A boa notícia de Hebreus 11.6 é que, com fé, podemos agradar a Deus. Porém, esse versículo nos leva por uma negativa dupla: “sem fé é impossível” agradá-lo.
Por que o autor coloca dessa forma? Está enfatizando o ponto de que o cântico normal do coração humano não é a canção da fé. Embora ela trabalhe de maneiras diferentes, os cristãos e não cristãos enfrentam uma luta similar. Ambos lutam com a descrença.
A descrença – incredulidade – é coisa séria — o escritor de Hebreus já o rotulou como tóxico quando advertiu contra o “perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (3.12). Portanto, não chegamos a Hebreus 11 encontrando muita simpatia pela incredulidade.
Ali o autor nos diz que sem fé é “impossível agradar” a Deus. Nada de enganoso, nada de difícil. Não: é simplesmente impossível!
Não creio que tenhamos a tendência de nos sentir tão contrários à incredulidade quanto Deus. A incredulidade é uma desconfiança decidida quanto às promessas e o caráter de Deus. Spurgeon descreve a incredulidade como uma “desconfiança nas promessas e fidelidade de Deus”. A incredulidade nega as perfeições e o poder de Deus e lança fora suas misericórdias aos pecadores. A incredulidade é chamar Deus de, se não um descarado mentiroso, pelo menos de artista do engano e truques.
Imagine ter um relacionamento com pessoas a quem sempre você fala a verdade e mantém suas promessas. A sua disposição — não importa qual seja, sem falha – é ser gracioso para com eles. Você sempre é bondoso, misericordioso, ajudador, disposto a atender a todo tempo.
Agora, imagine com você se sentiria se eles duvidassem frequentemente que você existisse ou se retraíssem de você constantemente como se você estivesse prestes a dar-lhes um tapa ou temessem que você tomasse de volta tudo que já lhes deu, só por rancor. Apesar do histórico de seu desempenho, eles continuassem insistindo que simplesmente não podem confiar em você. Imagine a afronta ao seu caráter, o insulto à sua benevolência, e o ataque sobre sua integridade.
A maioria dos cristãos, a começar comigo, raramente se enxergam como tendo essa espécie de incredulidade descarada. Mas, é o que acontece. Muito. Infelizmente, a descrença não se confina aos grandes momentos de doença e diminuição do quadro de funcionários. A incredulidade começa nas pequenas coisas. Recebemos um relatório negativo quanto aos filhos, nossos planos para o dia são interrompidos, o mercado de ações cai inesperadamente, e sem titubear, estamos perguntando se Deus não seria um enganador.
Meus amigos dizem que tenho uma mente brilhante. Queria que com isso eles estivessem dizendo que sou muito inteligente, como aquela personagem do livro e do filme. Mas o que realmente estão falando é que às vezes eu vejo coisas que não estão ali — como aquela personagem doida do livro e do filme. Você já conheceu alguém assim? Você é assim?
Tome, por exemplo, a hora que alguém me diz: “Sabe, realmente precisamos conversar”. Minha mente incrédula salta, perturbada, fabricando cenários cheios de medo. “É, com certeza é notícia ruim, provavelmente alguma espécie de correção. Não, provavelmente ele está liderando uma divisão na igreja, e foi designado para me contar. Não, fizeram um complô contra mim — ele vai me atacar!” Acaba sendo que ele queria me dizer o quanto um de meus sermões ajudara sua vida.
Às vezes, minha mente precisa de uma gaiola. Na verdade, vou revelar-lhe um pequeno segredo. Os místicos cristãos do passado costumavam falar da “escura noite da alma”. Para mim, isso geralmente acontece pela manhã. Na maioria dos dias, quando soa o despertador, meus problemas parecem magicamente agrupados ao redor de minha cama. São meus Condutores da Descrença, dando as boas-vindas ao novo dia.
– Olá Dave, estamos esperando por você. Planejamos todo o seu dia. Vamos começar com um forte exercício de preocupação, seguido de um longo banho de chuveiro de autopiedade. Temos um café da manhã delicioso de problemas impossíveis de se resolver. Depois disso, você vai até seu ensaio dos fracassos passados. A tarde será dedicada ao treinamento em futilidades em sua caixa de entrada. Temos ainda uma grande noite de desapontamentos planejada especialmente para você, se conseguir chegar a tanto. Portanto, levante-se – desperte e se abata!
Ah, eu mencionei que todos estão usando camisetas com os dizeres “Deus não existe, ou se existe, ele não gosta do Dave”? Acho que chegam cedo porque sabem que é quando estou mais propenso a concordar com eles.
Boom—primeira coisa pela manhã, antes mesmo de minha dose de cafeína, tenho uma escolha: fé ou incredulidade.
Se a incredulidade pode estar por perto, sendo tão persistente assim, é fácil ver como ela pode se tornar habitual. De fato, ao ler sua Bíblia, você verá que a descrença muitas vezes não é um evento e sim uma condição. É uma paralisia da alma. Quando tropeçamos na descrença, temos a tendência de permanecer na fossa da dúvida. Não estamos realmente à vontade ali, mas não somos motivados a fazer algo para mudar isso.
A incredulidade afoga a ambição piedosa. Se formos tomados pela descrença, a vida trata da sobrevivência e a fé é uma miragem. Só enxergamos os telhados de sapê pegando fogo. Deus não se encontra ali. A ironia está em que o único antídoto para incredulidade é a fé.
É por essa razão que é tão importante ver a fé como dom de Deus. Se ela viesse de nós mesmos, quando fosse derrotada pela descrença, teríamos perdido a fé para sempre. Mas, como é um presente que vem a mim como beneficio da cruz, podemos acessá-la voltando-nos a Cristo. Acho que todos nós nos identificamos com o homem que exclamou a Jesus: “Creio. Ajuda-me na minha incredulidade!” (Marcos 9.24).
Combatemos incredulidade com a fé porque o alvo da fé é aproximarmo-nos de Deus. Os olhos da fé só podem enfocar o alvo de Deus. Pode haver muitas coisas a nos distrair, mas a fé bíblica tem um foco singular.
Você já subiu por uma escadaria em espiral até o topo de uma velha torre de sino ou campanário de igreja – sabe, o tipo onde você olha para baixo no centro e sente que está num filme de Hitchcock? Se tiver problema com alturas, terá problema com essa escadaria. As pessoas que conhecem essas coisas dizem para você olhar os degraus à frente de você ou atrás de quem estiver subindo antes de você — mas não olhe para o meio. Por quê? Porque não há o que focar. Só uma grande expansão de espaço com ruína certeira embaixo.
O que acontece quando seu foco vai para cima? Você obtém confiança para ir em frente.
Conheço alguém que aprendeu muito sobre fé. Siva cresceu como Bramane Hindu no sul da Índia. Depois que ele mudou-se para os Estados Unidos para seus estudos superiores, o Senhor bondosamente abriu seu coração ao evangelho, e ele teve uma conversão radical. Por meio de uma longa jornada cheia de muitas histórias fascinantes sobre a soberania de Deus, Siva se encaminhou até Filadélfia, casou-se com uma moça cristã piedosa, e começou a seguir carreira em seu campo de especialização, engenharia de corrosão.
Há alguns anos, Siva creu que Deus o conduzia a começar sua própria companhia de engenharia. Isso significou, entre outras cosias, deixar o conforto de um bom emprego. Siva descreve isso como um “salto de fé”. Sempre quis começar seu próprio negócio, mas era uma longa estrada.
Durante seis anos Siva fez todo o possível para tornar sua empresa rentável. Local na internet, gráficos, chamadas frias, trabalhos na rede, assistência a conferências — se havia alguma forma de fazer conexões, lá estava Siva. Mas não deu para virar a esquina. No fi m ficou claro que ele teria de fechar sua empresa e voltar a trabalhar para alguma outra pessoa. Se você já esteve nessa situação, pode entender não só a prova de fé como também a prova de humildade que vem de admitir que simplesmente não consegue fazer a sua própria empresa dar certo.
Mas fechar a firma não acabou com os problemas de Siva. Encontrar novo emprego também ficou difícil. O Senhor lançou Siva numa jornada de fé que requeria que ele se firmasse diariamente contra a incredulidade. Tinha de lutar contra dúvidas quanto a Deus, dúvidas quanto ao futuro, dúvidas quanto a sua capacidade de prover para sua família.
Uma prova severa que surgiu foi a questão se deveria mudar ou não para outra região do país. Siva cria que foi chamado a criar sua família na sua igreja local. Mas depois de meses de busca, simplesmente não havia empregos dentro de sua especialização que permitissem que ele ficasse naquela região. As opções de Siva pareciam reduzidas a uma escolha dolorosa: deixar o campo pelo qual ele foi treinado, ou deixar a igreja que amava? Siva queria fazer o que era certo, mas tudo parecia dar errado. Às vezes, quando orava, sentia que Deus estava distante e inacessível, em vez de pronto a abençoá-lo e guardá-lo.
O que um homem faz quando duvida se ouviu de Deus, se seu futuro é seguro, e se suas ambições o destruíram financeiramente?
Mas Siva tinha fé bíblica — a espécie que encontra em Deus todo seu foco, não em nós mesmos. Decidiu confiar na Palavra de Deus mais do que em seus sentimentos ou fracassos. Embora não fosse pecado mudar a família a fim de poder sustentá-los, suas convicções bíblicas fizeram com que se visse como homem em uma comunidade mais do que homem em uma empresa. Resolveu permanecer na igreja local e aceitar qualquer emprego que conseguisse.
Você não deve ficar surpreso ao descobrir que Deus providenciou um caminho. Não era o melhor emprego, mas era na mesma cidade. Isso o manteria dentro de seu próprio campo de especialização e manteria a família em sua mesma igreja. Siva estava disposto a sacrificar sua própria visão pessoal por amor de coisas que valorizava mais.
Mais tarde voltaremos à história de Siva, mas não perca de vista o ponto principal. Siva tinha uma fé centrada em Deus. Não incorreu dívidas impossíveis tentando manter em pé um sonho moribundo. Não comprometeu os seus valores para resolver seus problemas, nem acusou a Deus quando a sua fé, por um tempo, parecia um salto sem frutos. Firmou-se na verdade e buscou conselho sábio. Quando veio a dúvida, Siva creu que o Deus de sua conversão e o Deus de sua provação eram o mesmo — e podia confiar em ambos.
Você se encontra na armadilha da incredulidade? Deus parece distante, preocupado, inacessível? Você já seguiu o que pensava ser a direção de Deus para descobrir-se em uma estrada de dificuldades? Como Siva, recuse ver a si mesmo como vítima das suas circunstâncias. Isso o libertará para tirar os olhos das circunstâncias e fixá-los em Deus. Então, procure ajuda. Mas não peça que os outros tenham dó; peça-lhes a verdade da Escritura. Peça que relembrem quem é esse Deus e por que ele é digno de sua fé. Isso ajudará a alinhar o seu pensamento à verdade objetiva, não interpretações subjetivas ou pensamentos emotivos. Em seguida, confesse o pecado da descrença e receba misericórdia em tempo oportuno. Isso o ajudará a receber a limpeza do perdão e fé renovada para um novo caminhar.