O texto abaixo foi extraído do livro Um Coração Inabalável, de Elyse Fitzpatrick, da Editora Fiel.
O que a intriga ou lhe interessa nesse título? Você já imaginou o que significa ter um coração inabalável? Você já se perguntou se o seu coração é firme? Mesmo que a sua maior motivação ao escolher este livro seja descobrir o que é um coração inabalável, creio que outras leitoras estejam interessadas, principalmente, em como experimentar o consolo de Deus, bem aqui e agora, no meio da tempestade pessoal pela qual estão passando. Talvez você nem acredite que possa ser consolada — parece que faz tanto tempo que qualquer coisa parecida com consolo fez parte da sua vida, que você espera poder vislumbrar a face de Deus em algum lugar nessa tempestade escura e sombria. Ou, talvez, você possa crer que Deus a esteja consolando, porém quer saber mais sobre o que ele pode fazer. Assim, quer você esteja buscando um coração mais firme, quer esteja tentando encontrar o consolo de Deus em meio a uma tempestade ou desejando passar um tempo com uma irmã e o Salmo 57 (o nosso texto-base para este livro), você veio ao lugar certo. Nas páginas a seguir, viajaremos juntas por essa oração divinamente inspirada e veremos como Deus pode nos consolar. Vamos, inclusive, descobrir porque Deus traz as tempestades para o nosso caminho (Jó 37.9-13). Também aprenderemos o que significa ter um coração inabalável e como uma maré de tempestade de alegria e adoração pode emanar de dentro de você em gratidão e louvor pelo amor inabalável de Deus!
Uma tragédia nacional se torna pessoal
Como a maioria dos americanos, passei a maior parte do dia 11 de setembro de 2001 grudada na TV. Lembro-me claramente do que senti quando vi aquelas torres desabarem: confusão, terror e uma tristeza esmagadora. Chorei muito.
Um pouco mais tarde, naquele mesmo dia, recebi a ligação de um parente informando que o meu pai idoso, que trabalhava nas proximidades do World Trade Center, estava perto do desastre e, embora não tenha sido ferido, não podia voltar para casa. As horas passaram devagar e muitas orações foram feitas até que, finalmente, perto do fim do dia, recebi a boa notícia de que ele havia entrado em um barco rebocador no Battery Park e seria levado até sua casa na área residencial. Ele estava bem, e, embora eu estivesse repleta de pesar e tristeza pelas milhares de pessoas que sofreram naquele dia, eu pensei que estava segura. “Não fui afetada de verdade” foi o que pensei. Ah, como eu estava enganada.
Eu estava enganada porque, em resposta aos prejuízos decorrentes da tragédia de 11 de setembro, as seguradoras mudaram a forma de pagamento dos seus sinistros de catástrofes. Para a maioria, isso não apresentava um grande problema, mas para o meu marido, Phil, e para mim, sim. Isso se deve ao fato de que Phil tinha e gerenciava uma empresa de recuperação de desastres que atendia os sinistros por parte dos proprietários que sofreram algum tipo de prejuízo: incêndio, enchente ou vandalismo. A força vital da nossa empresa dependia dessas seguradoras que foram gravemente afetadas pelos ataques terroristas. Na verdade, ainda estamos cambaleantes pelos tremores daquele dia trágico.
Devido à forma como essa e outras dificuldades se desenrolaram, Phil e eu não sabíamos se conseguiríamos sobreviver financeiramente dia após dia. Como éramos os donos da empresa, se ela não desse certo, isso significava mais do que apenas buscar um novo emprego; significava perder tudo o que tínhamos. Essa era a nossa nova realidade.
Além disso, no ano 2003, comecei a sentir alguns sintomas físicos estranhos que nunca foram diagnosticados de forma definitiva. A tensão das dificuldades que enfrentávamos teve um efeito em meu corpo: Será que conseguiríamos dar conta de pagar os nossos funcionários? Teríamos uma casa para morar? O que aconteceria com os nossos filhos adultos que trabalhavam na empresa conosco? A nossa família iria se separar? O que aconteceria com os nossos netos? Eu lutava e sentia como se um fardo, do qual eu não conseguia me livrar, tivesse sido colocado em minhas costas. Os médicos tinham uma definição em latim para o que eu tinha, mas não podiam oferecer qualquer ajuda efetiva.
Como se tudo isso não bastasse, perto do verão de 2003, o nosso amado pastor Craig Cabaniss e várias famílias muito amadas de nossa igreja nos disseram que acreditavam que Deus os estava chamando para iniciarem uma igreja no norte de Dallas, e que partiriam em um ano. Cada família da nossa igreja passou meses chorando rios de lágrimas pelo rompimento dessas relações tão preciosas.
De 2002 até aproximadamente março de 2005, parecia que cada dia trazia uma nova frente de tempestade, um golpe que antes não conhecíamos. “Você não vai acreditar…” era o refrão diário de Phil quando ele chegava do trabalho. “Eles fizeram o quê?” era a minha resposta habitual. Então, quando por acaso pensávamos ter visto uma luz no fim do túnel, percebíamos que o que tínhamos avistado não era o socorro, mas um trem vindo em nossa direção. Até quando aquilo iria durar?
Certa vez, Phil e eu nos vimos sentados em um banco gelado do lado de fora de uma sala de audiência. “Como viemos parar aqui?”, perguntei. Até aquele momento, toda a minha experiência com o sistema jurídico se resumia à convocação para servir como jurada, mas nunca ter sido selecionada. Enquanto assistia, com espanto, como um grupo de advogados ficava ali discutindo sobre o nosso caso e rindo entre si, falei: “Bem, cada vez que eles respiram, nós pagamos centenas de dólares”. Eles eram confiáveis? Eles defendiam os nossos melhores interesses conforme afirmavam? E ainda haveria a questão de como a juíza iria decidir. Em uma sentença, ela poderia nos arruinar.
Além dos problemas com a nossa empresa, sofremos de outras formas mais pessoais. Alguns de nossos queridos familiares e amigos faleceram durante aquele período, inclusive uma amada tia-avó, que faleceu em março de 2003, e um querido tio, Bob, que sucumbiu ao câncer em maio de 2004. Sei que é difícil de acreditar, mas não houve um mês em que não tivéssemos um funeral para ir ou condolências para prestar.
No final de novembro de 2003, ocorreu o que, de certa forma, foi para mim a ferida mais profunda de todas. Eu havia ido para casa entre os intervalos dos casos de aconselhamento para comer alguma coisa, quando ouvi, com choque e horror, uma mensagem de voz da mãe da minha querida amiga, Julie: — Oh, Elyse — disse ela, chorando. — O Richard [filho da Julie] faleceu. Ele sofreu um acidente de carro ontem à noite. O quê? Pensei. O que acabei de ouvir? E então, dentro do meu coração senti uma frieza mortal que se transformou em ira. Ela já não passou pelo suficiente? Isso não foi muito pesado de sua parte? Eu entendo, Senhor, porque o Senhor está me açoitando, mas isso? Por que isso? Já não passou dos limites?
Nos dias que se seguiram, enquanto eu encontrava com Julie para ajudar na organização do funeral e acolhia os seus familiares em minha casa, vários questionamentos sobre a bondade suprema de Deus preencheram o meu coração e a minha mente. Pela primeira vez em muitos anos, comecei a questionar Deus. Questionei o seu caráter “Por que ele faria isso com ela? Como fica a questão do que ele diz sobre si mesmo? Ele é amoroso? Ele é misericordioso? Me senti mergulhando de cabeça em um poço de desespero e desânimo.
O que acabei de escrever pode ter te chocado. Eu sei que nós, cristãs, não devemos ter esses questionamentos. Temos que ser fortes e cheias de fé. No entanto, essa não é a realidade que vejo nas vidas dos irmãos e das irmãs nas Escrituras, e essa não é a experiência dos nossos irmãos e irmãs aqui. Aquilo foi, para mim, o momento mais sombrio da noite escura da minha alma.
O Coração inabalável
Durante aqueles anos tão difíceis, o Senhor, graciosamente, trouxe a mim o Salmo 57 através da pregação de um dos nossos líderes da igreja, Steve Shank. Então, no meu aniversário no início de novembro de 2003, em sua bondade, Deus me deu um presente: ele gravou esse salmo em minha mente.
Como Phil e eu estávamos perdidos sobre como orar, gastamos bastante tempo nos salmos. O salmo 57 foi um dos que falou profundamente comigo. Um versículo, em particular, foi significativo: “Firme está o meu coração, ó Deus, o meu coração está firme; cantarei e entoarei louvores”. Naquele mesmo aniversário, uma querida amiga me deu uma linda corrente com um pingente de prata em formato de coração. Nele estava inscrito o meu versículo: “Firme está o meu coração, ó Deus”. O que foi mais marcante no presente dessa minha amiga foi que ela não sabia que Deus já estava falando comigo através desse versículo. Um coração inabalável? Era esse o plano de Deus para mim? Meu coração era qualquer coisa, menos inabalável.
Este é um livro que fala sobre o que aprendi e continuo aprendendo sobre o Senhor e sobre mim por meio dessa provação específica. Deus foi gracioso com o Phil e comigo durante esses anos. Ele tem usado o nosso sofrimento como meio para nos revelar um novo entendimento sobre ele, sobre a sua grande bondade e sobre a nossa grande necessidade de um Salvador. Essas lições têm sido preciosas para nós. Somos gratos a ele por elas. Ele também tem usado o nosso sofrimento na vida de outras pessoas à medida que oram e sofrem conosco. Passamos a amar a nossa igreja e os nossos amigos mais intensamente do que nunca.
Ao escrever sobre o nosso sofrimento, quero esclarecer uma realidade: sei que o que passamos não é nada em comparação ao que outras pessoas passam diariamente. A nossa provação foi moldada para nós, por um Deus sábio que conhecia exatamente o tipo de sofrimento de que precisávamos. As provações que suportamos foram criadas para atingir a idolatria, o egoísmo e a incredulidade absoluta que Deus deseja limpar da nossa vida. Elas também foram feitas para fazer com que amemos a Jesus Cristo mais e mais, e, às vezes, não são, de modo algum, uma disciplina, mas, pelo contrário, são parte do plano misterioso de Deus para a sua própria glória. Por isso, peço que, enquanto você lê este livro, não compare o meu sofrimento com o seu, ou imagine como suportaria o que passei ou vice-versa. Apenas reconheça que Deus traz a cada uma de nós o que melhor irá glorificá-lo.