sábado, 20 de abril

Sofrer e Suportar

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“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7). Quero me concentrar nos aspectos “sofrer” e “suportar” do amor. Eles não são a mesma coisa, mas há uma estreita ligação entre sofrer e suportar porque ser capaz de passar pelo sofrimento da dor é importante para ser capaz de suportá-la. E se o amor vai ter que “suportar” na vida cristã, o amor deve ser capaz de sofrer uma certa quantidade de dor e desapontamento.

Acho que Paulo está falando sobre a graça de Deus no dom do amor que nos possibilita lidar com o sofrimento. O Novo Testamento fala muito sobre a realidade da dor e do sofrimento humanos, e o sofrimento é algo que somos chamados a sofrer e exortados a suportar. Agora, quando falamos sobre suportar, estamos falando de poder permanecer com algo que geralmente é mais do que um período de tempo prolongado, mas certamente finito. Nós distinguimos entre corridas de velocidade e corridas de resistência. Diferentes habilidades e pontos fortes são necessários para correr os cem metros rasos e para correr uma maratona de quarenta kilômetros. Mas ambas as corridas têm um período de tempo definido e finito – uma pode durar cerca de dez segundos, e a outra pode durar de duas a três horas. Quando a Escritura nos fala sobre a realidade do sofrimento, sempre nos lembra que o sofrimento é por um período determinado. E a promessa de Deus para o cristão é que não haverá uma experiência eterna e implacável de dor para os remidos; antes, a promessa garante um fim completo para todo sofrimento. Essa promessa para o futuro é repetida várias vezes nas Escrituras para nos dar esperança, fortalecer nossa determinação e nossa capacidade de sofrer e suportar a dor quando ela atinge este mundo. A Palavra de Deus nos diz que o sofrimento ao qual somos chamados a suportar neste mundo não é digno de ser comparado com a glória que aguarda os santos no final da sua vida. Mas enquanto isso, toda a vida pode parecer uma corrida de resistência.

Anos atrás, tive o privilégio de visitar a casa de um ex-zagueiro do Miami Dolphins e conhecer sua esposa, que estava morrendo de câncer. Foi um privilégio porque ela era uma mulher cristã profundamente comprometida. Eu me sentei ao lado dela, ela olhou para mim, uma única lágrima fluiu de seus olhos, e ela disse: “R.C., eu só não sei o quanto mais eu posso aguentar. Isso chegou a um ponto que parece insuportável.”

Ela não estava reclamando ou sendo amarga. Ela estava simplesmente cansada. Nós oramos juntos. Saí e vários dias depois recebi o relatório de que ela havia falecido. Ela lutou o bom combate pela fé, ela completou a corrida e manteve a fé. E sua dor acabou – para sempre. Eu olho para a vida dela e me pergunto se eu poderia suportar esse tipo de sofrimento demorado e prolongado sem me tornar alguém de quem fosse absolutamente impossível estar por perto, sem me tornar amargo e irritado. Mas é aqui que a coisa fica séria. Nós amaremos a Deus quando estivermos sofrendo, quando a dor da nossa experiência for tão intensa?

Dor e sofrimento tendem a corroer não apenas o nosso amor, mas também a nossa fé, porque começamos a nos perguntar se Deus nos ama e se ele é mesmo real. Perguntamos como, neste mundo, ele pode deixar essa dor implacável tomar conta de nossas vidas. É por isso que é tão importante manter nossa atenção na Palavra de Deus. Dizemos para não nos surpreendermos quando o sofrimento vier em nossa direção. O Novo Testamento não diz que o sofrimento pode ocorrer – diz que é uma certeza. Lembre-se do que Paulo diz em 2Coríntios 11 quando ele fala sobre o que ele sofreu por causa do evangelho: espancamentos, apedrejamentos, perigo de morte, naufrágios, dias e noites no mar e constantemente sendo alvo de hostilidade humana. Por que ele estava disposto a suportar essas coisas? Porque ele entendeu o propósito divino para o sofrimento e a promessa divina não apenas de alívio do sofrimento, mas da redenção do próprio sofrimento. Nesse ínterim entre a ressurreição e o retorno de Cristo, os cristãos são chamados a participar das aflições de Cristo (Cl 1.24). Ao sofrer e suportar a dor, andamos nos passos de Jesus para espelhamos e refletirmos ele mesmo aos outros. Dor e sofrimento são oportunidades para mostrar o amor que Deus tem derramado em nossos corações.

Voltando para a esposa do ex-zagueiro, poderíamos olhar para sua dor e dizer: “Aqui está uma mulher a quem Deus não amava”. Ou poderíamos olhar para ela e dizer: “Aqui está uma mulher a quem Deus amava tão profundamente ao ponto de confiar tal dor e sofrimento a ela, sabendo que ela iria suportar”. Isso é grandeza real. Isso é uma conquista real.

Um problema que temos em nossos dias é a crença popular de que Deus nunca deseja dor ou sofrimento. Muitos ensinam que, se você confia em Jesus, todos os seus problemas acabarão, e você nunca terá que viver com privação, perseguição ou dor. As pessoas que dizem tais coisas já leram o Novo Testamento? Apenas uma leitura superficial lhe diz que, se você está em Cristo, sofrerá, será afligido, será perseguido. A vida cristã é uma peregrinação cheia de dor, aflição e perseguição. E quanto mais amamos a Deus, e quanto mais consistentes somos com o amor do qual o Apóstolo fala em 1Coríntios 13, mais seremos odiados e perseguidos, e acharemos necessário sofrer e suportar todas as coisas. Mas o que torna isso possível é o amor.

Entre “sofrer” e “suportar”, somos informados de que o amor “tudo crê, tudo espera”. É somente quando acreditamos na Palavra de Deus e temos confiança em nosso futuro que podemos sofrer e suportar.

Tradução: Paulo Reiss Junior.

Revisão: Filipe Castelo Branco.

Fonte: Bearing and Enduring.


Autor: R. C. Sproul

R. C. Sproul nasceu em 1939, no estado da Pensilvânia. Foi ministro presbiteriano, pastor da igreja St. Andrews Chapel, na Flórida. Foi fundador e presidente do ministério Ligonier, professor e palestrante em seminários e conferências, autor de mais de sessenta livros, vários deles publicados em português, e editor geral da Reformation Study Bible.

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