juntos assistindo a um filme num fim de noite, ele exige que todos parem imediatamente para ajudá-lo com as tarefas.

Crença básica 4: Minha ira é legítima

Mentalidade: A ira dos opressores se legitima simplesmente porque eles pensam que estão certos. Eles não veem sua ira como um problema e não entendem nem confessam sua culpa por ela. Na cabeça deles, suas reações iracundas são razoáveis porque eles têm a percepção de que são vítimas do pecado dos outros. Simplificando: “Minha ira é culpa sua”.

Dinâmica conjugal: Pessoas presunçosas são mestres em transferir a culpa: “Estou irado porque você não me ouviu”; “Você me criticou”; “Você está tentando me controlar.” As vítimas se tornam culpadas se expressarem qualquer desapontamento ou sofrimento.

Por exemplo: uma esposa não está fatiando a carne como o marido gosta. Ele grita com ela na frente de seus convidados. Ela responde: “Por favor, não grite. Vou resolver”. Ele então grita ainda mais alto: “Eu não teria de gritar se você não fosse tão estúpida, e apenas fizesse o que eu lhe disse!”. Na visão dele, sua ira é legitimada pela estupidez dela. Tenha em mente que a ira nem sempre fala alto. Há muitas formas sutis que são igualmente destrutivas, tais como mostrar-se aborrecido, sabotar ou ignorar.

Muitas vezes, as vítimas de cônjuges presunçosos ficam confusas sobre como contribuem para o pecado de seus cônjuges. Pessoas presunçosas são convincentes e suas vítimas podem se sentir responsáveis por coisas que não são culpa delas. Elas temem deixar seus cônjuges irados. Essa dinâmica leva a uma forma de escravização relacional, pois as vítimas atendem às exigências dos cônjuges presunçosos a fim de evitar serem alvo de sua ira e punição.

Crença básica 5: Outras pessoas me atacam

Mentalidade: Quando alguém traz uma reclamação ou mesmo uma preocupação, pessoas presunçosas interpretam isso como um ataque. Elas não estão dispostas a ter outras pessoas lembrando-as de algo ou oferecendo sugestões ou opiniões. Quando alguém faz isso, elas recebem isso como um ataque. Meros pedidos assumem dimensão desproporcional. Sugestões de qualquer tipo são mal-recebidas.

Dinâmica conjugal: Pessoas presunçosas têm dificuldade em receber a opinião de outras sem perceber isso como um ataque pessoal. Por exemplo, uma conversa entre uma pessoa presunçosa e seu cônjuge a caminho da igreja pode ser assim.

— Se você virar à esquerda, pode tomar o caminho de trás.

— O quê?! Você quer dirigir? Acha que eu não sei como chegar lá?

— Não, eu só pensei que poderia haver muito congestionamento na rua principal.

— O que você sabe sobre trânsito? Você nem consegue encontrar o caminho do dentista para casa. Já que sabe dirigir tão bem, não me ligue na próxima vez que estiver perdida!

A pessoa presunçosa nem sequer cogita a ideia de que um comentário possa ser uma tentativa de ajuda. Em vez disso, ela reage a isso como se estivesse sendo atacada. 

Se um cônjuge não se sente seguro para expressar preocupações ou ter uma opinião diferente, seu casamento não é baseado em honestidade e união. Na verdade, ele só gerará mais e mais desunião. O cônjuge presunçoso acumulará sentimentos exagerados de rejeição e mágoa, e o outro cônjuge cada vez mais temerá ser honesto sobre seus pensamentos. Quando intervimos para mitigar os conflitos dentro de casamentos assim, os opressores podem ser muito convincentes em apresentar-se como se fossem vítimas. É essencial irmos devagar e aprender mais sobre as situações antes de tentarmos tomar partido ou atribuir culpa.

Crença básica 6: Eu não tenho de apreciar o que você faz, mas exijo que você aprecie o que eu faço

Mentalidade: Eu chamo isso de raciocínio de conta bancária. Indivíduos presunçosos se lembram de todos os depósitos de boas ações que já fizeram. Quando alguém tem uma reclamação contra eles, eles esperam que essa pessoa veja que seu saldo ainda está no azul. Em sua mente, todos os seus depósitos anteriores deveriam cancelar quaisquer reclamações. 

Eles não estão interessados em perceber o que estão realmente fazendo agora; preferem fazer referência a um ponto no passado em que sua conta estava positiva. Ao mesmo tempo, talvez eles não reconheçam nem apreciem nenhum dos depósitos que suas esposas já fizeram. Aquilo não era nada além da obrigação delas. Ou talvez eles sejam manipuladores, mostrando-se gratos por coisas pequenas na tentativa de distrair suas vítimas de sua perpétua e controladora insatisfação. De qualquer forma, há um grande desequilíbrio no placar do cônjuge opressor.

Dinâmica conjugal: A balança sempre pende a favor do cônjuge presunçoso, e seus depósitos anteriores justificam seu comportamento atual. Isso mantém o outro cônjuge na defensiva durante uma discussão, fazendo com que o verdadeiro problema seja rapidamente esquecido. Essa dinâmica impede a compreensão mútua e a reconciliação. No fim das contas, há tantos conflitos não resolvidos que o relacionamento se desfaz.

Por exemplo: uma esposa menciona o fato de que ficou chateada por seu marido lhe ter dado apenas uma caixa de chá como presente de Natal. Ela explica como se sentiu desvalorizada, já que todos os outros receberam presentes luxuosos. Ele responde que ela deveria ser grata por ter comprado um carro novo no ano passado e possuir um armário cheio de roupas. Ele lhe dá presentes o ano todo, e ela é infantil por ser tão incompreensiva. É irrelevante o fato de que há anos ela vinha dirigido um carro em péssimo estado e que, como todo mundo, ela precisa de roupas. Nenhuma dessas coisas são luxos. Mesmo que a esposa não tivesse razão em estar chateada, a raiva com que o marido reagiu quando ela expressou seu desgosto ainda seria injustificável.

Essas seis crenças básicas produzem e reforçam umas às outras. É difícil desenredar e desmantelar formas de pensar tão profundamente arraigadas e subconscientes. Você consegue imaginar como é viver com alguém que tem essas crenças? É sufocante.


Autor: Darby A. Strickland

Darby Strickland aconselha e ensina no CCEF. Ela é colaboradora de Becoming a Church That Cares Well for the Abused e autora de dois livretos, Domestic Abuse: Recognize, Respond, Rescue e Domestic Abuse: Help for the Sufferer.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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