Um homem e uma mulher estavam parados de mãos dadas numa praia. Por um tempo, o único som era o das ondas quebrando. Então o homem perguntou: “De que você tem medo?” Ela respondeu: “Eu quero casar com você mais do que qualquer coisa no mundo. Mas fico pensando que você mudará de ideia e me abandonar assim como…”. Os olhos dela fitaram o chão. “Assim como o seu pai abandonou a sua mãe?”, ele perguntou gentilmente. Hesitantemente, ela concordou com a cabeça.
“Você não confia em mim?”, ele perguntou.
“Ah, sim”, ela disse. “Você é o homem mais digno de confiança que eu já conheci”. Ela fez uma pausa, e então disse: “Mas temo que você perceba que eu não sou o que você realmente quer”.
A mão dele segurou a dela mais firmemente, e ele disse: “Eu conheço você desde que éramos crianças. Eu conheço os seus defeitos, mas eu amo você. Eu escolhi você, e não há mais ninguém que eu queira”.
“Eu confio sim em você”, ela disse a ele, “eu só preciso aprender a confiar mais em você”.
Cristãos podem sentir-se em uma condição semelhante com relação ao Senhor. Como crentes, confiamos em Deus e sabemos que ele é digno de confiança. Mas a dúvida, a culpa e o medo podem devorar a nossa convicção de que somos e sempre seremos dele. Às vezes tememos ser abandonados.
A certeza da salvação é ao mesmo tempo profundamente pessoal e profundamente doutrinária. Ela estava no coração do debate da Reforma. A Igreja Católica Romana dizia que um cristão não pode ter certeza sem primeiro ter uma extraordinária e direta revelação de Deus. Os reformadores, como João Calvino, disseram que a certeza é o direito de nascimento de todo crente, embora ele possa ser experimentado em graus variáveis.
Devemos primeiro entender o relacionamento entre fé e certeza. A certeza surge da essência da fé, assim como maçãs crescem naturalmente em macieiras. A certeza é a “cereja do bolo” da fé. A essência da fé é a confiança. A fé compreende o Deus da aliança e o considera suficiente. Como diz o Salmo 18.2: “O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio” (ACR).
Portanto, os crentes podem, de forma legítima, ter certeza da sua salvação. Davi confessa: “O SENHOR é o meu pastor” (Sl 23.1). Paulo declara: “porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro até aquele Dia” (2Tm 1.12).
A essência da certeza é saber que eu sou salvo — que os meus pecados estão perdoados e que eu pertenço a Deus — e, portanto, eu conheço e experimento comunhão com o Deus triúno. Em Efésios 3.11-12, Paulo escreve a respeito do eterno propósito de Deus “em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele”. Ele descreve esse acesso em termos trinitarianos: “pois por meio dele [Cristo], ambos temos acesso ao Pai no mesmo Espírito” (Ef 2.18).
Cada pessoa da Trindade está envolvida na certeza da fé. Pai, Filho e Espírito Santo nos levam a aproximarmo-nos de Deus com ousadia como o nosso misericordioso e glorioso “Aba, Pai” (Rm 8.15; veja também Sl 103.13; Gl 4.6). Nós temos essa ousadia para com Deus através da obra de Cristo de morrer na cruz e nos atrair para perto de Deus em paz (Ef 2.13-14). O Espírito Santo nos capacita a experimentar a alegria e a paz de sabermos que somos filhos de Deus (Rm 8.16; Gl 5.22). Conforme confiamos em Cristo, o Deus da esperança nos enche de alegria e paz pelo poder do Espírito Santo (Rm 15.12-13).
Contudo, certeza não é algo automático. A Confissão de Fé de Westminster nos diz que verdadeiros cristãos podem passar por muitos conflitos sem certeza (18.3). Certeza é o fruto da fé salvífica. Assim como uma geada fora de tempo pode evitar que uma árvore dê frutos por uma estação, assim também a certeza pode não existir por um tempo mesmo onde há fé verdadeira, e um crente pode, por um tempo, não ter essa certeza.
Um filho de Deus pode andar em trevas (Is 50.10). Pense em Davi, que implorou: “Não me repreendas, SENHOR, na tua ira […]Pois já se elevam acima de minha cabeça as minhas iniquidades” (Sl 38.1, 4). Semelhantemente, Hemã, o ezraíta, chorou: “Sobre mim pesa a tua ira; tu me abates com todas as tuas ondas” (88.7).
Pedro nos exorta a “nos esforçarmos cada vez mais por firmar nosso chamado e eleição” (2Pe 1.10). As suas palavras indicam que um cristão pode encontrar certeza de que Deus o escolheu e o chamou para a salvação em Cristo. Tal certeza é normalmente inseparável do andar com Deus na fé.
A Confissão de Westminster diz:
Uma infalível segurança da fé [é] fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças a que são feitas essas promessas, no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos sermos nós filhos de Deus (18.2).1
Examinemos cada um desses meios de alcançar essa segurança.
A maneira de buscá-la é, primeiro, procurar arduamente conhecer Deus experimentalmente através das suas grandes e preciosas promessas (2Pe 1.2-4). O evangelho promete que Cristo é dado gratuitamente a nós em toda a sua suficiência. Se você vê essas promessas como o “Sim” de Deus em Cristo, você será fortalecido para dar o seu “Amém” a elas (2Co 1.20). Anthony Burgess, que foi um dos teólogos de Westminster, escreveu: “Confiar em Deus e em Cristo quando não sentimos nada além de culpa e destruição dentro de nós é a maior honra que podemos dar a Deus”.
Segundo, devemos buscar crescimento espiritual ao agir a partir das promessas. Pedro disse que Deus nos deu as suas promessas “para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina”, isto é, para que sejamos conformados à imagem de Deus (2Pe 1.4). Esforçar-se para crescer em virtude, conhecimento, temperança, paciência, piedade, fraternal amabilidade e caridade (vv. 5-7) é o caminho para “confirmar a vossa vocação e eleição” (v. 10). Conforme crescemos em nossa capacidade de guardar os mandamentos de Deus, podemos estar seguros de que pertencemos a ele (1Jo 2.3). Aqueles que persistem em baixos níveis de obediência experimentarão, no máximo, baixos níveis de segurança.
A obediência leva a um aumento da certeza porque ela é a evidência de uma fé viva e prova que não somos hipócritas (Tg 2.14). Boas obras não nos salvam (Ef 2.8-9), mas uma vida de retidão e amor é uma forte evidência do novo nascimento (1Jo 2.29; 4.7). William Ames escreveu: “Aquele que entende corretamente a promessa da aliança não pode ter certeza da sua salvação a menos que perceba em si mesmo verdadeira fé e arrependimento”.
Terceiro, quando seguimos a orientação do Espírito Santo de andar pela fé em Cristo, experimentaremos o seu testemunho como Espírito de adoção (Rm 8.14-16).
Todos esses três meios de alcançar certeza da salvação, identificados pelos teólogos de Westminster, são inseparáveis do ministério do Espírito. O Espírito nos leva a abraçar as promessas de Deus, nos mostra as evidências externas da graça em nós e testifica com os nossos espíritos de que somos filhos de Deus.
Uma mulher pode crescer em confiança no amor de seu marido ao caminhar perto dele ao longo da vida, e ao aprender pela experiência que ela é dele e ele é dela. Que Deus abençoe a noiva de Cristo para que ela também caminhe mais perto de seu Marido, Jesus Cristo, e cresça na certeza do seu imutável amor por ela.
Notas:
1 – http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm
Tradução: Alan Cristie