domingo, 17 de novembro
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Sacrifícios que andam, respiram e vivem

A Bíblia de fato nos chama de “santos”. Somos santos pois fomos consagrados a Deus. Fomos separados. Chamados para uma vida diferente. A vida do cristão é uma vida de inconformidade. Essa ideia é expressa em Romanos:

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12.1-2)

No Antigo Testamento, a adoração era centralizada no altar, com a apresentação de sacrifícios a serem oferecidos a Deus. Na maior parte, essas ofertas de animais e de cereais eram ofertas pelo pecado. Eram símbolos que apontavam para o grande sacrifício que seria realizado na cruz. Após o Cordeiro perfeito ser morto, os sacrifícios no altar cessaram. Ofertá-los hoje seria um insulto ao sacrifício perfeito de Cristo.

Já que o tempo de sacrifício de animais acabou, muitos assumem que Deus considera repugnante qualquer sacrifício que lhe seja oferecido. Isso simplesmente não é verdade. Aqui o apóstolo Paulo convoca um novo tipo de sacrifício, um sacrifício vivo de nossos corpos. Devemos dar a Deus não nossos cereais ou animais, mas nós mesmos. Esse novo sacrifício não é um ato de expiação; não uma oferta pelo pecado. Esse sacrifício de nossos corpos a Deus é uma oferta de gratidão. Paulo inicia com a conjunção “pois”.

Em Romanos 12, o “pois” faz referência a tudo o que o apóstolo afirmou nos capítulos anteriores com respeito à obra salvadora de Cristo em nosso favor. A palavra nos conduz a única conclusão apropriada que podemos tirar de sua obra. À luz da graciosa justificação que Cristo conquistou para nós, a única conclusão sensata que podemos tirar é que devemos nos apresentar diariamente a Deus como sacrifícios que andam, respiram e vivem.

Com que se parece um sacrifício vivo? A primeira descrição de Paulo é em termos de inconformidade. “Não vos conformeis com este século.” É nesse ponto que muitos cristãos se desviam. Está claro que devemos ser inconformistas. Mas é difícil compreender precisamente para qual tipo de inconformidade fomos chamados.

Um estilo superficial de inconformismo é uma armadilha farisaica clássica. O reino de Deus não é sobre trivialidades tais como deixar de ir ao cinema ou de dançar, pois parecem mundanos. Deus não está preocupado com o que comemos ou bebemos. O chamado ao inconformismo é um chamado a um nível mais profundo de integridade que vai além de aspectos exteriores. Quando a piedade é definida exclusivamente em aspectos exteriores, o ponto do ensino do apóstolo se perde. De alguma forma, falhamos em ouvir as palavras de Jesus de que não é aquilo que entra pela boca de um homem que o contamina, mas o que sai de sua boca (Mateus 15.11). Ainda queremos transformar o reino em uma questão de comida e bebida.

Por que tais distorções se alastraram nos círculos cristãos? A única resposta que posso dar é que se alastraram por causa do pecado. Nossos distintivos de piedade podem ser evidências de impiedade. Quando tornamos coisas como dançar ou ir ao cinema em testes de espiritualidade, imitamos os fariseus e nos tornamos culpados de substituir a moralidade genuína por uma versão barata. Qualquer um pode evitar dançar ou ir ao cinema. O que é difícil é controlar a língua, agir com integridade ou exibir o fruto do Espírito.

Qualquer um pode ser um inconformado por amor ao inconformismo. Novamente, quero enfatizar que isso é uma piedade barata. Em última instância, somos chamados para algo mais do que só o inconformismo; somos chamados à transformação. Quando somos chamados a sermos transformados, isso significa que devemos ir além das formas e estruturas deste mundo. Os cristãos que se entregam como um sacrifício vivo e que oferecem dessa forma sua adoração são pessoas com um padrão elevado de disciplina. Eles não se satisfazem com formas superficiais de integridade.

O método fundamental que Paulo ressalta como o meio para a vida transformada é a renovação da mente. Isso não significa nada mais, nada menos que educação. É uma convocação para dominarmos a Palavra de Deus. Precisamos ser pessoas cujas vidas mudaram, pois nossas mentes mudaram.

Para nos conformarmos a Jesus, precisamos primeiro pensar como ele. Precisamos da mente de Cristo. Precisamos valorizar o que ele valoriza e desprezar o que despreza. Precisamos ter as mesmas prioridades que ele tem. Precisamos considerar importante o que ele considera importante. Isso não acontecerá sem um domínio de sua Palavra. A chave para o crescimento espiritual é uma educação cristã profunda que exige um nível considerável de sacrifício.

 

Trecho do livro Deus é Santo! Como posso me aproximar dele?, futuro lançamento da Editora Fiel.

 

Tradução: Vinícius Pimentel


Autor: R. C. Sproul

R. C. Sproul nasceu em 1939, no estado da Pensilvânia. Foi ministro presbiteriano, pastor da igreja St. Andrews Chapel, na Flórida. Foi fundador e presidente do ministério Ligonier, professor e palestrante em seminários e conferências, autor de mais de sessenta livros, vários deles publicados em português, e editor geral da Reformation Study Bible.

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A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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