O trecho abaixo foi adaptado do livro Renovadas, da Editora Fiel.
A Bíblia trata em detalhes o risco de acompanhar aqueles que continuam prejudicando as outras pessoas. Os que não aprendem com seus erros passados são chamados de néscios. Conquanto possamos perdoar o louco por nos ferir, não lhe damos a oportunidade ilimitada de nos ferir repetidas vezes. Se fizéssemos isso, estaríamos agindo, nós mesmas, com loucura. Quando Jesus estende sua misericórdia nos Evangelhos, sempre o faz com a expressão “Vai e não peques mais”, implícita ou explicitamente. Quando nosso ofensor insiste em pecar contra nós, somos sábias ao estabelecer limites. Fazer isso é um ato de misericórdia em relação ao ofensor. Ao limitar sua oportunidade de pecar contra nós, poupamos o outro de contrair maior culpa diante de Deus. A misericórdia nunca exige submissão ao abuso, seja espiritual, verbal, emocional ou físico.
Sim, Jesus suportou tudo isso por causa da expiação por nossos pecados. Mas nós não somos ele. Em tudo que ele suportou, jamais foi vítima. A vítima é alguém que foi subjugado por outra pessoa mais poderosa, contra a sua vontade. Podemos ser e seremos vitimizadas e, quanto menos poder tenhamos, com mais frequência isso ocorrerá. Por essa razão a Bíblia deixa clara nossa responsabilidade de cuidar da viúva e do órfão. Mulheres e crianças, a quem frequentemente falta poder na sociedade, são as mais facilmente vitimizadas, e as estatísticas mostram que isso ocorre muito mais com elas.
A Jesus, jamais, por um instante sequer em sua encarnação, faltou poder. Se ele fosse vítima, não seria nosso Salvador. Tendo ele acesso a poder ilimitado, voluntariamente entregou sua vida. Seguimos seu exemplo de estender misericórdia, mas fazemos isso como pessoas sujeitas à vitimização. Perdoamos ao máximo, mas não facilitamos nem concordamos com a vitimização contínua — nossa ou de qualquer outra pessoa.
Mesa de misericórdia
Com frequência, aqueles a quem mais precisamos estender misericórdia e perdão não estão conscientes do mal que causam. Em geral, eles não se dão conta da necessidade de nos pedir perdão. É difícil estender misericórdia aos que não têm misericórdia. É difícil falar com Jesus: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Mesmo quando conseguimos agir assim, descobrimos que, com o tempo, as antigas feridas ressurgem. Por tal razão, Deus continuamente prepara uma mesa para nós na presença de nossos inimigos. Quando o velho inimigo da falta de perdão ergue a cabeça, lembramos que nossas cabeças já foram ungidas com o óleo do contentamento. Aproximamo-nos da mesa de nosso próprio perdão.
Jamais devemos esquecer que Jesus instituiu uma mesa de propiciação na noite em que foi traído. Naquela noite, ele disse sobre o pão: “Este é meu corpo”. Naquela noite, ele falou do vinho: “Este é meu sangue”.
Pão do mundo, por misericórdia quebrado,
Vinho da alma, em misericórdia derramado,
por quem as palavras de vida foram ditas,
em cuja morte nossos pecados são mortos:
olha o coração quebrantado pela tristeza;
olha as lágrimas derramadas pelos pecadores;
para que teu banquete seja o sinal
de que tua graça alimenta nossas almas
(Reginald Heber, 1827)
Venha para a mesa à vista da misericórdia de Deus. Venha uma vez. Venha de novo. Quantas vezes a mesa de seu corpo e de seu sangue é preparada diante de nós? Perdoemos todas essas vezes. Perdoemos, e continuemos perdoando. Perdoemos porque ele apresentou seu corpo como sacrifício. Agora, apresentemos o nosso corpo como sacrifício vivo, nosso culto racional (Rm 12.1). A misericórdia triunfa sobre a justiça.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque receberão misericórdia.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles receberam misericórdia. Bem-aventurados os misericordiosos,
pois a misericórdia que receberam é infinita.