sexta-feira, 22 de novembro
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Uma introdução à pregação e à teologia bíblica (parte 3)

Direção – Como Fazer Teologia Bíblica ao Pregar

Ao pregar as Escrituras, é vital compreender onde o livro que estamos estudando se situa na linha do tempo da história redentiva. Correndo o risco de simplificar demais, fazer boa teologia bíblica ao pregar consiste em dois passos básicos: olhar para trás e, então, olhar para o todo.

Olhar para Trás – Teologia Antecedente

Walter Kaiser nos lembra de que nós deveríamos considerar a teologia que antecede cada livro à medida que pregamos as Escrituras.

Por exemplo, ao pregarmos o livro de Êxodo, nós dificilmente interpretaremos a mensagem de Êxodo com exatidão se o lermos à parte de seu contexto precedente. E o contexto precedente de Êxodo é a mensagem transmitida em Gênesis. Nós aprendemos em Gênesis que Deus é o criador de todas as coisas, e que ele fez os seres humanos à sua imagem, de modo que os seres humanos estenderiam o governo do Senhor por todo o mundo. Adão e Eva, contudo, falharam em confiar em Deus e em obedecer o mandato divino. A Criação foi seguida pela Queda, a qual introduziu morte e miséria no mundo. Não obstante, o Senhor prometeu que a vitória final viria através da semente da mulher (Gn 3.15). Intenso conflito haveria entre a semente da mulher e a semente da serpente, mas a primeira iria prevalecer. Nós vemos no restante de Gênesis a batalha entre a semente da mulher e a semente da serpente, e nós aprendemos que a semente da serpente é muito poderosa: Caim mata Abel; os ímpios subjugam os justos até que restam apenas Noé e sua família; seres humanos conspiram para fazer um nome para si mesmos ao construírem a torre de Babel. Ainda assim, o Senhor permanece soberano. Ele julga Caim. Ele destrói todos no dilúvio, exceto Noé e sua família. E ele frustra os desígnios dos homens em Babel.

O Senhor faz uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó, assegurando que a vitória prometida em Gênesis 3.15 viria por meio da semente deles. O Senhor lhes concederá uma semente, uma terra e uma bênção universal. Gênesis focaliza especialmente na promessa acerca da semente. Em outras palavras, Abraão, Isaque e Jacó não possuem a terra da promessa, tampouco eles abençoam o mundo inteiro durante a sua geração. Mas Gênesis conclui com o relato dos doze filhos que o Senhor concedeu a Jacó.

Então, como essa “teologia antecedente” de Gênesis é crucial para a leitura do livro de Êxodo? Ela é fundamental, pois, quando Êxodo começa com a imensa multiplicação de Israel, nós imediatamente reconhecemos que a promessa abraâmica de muitos descendentes, dada em Gênesis, está se cumprindo. Não apenas isso, olhando para Gênesis 3, nós percebemos que Faraó é um descendente da serpente, enquanto Israel representa a semente da mulher. O esforço de Faraó para matar todas as crianças do sexo masculino representa os desígnios da semente da serpente, à medida que a batalha entre as sementes, preanunciada em Gênesis, continua.

Enquanto continuamos a nos mover pelo livro e Êxodo e o resto do Pentateuco, nós podemos ver que a libertação de Israel do Egito e a promessa de que eles conquistarão Canaã também represente um cumprimento da aliança do Senhor com Abraão. A promessa da terra está agora começando a se cumprir. Além disso, Israel agora atua, em certo sentido, como um novo Adão em uma nova terra. Como Adão, eles devem viver em fé e obediência no espaço que o Senhor lhes concedeu.

Se nós tivéssemos que ler Êxodo sem ser informados pela mensagem antecedente de Gênesis, nós não perceberíamos a significância da história. Nós leríamos o texto à parte do seu contexto, e seríamos vítimas de uma leitura arbitrária.

A importância da teologia antecedente é evidente ao longo do cânon, então nos contentaremos aqui com outros poucos exemplos. Vejamos:

  • A conquista sob Josué deve ser interpretada à luz da aliança com Abraão, de modo que a posse de Canaã é entendida como o cumprimento da promessa feita a Abraão de que ele desfrutaria da terra de Canaã.
  • Por outro lado, o exílio dos reinos do norte (722 a.C.) e do sul (586 a.C.) ameaçado pelos profetas e registrado em diversos livros representa o cumprimento das maldições da aliança de Levítico 26 e Deuteronômio 27-28. Se os pregadores e as congregações não conhecem a teologia antecedente da aliança mosaica e as maldições ameaçadas naquela aliança, eles dificilmente poderão discernir o significado de Israel e Judá sendo enviados para o exílio.
  • A promessa do novo Davi reflete a aliança previamente feita com Davi de que a sua dinastia permaneceria para sempre.
  • O Dia do Senhor, que é tão proeminente nos profetas, deve ser interpretado à luz da promessa feita a Abraão.

Obviamente, o mesmo é verdade acerca do NT.

  • Nós dificilmente poderemos entender a importância do reino de Deus nos sinóticos se não conhecermos o enredo do Antigo Testamento e formos ignorantes acerca das alianças e promessas feitas a Israel.
  • A significância de Jesus ser o Messias, o Filho do Homem e o Filho de Deus está completamente arraigada na revelação prévia.
  • O livro de Atos, como Lucas aponta em sua introdução, é uma continuação do que Jesus começou a fazer e ensinar, e, portanto, é informada tanto pelo Antigo Testamento como pelo ministério, morte e ressurreição de Jesus.
  • As epístolas também se alicerçam na grande obra salvadora realizada por Jesus Cristo, e explicam e aplicam às igrejas estabelecidas a mensagem salvadora e o cumprimento das promessas de Deus.
  • Finalmente, Apocalipse faz sentido como o ápice da história. Não é apenas um anexo aposto ao final para promover alguma excitação sobre o tempo do fim. As muitas alusões ao Antigo Testamento demonstram que a revelação do Apocalipse é traçada sobre o pano de fundo da revelação do Antigo Testamento. Semelhantemente, o livro não faz qualquer sentido a menos que vejamos que ele se coloca como a conclusão de tudo o que Jesus fez e ensinou.

Isso não significa que o enredo da redenção tem a mesma centralidade em todos os livros do cânon. Nós poderíamos pensar acerca dos livros de sabedoria como Cantares de Salomão, Jó, Eclesiastes, Provérbios e Salmos. Contudo, mesmo nesses exemplos, os autores bíblicos pressupõem as verdades fundamentais da criação e queda de Gênesis, assim como o papel especial de Israel como o povo da aliança de Deus. Algumas vezes, eles até mesmo articulam esse papel, como quando os Salmos narram a história de Israel. Ainda assim, nós somos lembrados da diversidade do cânon e reconhecemos que nem toda porção de literatura possui a mesma função.

A principal verdade para os pregadores aqui é que eles devem pregar de tal maneira a integrar os seus sermões no escopo mais amplo da narrativa bíblica da história da redenção. Aqueles nos bancos precisam ver a imagem mais abrangente do que Deus tem feito e como cada parte da Escritura contribui para aquela imagem. O que nos leva ao segundo passo para fazer boa teologia bíblica na pregação…


Autor: Thomas R. Schreiner

Thomas R. Schreiner serve como pastor de pregação na Clifton Baptist Church em Louisville, Kentucky. Ele é também professor de Novo Testamento no Southern Baptist Theological Seminary e escreveu Romans (Baker, 1998) e Paul, Apostle of God’s Glory in Christ: A Pauline Theology (InterVarsity, 2001), entre muitos outros títulos.

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