terça-feira, 24 de dezembro
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O sistema sacrificial de Levítico

Aroma agradável ao Senhor

Aroma agradável ao Senhor

Para santificar (tornar santo) o que não é santificado (ímpio) e purificar o que é impuro, devem-se oferecer sacrifícios. Como afirma Wenham: “De acordo com Levítico, […] o sangue sacrificial é necessário para purificar e santificar. O sacrifício pode desfazer os efeitos do pecado e da enfermidade humana. Pecado e doença levam à profanação do santo e à contaminação do puro. O sacrifício pode reverter esse processo”. O sistema sacrificial de Levítico servia para corrigir o problema do pecado e da impureza de Israel, na medida em que fornecia uma maneira positiva de unir Deus e o homem (veja tabela 9 abaixo).

É interessante observarmos que o sistema sacrificial representava as várias maneiras como Israel poderia se reconciliar com Deus. Levítico 1.1–6.7 descreve cinco sacrifícios/ofertas diferentes que deveriam ser empregados na adoração a Yahweh: (1) os holocaustos, (2) as ofertas de manjares, (3) as ofertas pacíficas, (4) os sacrifícios pelos pecados e (5) as ofertas pela culpa. Mooney e DeRouchie destacam sua importância:

O texto descreve cada oferta duas vezes. As primeiras descrições aparecem em Levítico 1.1–6.7 e detalham os procedimentos e propósitos das ofertas, com ênfase especial nas responsabilidades dos leigos. A segunda ocorrência está em 6.8–7.10 e esclarece como lidar, consumir e descartar as ofertas, com ênfase especial no trabalho dos sacerdotes. A severidade do ato sacrificial, a saber, a destruição da vida, comunica o abismo entre a santidade de Deus e o estado natural de Israel. Mesmo assim, o resultado do sacrifício era que Deus se agradava do perdão ou da purificação de um indivíduo, grupo ou objeto.

Assim, o ato do sacrifício aproximava as duas partes, de forma que elas podiam viver em unidade.

Nos holocaustos, todo o animal era consumido pelo fogo. Esse era considerado o sacrifício mais importante, pois fazia expiação pelos pecados do adorador. Ele era um “aroma agradável ao Senhor” (Lv 1.9, 13, 17), no qual o animal desempenhava a função de substituto do ofertante na pena de morte que, por conta de seu pecado, lhe era devida. Em segundo lugar, os sacrifícios pelos pecados se concentravam no sangue do sacrifício usado para purificar itens do tabernáculo. Alguns preferem chamar esse sacrifício de oferta de “purificação”, já que purificava o que estivesse impuro ou imundo. A oferta pela culpa, uma terceira oferta, era feita para restituir o mal cometido contra Deus. O sangue do animal era aspergido sobre o altar, e sua gordura, rins e fígado eram queimados. Apenas os sacerdotes podiam compartilhar dos restos do sacrifício. Na sequência, as ofertas de manjares consistiam em grãos colhidos, uma parte dos quais era queimada no altar, ao passo que a outra parte era entregues aos sacerdotes como alimento. Alexander observa que “a oferta de cereal era possivelmente vista como um presente ou tributo pago a Deus em reconhecimento por sua soberania divina”. Finalmente, as ofertas pacíficas se diferenciavam porque o adorador ficava com a maior parte do animal para sua própria refeição. Certas partes pertenciam ao Senhor e aos sacerdotes, mas o restante era usado em um banquete.Os sacrifícios e ofertas em Levítico revelam a necessidade que a humanidade tem de substituição e expiação. Desde o primeiro alerta de Deus sobre a desobediência, ele deixou claro que a pena para o pecado é a morte: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16-17). Assim, algo deveria morrer (i.e., sangue deveria ser derramado) para expiar (ou fazer reparação) pelo erro que tinha sido cometido. O animal deveria ser abatido no lugar do adorador, recebendo a pena pelo pecado, e seu sangue faria restituição pela culpa incorrida. Então, Levítico 17.11 afirma: “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida.” Young comenta: “O pensamento parece ser que o sangue derramado e aplicado no altar obscurecia ou apagava o pecado da vista de Deus ao ser aspergido sobre o altar. O homem e seu pecado precisam ser cobertos, e essa cobertura é obtida por Deus, não pelo homem”.



Autor: Miles V. Van Pelt

Dr. Miles V. Van Pelt é Professor Alan Hayes Belcher de Antigo Testamento e Línguas Bíblicas e diretor do Instituto de Verão para Línguas Bíblicas no Seminário Teológico Reformado em Jackson, Mississippi. Ele é autor de vários livros, incluindo Basics of Biblical Hebrew e Judges: A 12-Week Study.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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