Sou grato por ter homens ao meu redor que não hesitarão em me exortar, perguntar sobre minhas prioridades e minha agenda, ou recomendar que eu tire um tempo para descansar. Se acho que estou falhando no uso da autoridade delegada a mim como pastor titular ou se tenho dificuldade sobre a forma como lidei com uma situação na igreja, busco o conselho de meus companheiros presbíteros, que me ajudam a ver os vários lados de uma questão.[i] Portanto, embora eu tenha ampla autoridade em nossa igreja como um presbítero que ocupa a posição de pastor titular, compartilho essa autoridade com prazer, para que minhas próprias fraquezas não me levem a abusar dessa autoridade ou negligenciá-la.
Às vezes, os pastores me perguntam como é possível atuar como pastor titular com presbíteros que compartilham autoridade e responsabilidade pastoral. Tendo experiência em diferentes configurações, estou convencido de que a autoridade e a responsabilidade compartilhadas no presbiterado plural funcionam muito melhor tanto para a igreja quanto para mim. Uma vez que cada questão da vida da igreja não está mais apenas sobre meus ombros, posso me concentrar nas áreas em que tenho mais a oferecer à igreja, enquanto meus companheiros presbíteros fazem o mesmo. Quando tenho que tomar decisões difíceis que afetam outras pessoas dentro da igreja, não enfrento essas decisões sozinho, antes, tenho homens piedosos para orar por mim e me aconselhar durante as decisões. Os tempos de decisão são tempos de perigo para os homens que ocupam uma posição de autoridade pastoral individual. Algumas questões não podem ser colocadas em discussão congregacional aberta: questões disciplinares iniciais, por exemplo, ou problemas com professores da escola dominical, ou reestruturação de ministérios. Mas quando os presbíteros se reúnem em particular, eles podem discutir abertamente cada questão, investigar as Escrituras em busca de respostas e suplicar a Deus juntos em oração. Um pastor titular pode então dar uma liderança mais confiante para sua igreja, sabendo que as decisões foram tomadas por meio do conselho de homens sábios.
Fui chamado para pregar e adoro fazer isso. Por causa do meu chamado, tenho mais oportunidades de falar à congregação e, portanto, tenho uma plataforma única para exercer autoridade na igreja. Como pastor titular da igreja, estou em posição de falar, liderar e trazer mudanças dentro da igreja. Embora minha autoridade às vezes seja mais perceptível em virtude de minha posição, ela não está acima da dos outros presbíteros. Nem todos os presbíteros têm esse chamado para pregar em tempo integral, mas todos nós compartilhamos a autoridade de liderar e supervisionar a igreja. Alguns fazem isso mais nos bastidores, enquanto outros — como o pastor titular — apresentam de forma mais visível a autoridade conferida aos vários presbíteros. Mark Dever expressou isso muito bem em um ensaio apresentado na conferência Issues in Baptist Polity [Questões relativas à Forma de Governo Batista] de 2004 em Nova Orleans.[ii]
O presbítero a quem geralmente nos referimos como “o” pastor — uma pessoa como eu — é, atualmente, aquele que, na maioria das vezes, é designado para ocupar o púlpito no domingo. Ele é aquele que faz casamentos e enterros. Ele frequentemente será pago — quer em tempo parcial, quer integralmente. Se a igreja for maior, ele pode ser aquele que contrata e despede, e quem define a direção para a igreja como um todo. Em nossa congregação em Washington, sou reconhecido como um presbítero em virtude de meu chamado como pastor titular da igreja. Qualquer pessoa que contratarmos para trabalhar no ministério será chamada de assistente ou pastor. O título de pastor é reservado para aqueles que a congregação reconhece como presbítero.
Entre esses presbíteros, tenho apenas um voto. Por causa da responsabilidade de liderança que tenho como principal professor público, há, sem dúvida, um grau especial de autoridade atribuída à minha voz nas reuniões do presbitério, mas os outros irmãos provavelmente já têm uma avaliação muito boa de onde estou mais envolvido e posso ser mais útil e onde tenho menos a contribuir. Em um presbitério, embora a autoridade formal entre os membros seja igual, sempre haverá aqueles que conquistam consideração especial em uma área ou outra.[iii]
Então, qual é o papel do pastor titular em um presbitério plural? Em primeiro lugar, ele frequentemente se dedica em tempo integral à obra do ministério. Nesse caso, ele passa muito tempo em estudo, oração, preparação, proclamação e ensino. Ele frequentemente terá buscado treinamento teológico formal, que o equipou para as responsabilidades como pastor titular.
Em segundo lugar, ele é necessário como líder entre os presbíteros, pois dedica todo o seu trabalho e energia ao ministério. Do ponto de vista prático, ele está na melhor posição para liderar, iniciar políticas, criar mudanças, dirigir ministérios e dar atenção às necessidades do corpo da igreja. Ele vive todos os dias para esse propósito, enquanto os outros presbíteros podem ter outras vocações, como vendas, medicina ou projeto de construção, do mesmo modo que ocorre na minha igreja. Os demais presbíteros, companheiros do pastor titular, apoiam ele, pois reconhecem a prioridade da pregação para o ministério do Novo Testamento (1Co 1—3). Por meio da interação contínua, eles também buscam aprimorar e aperfeiçoar as habilidades e a compreensão da Palavra do pastor titular.
Em terceiro lugar, o chamado distinto para pregar não é equivalente ao ofício de presbítero. Uma igreja pode ter pregadores que não são presbíteros e presbíteros que não são pregadores, já que o chamado para pregar ou a capacidade de ocupar o púlpito não é exigido dos presbíteros. “Não há indícios de que todos os pregadores devam ser presbíteros ou que todos os presbíteros devam ser pregadores”.[iv]7 Em vez disso, a necessidade de alimentar o rebanho de Deus de maneira consistente e cuidadosa não deve ser prejudicada pela distribuição rotineira das responsabilidades do púlpito.
Finalmente, embora o pastor titular tenha a principal plataforma para se dirigir à igreja, ele o faz sabendo que seus companheiros presbíteros estão consigo na obra do ministério. Um pastor desonesto que procurasse falar ex cathedra como se só ele conhecesse a vontade de Deus para a igreja achará o presbiterado plural restritivo. Embora os presbíteros devam encorajar e elogiar apropriadamente o pastor titular em seus trabalhos, eles também devem gentilmente lembrá-lo de sua própria falibilidade, para que ele não pense mais de si mesmo do que deveria (Fp 2.2, 3; Rm 12.3-5).
Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Equipe pastoral, de Phil Newton e Matt Schmucker, Editora Fiel.
[i] Merkle, 40 Questions, 57, discorda do uso de “pastor titular” como título, já que não é encontrado nas Escrituras e pode dar a ideia de um terceiro ofício da igreja. Embora eu concorde com seu sentimento e mantenha a visão de dois ofícios da igreja, o uso da designação “pastor titular” continua sendo útil em muitos contextos culturais. O fato de esses títulos serem intercambiáveis demonstra que os escritores bíblicos não estavam focados em uma designação para o papel de presbítero.
[ii] Para mais informações sobre os ensaios da conferência, veja Journal for Baptist Theology and Ministry, Spring 2005, Issues in Baptist Polity, parte 2, disponível em: https://www.nobts.edu/baptist-center-theology/journals/ spring-2005.html.
[iii] Mark Dever, “By Whose Authority? Elders in Baptist Life”. 9Marks. Disponível em: https://www.9marks.org/ wp-content/uploads/2015/07/By-Whose-Authority-Book-PDF.pdf
[iv] Donald MacLeod, “Presbyter and preachers”, registro mensal da igreja Free Church da Escócia, junho 1983, 124.