sexta-feira, 22 de novembro
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Um único livro, com um único Autor

Uma mensagem unificada

Você já ouviu falar que a nossa Bíblia contém 66 livros diferentes, escritos por um número desconhecido de autores humanos, em três idiomas diferentes (hebraico, aramaico e grego), ao longo de aproximadamente 1.500 anos, com várias e, por vezes, conflitantes mensagens? Todavia, digo a você que a Bíblia também pode ser compreendida como um único livro, com um único autor, contendo uma mensagem unificada e um único propósito ( Jo 5.39, 45-47; Lc 24.25-27, 44-45; At 28.23, 31; Rm 1.1-3; 2Tm 3.16; 1Pe 1.11). A Bíblia é como um grande quebra-cabeça. Cada peça (livro individual) tem seu formato exclusivo e apresenta uma imagem própria e singular. Mas essas formas individuais foram concebidas para se encaixarem em um todo maior, de forma que a imagem completa forneça o contexto e dê sentido às imagens individuais menores.

Por esse motivo, é útil entender que a Bíblia não é uma carta de amor, um guia de autoajuda, um manual de história, um conto, um código de leis, uma coleção de cartas antigas ou um manual religioso, embora esses elementos certamente apareçam ao longo das páginas do texto bíblico (diversidade). Em vez disso, como um todo, a Bíblia é o relato, o depósito, o testemunho das Boas Novas de Deus em Jesus Cristo (unidade). Ela é um documento legal, objetivo e público que descreve e explica o relacionamento fundamentado na aliança pelo qual Deus foi complacente e se uniu, inicialmente, a este mundo e, depois, ao seu povo por meio de Jesus Cristo (função). Portanto, para compreendermos a mensagem da Bíblia, devemos trabalhar para entender a diversidade de suas várias partes, a unidade de sua mensagem geral, bem como sua função na vida do povo de Deus. É vital que trabalhemos para entender esse livro na sua totalidade, porque a Igreja é “edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2.20), assim como porque esse livro é vivo e dele recebemos a vida (Sl 119.25, 50; 2Tm 3.16; Hb 4.12).

Em razão da sua idade e dos vários contextos culturais estrangeiros dos quais a Bíblia surgiu, muitas vezes é difícil compreendermos a mensagem da Bíblia e sua impotância para o pensamento e a vida no século XXI. Por exemplo, o que significa o fato de Jesus ser nosso sumo sacerdote (Gn 14.18; Nm 35.9-34; Hb 7-9), e por que isso importa em um contexto no qual sumos sacerdotes não fazem mais parte da vida diária? Para complicar ainda mais, a Bíblia contém duas partes diferentes — o Antigo Testamento e o Novo Testamento —, as quais, às vezes, parecem se contradizer. Por exemplo, que mandamento devemos seguir: “olho por olho” (Ex 21.24) ou “dê a outra face” (cf. Mt 5.39)?

Assim, antes de começar a considerar cada um dos livros do Antigo Testamento nesta introdução, é importante considerarmos, primeiro, a mensagem do todo que, por fim, dará sentido às partes individuais. Quando levamos em conta o todo, é essencial começarmos com toda a Bíblia Cristã, tanto o Antigo quanto o Novo Testamento. É especialmente importante compreendermos como o testemunho apostólico do Novo Testamento identifica e estabelece o significado e propósito final da palavra profética contida no Antigo Testamento. Esse testemunho do Novo Testamento nos fornece uma estrutura conceitual unificada pela qual podemos abranger a vasta diversidade apresentada a nós nas páginas do Antigo Testamento.

O Antigo Testamento é mais complexo, diverso e distante dos nossos contextos modernos do que o Novo Testamento. Nas nossas Bíblias Cristãs, ele contém 39 livros escritos por vários autores diferentes (identificados ou não), entre aproximadamente 1400 e 400 a.C. O Antigo Testamento é também o maior dos dois Testamentos, constituindo mais de três quartos do todo. Entretanto, não fomos deixados à nossa própria sorte quando se trata de dar sentido a esses textos antigos. O Novo Testamento fornece o contexto final e autoritativo a partir do qual o povo de Deus pode compreender corretamente a mensagem e o propósito do Antigo Testamento. Esse relacionamento, porém, não tem um lado só. O Antigo Testamento fornece o contexto e as categorias conceituais para a compreensão da mensagem do Novo Testamento. Esses dois Testamentos, em toda sua diversidade, estão ligados para sempre como a Palavra de Deus — e o que Deus uniu não separe o homem.

O que, então, o Novo Testamento nos ensina sobre o Antigo Testamento, no que diz respeito à sua mensagem e seu propósito ou função? As respostas a essas perguntas certamente são debatidas, mas um lugar útil para começarmos pode ser Atos 28. No final desse capítulo, Lucas assim resume o currículo bienal de ensino do apóstolo Paulo: “Então, desde a manhã até à tarde, lhes fez uma exposição em testemunho do reino de Deus, procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas” (At 28.23; veja também 28.30-31). Se prestarmos atenção, vamos entender que Lucas, por meio de Paulo, forneceu-nos as respostas a essas duas perguntas fundamentais. Em primeiro lugar, do que fala o Antigo Testamento? E, em segundo lugar, qual é o propósito ou função do Antigo Testamento?

De acordo com Atos 28, Paulo passou dois anos em Roma usando o Antigo Testamento para ensinar sobre Jesus e o reino de Deus. Para esse fim, afirmamos que o Antigo Testamento — e toda a Bíblia, aliás — fala, em última análise, de Jesus e do reino de Deus. Jesus constitui o resumo e a substância da mensagem bíblica. Ele é o Evangelho de Deus e o centro teológico de toda a Bíblia Cristã. Ele é a fonte e a força unificadora que dá sentido a toda a diversidade encontrada no relato bíblico. Com Jesus como centro teológico da mensagem bíblica, o reino de Deus funciona como a estrutura temática dessa mensagem, ou seja, o tema dentro do qual todos os outros existem e se unem. Esse tema é o domínio do profeta, do sacerdote e do rei; o lugar da sabedoria e do escriba; o mundo dos apóstolos, presbíteros e diáconos. Todo tema bíblico é um tema do reino de Deus. Se Jesus como centro teológico dá significado para a mensagem bíblica, o reino de Deus como estrutura temática fornece o contexto para essa mensagem.

Além da mensagem do Antigo Testamento, também temos um vislumbre de seu propósito na designação abreviada “lei de Moisés… profetas” (At 28.23). Uma descrição mais longa aparece em Lucas 24.44, onde Jesus se refere ao Antigo Testamento como “[a] Lei de Moisés, [os] Profetas e [os] Salmos”. Aqui Jesus se refere ao arranjo do Antigo Testamento em sua divisão original em três partes: a Lei, os Profetas e os Escritos. Essas divisões constituem a estrutura pactual do Antigo Testamento nas categorias de aliança (Lei), história da aliança (Profetas) e vida da aliança (Escritos). Essa concepção de aliança do Antigo Testamento também serve como o padrão segundo o qual o Novo Testamento foi construído. Ver e compreender essa concepção canônica abrangente nos fornecerá pistas contextuais importantes para a maneira como se deve ler, entender e aplicar adequadamente o Antigo Testamento na Igreja hoje.

O trecho acima foi retirado com permissão do livro: Introdução Bíblico-teológica ao Antigo Testamento, editado por Miles V. Van Pelt, Editora Fiel (em breve).


Autor: Editorial online do Ministério Fiel

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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