Nem murmureis, como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador. (1Co 10.10)
Recentemente, tenho observado como o “mimimi” tem-se tornado parte do vocabulário e do comportamento de muita gente, e não consigo me excluir disso. Reclamamos do tempo, do trânsito, do trabalho, da comida, do cansaço, da internet… parece que viver resmungando tornou-se um hábito. Às vezes, nem mesmo nos damos conta de quanto isso se espalha por nossas atitudes. Mas, ao abrir a Bíblia, levamos um susto: murmurar não é um costume inofensivo; é pecado. E, nas Escrituras, a reclamação não aparece como algo leve, mas como um sinal claro de um coração descontente diante de Deus.
Se você ler o capítulo 10 de 1 Coríntios desde o início, verá que o versículo que fala sobre a murmuração faz parte de uma exortação do apóstolo Paulo à igreja de Corinto. Ele relembra os acontecimentos da peregrinação do povo de Israel no deserto, apontando erros que devem servir como exemplo (ou advertência) para nós hoje: idolatria, imoralidade, testar a paciência de Deus… e murmuração. Sim, reclamar está na mesma lista de pecados sérios. E, assim como os outros, também trouxe consequências trágicas.
É curioso, e até mesmo desconcertante, perceber que colocamos facilmente alguns pecados no “topo” da lista — idolatria, adultério, corrupção —, mas classificamos a murmuração como algo “menor”, como se fosse apenas uma forma de desabafar ou expressar nossa insatisfação cotidiana. Mas a Bíblia trata com seriedade essa postura, porque revela algo profundo: um coração que não confia nem se satisfaz em Deus.
Reclamar é mais do que um hábito social; é um pecado espiritual. É o oposto da gratidão. E a murmuração pode se instalar sorrateiramente em nossas vidas: começa com pequenas queixas do trânsito, passa pelo comentário impaciente sobre a bagunça da casa, vira desabafo constante sobre o chefe, a sogra, a internet lenta, o cabelo que não colaborou… e por aí vai. Murmurar é como deixar uma torneira vazando: aos poucos, vai inundando tudo — o coração, a mente, os relacionamentos e a fé.
O texto de 1 Coríntios 10 mostra que a murmuração dos israelitas não foi um ato isolado. Era constante — e foi vista por Deus como uma afronta direta à sua bondade, à sua provisão e ao seu cuidado. Ele havia libertado aquele povo da escravidão, estava sustentando-os no deserto com maná do céu e água da rocha… e, ainda assim, eles reclamavam. Do maná. Da água. Da liderança. Da viagem. Do clima. Do tempo. E, no fundo, estavam reclamando do próprio Deus.
É duro, mas precisamos reconhecer: quando murmuramos sobre nossas circunstâncias, não estamos apenas reclamando da vida. Na verdade, estamos dizendo a Deus que não confiamos em sua soberania, que achamos que ele deveria estar fazendo as coisas de outro jeito. É uma forma sutil, mas venenosa, de orgulho.
Paulo escreve em Filipenses 2.14-15: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo”. Esse versículo nos ajuda a enxergar algo essencial: viver sem murmurar é um testemunho. É um comportamento contracultural. Em um mundo no qual todo mundo está sempre insatisfeito com alguma coisa, escolher cultivar um coração grato e contente em Deus é como acender uma luz em meio à escuridão.
Talvez você esteja pensando: “Mas tem coisa que é difícil mesmo!”. Tem, sim! A vida não é simples. Mas a Palavra também nos garante que o Senhor é fiel e não nos deixa sozinhos nessa jornada. Um pouco adiante, em 1 Coríntios 10.13, Paulo nos lembra: “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar”. Ou seja, quando a tentação de reclamar bater (e ela bate!), podemos clamar por ajuda. Há escape. Há um novo modo de viver disponível aos filhos de Deus, que consiste em um coração grato.
Murmurar é fácil. Ser grato exige escolha. É olhar para Deus em meio às circunstâncias difíceis e dizer: “Senhor, eu confio em ti”. Não se trata de negar a dor ou fingir que está tudo bem. Mas de crer que, mesmo quando não entendemos, ele continua sendo bom e segue no controle.
Da próxima vez que você sentir o mimimi se aproximando, pare. Ore. Resista! Peça a Deus que substitua sua murmuração por gratidão. E mantenha-se sempre vigilante, com um coração ensinável e bem-disposto!

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Pensem nessas coisas: meditações inspiradas em Filipenses 4.8, Naná Castillo, Editora Fiel.
[2] C. S. Lewis, Cristianismo puro e simples (São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017), p. 180.
