“A quem devo comparar essa geração?” Assim disse um homem, em seus trinta e poucos anos, sobre a geração na qual ele viveu. Isso ocorreu devido a uma expressão de dúvida de outro indivíduo, mais ou menos da mesma idade—um dos melhores daquela geração, um homem preparado especialmente para ter uma postura única de serviço àquela geração.
Este incidente está registrado em Mateus 11. João Batista, preso por causa de sua repreensão ao casamento adúltero de Herodes Antipas, começou a alimentar dúvidas a respeito de Jesus, se, afinal, ele era o Messias prometido. Em compaixão messiânica, Jesus respondeu aos questionamentos de João não com uma repreensão, mas com a lembrança de que suas obras demonstraram a validade de seu ofício messiânico. Assim, para aqueles que ficaram ali, ouvindo o diálogo de Jesus com os discípulos de João, Jesus perguntou, “a quem hei de comparar esta geração?” (v. 16). Sua resposta foi para pontuar que as pessoas eram como crianças inconstantes que não sabiam se cantavam uma canção feliz ou uma canção triste em uma brincadeira. As pessoas daquela geração criticavam a austeridade de João e a acessibilidade de Jesus.
Muitos de nós perguntamos: “a quem devo comparar esta geração?”. Essa pergunta é feita especialmente pela “geração mais velha” (como eu) sobre a geração mais nova, universal e verbal com a qual vivemos. É uma geração como nenhuma outra. Foi descrita como confiante, rica, diversa, bem educada, apaixonada, conectada socialmente, e inseparavelmente ligada em uma série de dispositivos eletrônicos de ponta. Forma quase metade da mão de obra atual. Para a geração mais velha, isso intimida muito. Almejamos os bons dias de antigamente antes da explosão da tecnologia, quando a vida era mais lenta e menos complicada. As coisas pareciam ser mais inocentes naquela época. “O que devemos fazer?” perguntamos. A melhor pergunta seria “O que deve ser feito de acordo com a Bíblia?”.
Acima de tudo, devemos reconhecer que Deus soberanamente nos colocou neste tempo exato e, em específico,com esta geração mais nova. Deus não cometeu um erro ao permitir que testemunhemos estas coisas em nossas vidas e que permaneçamos por um tempo no meio delas.
Também devemos buscar indicações no exemplo de Jesus que podem nos auxiliar no conhecimento de nosso papel em influenciar esta geração. Ele viveu em meio à sua geração como aquele que guardou perfeitamente a lei de Deus com o coração. Ninguém pôde acusá-lo justamente de pecado. Além disso, ele teve compaixão das pessoas. Ele amouas almas com amor perfeito. O jovem rico veio até Jesus com um desejo aparente de herdar a vida eterna, mas enquanto ele conversava com Jesus, disse que guardava os mandamentos desde a sua juventude. Esse cumpridor declarado da lei era na verdade um descumpridor da lei. Jesus sabia disso perfeitamente, porque sabia o que havia dentro do homem (João 2:25). No entanto, “Jesus, fitando-o, o amou” (Marcos 10:21). Como alguém que sabia amar perfeitamente a alma aflita daquele homem, Jesus prescreveu a solução: “Deixe o controle daquilo que está mantendo sua alma cativa, e conecte-se a mim”. Com tristeza, o jovem retirou-se de Jesus, e podemos ter certeza que foi com tristeza que Jesus o viu retirar-se.
As Escrituras deixam claro que a geração mais velha tem uma responsabilidade dada por Deus na busca por influenciar a geração mais nova na direção da piedade e maturidade espiritual. O salmista escreveu: “Desde a minha juventude, ó Deus, tens me ensinado, e até hoje eu anuncio as tuas maravilhas. Agora que estou velho, de cabelos brancos, não me abandones, ó Deus, para que eu possa falar da tua força aos nossos filhos, e do teu poder às futuras gerações”. (71:17, 18). Em Tito 2:2–3, as mulheres e os homens mais velhos nas igrejas em Creta são exortados a serem exemplos de maturidade espiritual, que definiria o tom certo de suas instruções para que os mais jovens vivessem de tal maneira “que a palavra de Deus não fosse difamada” (versículo 5).
Como nós, a geração mais velha de cristãos, estamos vivendo neste início do século vinte e um, a fim de que influenciemos esta geração mais nova a não abandonar os caminhos antigos, o legado espiritual que nos foi entregue?
Em primeiro e mais importante lugar, nossas vidas devem demonstrar claramente nossa ligação genuína com Cristo, como nosso Salvador e Senhor. Ninguém (em especial os nossos jovens) deve duvidar de nosso relacionamento com Cristo. O fruto que resulta de nossa união com Cristo deve ser claramente evidente. Inseparavelmente ligado a isso deve estar uma clara demonstração de progresso e crescimento em nossa caminhada com o Salvador. Quando Pedro e João foram trazidos diante do Sinédrio, porque os saduceus se irritaram com a proclamação da ressurreição de Jesus, eles dois declararam com ousadia que Jesus era o único caminho de salvação. Como responderam seus ouvintes, os quais também haviam presidido a condenação e execução de Jesus? Eles perceberamneles uma ousadia, vendo que aqueles homens não haviam sido treinados por rabinos. Mais importante ainda, “reconheceram que haviam eles estado com Jesus” (Atos 4:13). Da mesma forma, a sinceridade de nossa caminhada com Jesus deve ser evidente para todos.
A instrução formal em casa, na igreja e na escola, e os programas de aconselhamento que muitas igrejas oferecem criam oportunidades potencialmente eficazes para influenciara geração mais nova. No entanto, há alguns pontos que serão benéficos em contextos menos formais:
1. Ame-os genuinamente e pacientemente. A geração mais nova precisa saber que a geração mais velha não está distante dela. A igreja é um corpo formado por muitos membros, jovens e idosos—todos valiosos para o funcionamento do todo. Em Efésios 4, Paulo descreve os santos como aqueles que crescem da imaturidade espiritual “à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (versículo 13). Este processo é realizado “segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (versículo 16). Se vamos exercer um impacto sobre os jovens, devemos amá-los, e eles devem saber que nós os amamos. “Amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (1 Pedro 1:22). Não hesite em dizer a eles que você os ama (coletivamente e individualmente). Amá-los genuinamente e pacientemente é amá-los como Deus nos ama.
2. Compartilhe com eles o que é mais importante para você. Eles devem ver o seu amor apaixonado pela Palavra de Deus. Ela te instrui, te guia, te encoraja, te convence. É um componente vital do seu dia a dia. “Do mandamento de seus lábios nunca me apartei, escondi no meu íntimo as palavras da sua boca” (Jó 23:12). Compartilhe passagens específicas que ocorreram em sua vida recentemente. Também transmita a eles que a oração é outra coisa essencial sem a qual os cristãos não podem viver. Ore com eles e por eles. O testemunho de Paulo sobre Epafras era: “se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus” (Colossenses 4:12). Exorte-os a lutar incansavelmente na batalha contra o pecado. Eles devem fugir de paixões da juventude (2 Timóteo 2:22) que guerreiam contra a alma (1 Pedro 2:11). Além disso, desafie-os a ver Deus agindo em todos os acontecimentos, incluindo os detalhes de suas vidas. Encoraje-os a agradecerem a Deus constantemente por isso e a darem toda a glória a Ele. São esses elementos as coisas mais importantes em sua vida?
3. Invista neles. Compre para eles livros que tiveram um impacto espiritual em sua vida, e se ofereça para estudar esses livros com eles. Ofereça-se para levá-los a conferências e a outros eventos cristãos. Os investimentos que fazemos em suas vidas espirituais resultarão em ganhos eternos. “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás” (Eclesiastes 11:1).
Portanto, “a quem devo comparar essa geração?”. Certamente é uma geração diferente de qualquer outra. Porém, é também uma geração que precisa conhecer o amor redentor de Cristo, e precisa brilhar como luz neste mundo em meio a uma geração corrompida e destorcida (Filipenses 2:15)—assim como nós, da geração mais velha, precisávamos fazer em nossos dias (e agora). Que Deus nos ajude a sermos exemplos e instrutores amorosos para eles, e que eles façam o mesmo com a geração seguinte a deles.
Tradução: Isabela Siqueira
Do original “A Call to Maturity” publicado pela revista Tabletalk.