Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo… — 2 Pedro 1.3-4
Há alguns anos, com a bênção irrestrita da minha esposa, comprei uma estação de musculação para treinar o corpo inteiro. Com ela, posso exercitar qualquer músculo do corpo — desde a sola do pé até o alto da cabeça — e trabalhar para chegar a uma condição física excelente. Não preciso estar fora de forma enquanto esse equipamento estiver na minha casa. Quando vejo fotos de homens com o abdômen trincado, sei que tudo de que preciso para alcançar esse tipo de corpo está naquele equipamento. Só preciso de instruções sobre como usá-lo e de autodisciplina para dar-lhe bom uso. Isso é o que Pedro nos diz em 2 Pedro 1.3-4. Não temos desculpa para a falta de fruto na nossa vida, porque tudo de que precisamos para chegar a uma condição espiritual excelente foi fornecido pelo Senhor Jesus Cristo.
Seu poder divino nos deu todas as coisas
O apóstolo Pedro diz que o poder de Deus nos dá tudo de que precisamos para alcançar e sustentar nossa vida espiritual e piedade (v. 3). O grego original expressa isso do seguinte modo: “Todas as coisas que dizem respeito à vida e à piedade, seu divino poder nos concedeu”. Pedro não enfatiza a fonte do que nos é dado, e sim o dom que recebemos dessa fonte. Recebemos “todas as coisas” — absolutamente tudo de que precisamos. Isso é alucinante. Quando você pensar sobre seu próprio crescimento espiritual e lembrar com admiração de pessoas de sua igreja cuja maturidade brilha como o sol em um dia claro de verão, é vital entender que você também pode ser assim, porque Deus não lhe negou nada para essa jornada. O que você precisa para sustentar sua vida espiritual e crescer em maturidade já lhe foi concedido pelo poder de Deus.
Já estivemos espiritualmente mortos, de modo que não podíamos fazer nada por nós mesmos para merecermos o favor de Deus e sermos levados a ter comunhão com ele. O apóstolo Paulo diz: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.1-3). O próprio poder de Deus nos trouxe à vida — e é preciso o poder dele para sustentar essa vida em nós. Essa vida irradia piedade, de maneira que, como resultado, também nos tornamos piedosos. Por isso, o apóstolo Pedro pôde escrever: “pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade”. A vida e a piedade de que essa passagem fala não são dois itens independentes. Isso ocorre porque a vida espiritual que recebemos de Deus é uma vida moral, que nos transforma de dentro para fora. É uma vida que forma piedade em nós.
Piedade é uma atitude de desejar agradar a Deus em tudo o que se faz — na alimentação, nos prazeres, nos relacionamentos pessoais, no trabalho, na escola e até mesmo na ida à igreja. Toda a vida do indivíduo é dominada pelo fato de que Deus deve ser honrado e adorado em tudo. Consequentemente, ele se dispõe a abrir mão de coisas que outras pessoas buscam, pois seu olhar está posto em outro alvo — tudo o que ele quer é agradar a Deus. Isso é piedade.
A piedade não é natural em nós. Ao descrever o nosso estado antes da conversão, o apóstolo Paulo diz que estávamos espiritualmente mortos e éramos escravos de Satanás, do mundo e da nossa própria natureza caída. Nessa tríplice escravidão, os desejos piedosos eram impossíveis. Paulo escreveu aos romanos: “Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.7-8). Até que o poder regenerador de Deus nos torne vivos em Cristo Jesus, somos egocêntricos. Na regeneração, a semente da justiça é plantada no nosso coração. Isso nos dá novos desejos centrados em Deus, desejos que antes eram impossíveis. O poder divino do Senhor Jesus Cristo faz isso conosco. É por isso que o chamamos de Salvador. Ele realmente nos salva da morte espiritual e do pecado.
Pedro é meticuloso na maneira como descreve o que o poder de Deus fez por nós e em nós. Ele diz: “pelo seu divino poder, nos têm sido doadas”. Isso sugere algo concedido gratuitamente, algo que não tivemos de fazer nenhum esforço para conseguir. Também sugere uma transação concluída. Isso nos foi dado e agora está nas nossas mãos.
Se você é verdadeiramente convertido a Cristo, deve saber que Deus já deu tudo aquilo de que você precisa para sustentar sua vida espiritual e garantir a piedade. A transformação inicial que você experimentou em sua conversão foi apenas o começo de uma ascensão que é alimentada pelo Espírito Santo. Você não deveria mais taxiar na pista. Você deveria subir para além das nuvens! Aqueles cristãos cujas vidas piedosas você admira alcançaram alturas espirituais pelo poder do nosso Senhor Jesus Cristo, e não foi por causa de alguma característica pessoal singular que tinham e que você pode não ter. A obra de Deus na alma de cada um deles está sendo manifestada visivelmente no modo como vivem.
Por meio do nosso conhecimento de Jesus Cristo
O apóstolo Pedro passa a descrever como o poder de Deus trabalha na nossa vida. É “pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (2Pe 1.3). Pedro já se referira a esse conhecimento do Senhor Jesus Cristo em sua saudação, quando escreveu, no versículo anterior: “Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor” (2Pe 1.2). Será que ele está apenas se repetindo? Não, desta vez, ele enfatiza a glória e a excelência para as quais Jesus está chamando seu povo. Ele não queria que seus leitores passassem por cima do fato de que aquele por meio de quem eles crescem até a maturidade espiritual os chamou para essa maturidade. Veremos isso em breve. Por enquanto, o que importa é perceber a necessidade de conhecimento na fé cristã.
O cristianismo se apoia no nosso conhecimento fundamental da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Essa é a maneira como chegamos à fé. Não podemos nos tornar cristãos se não conhecermos a pessoa e a obra do Senhor Jesus (Jo 17.3). É por isso que, quando missionários saem pelo mundo para espalhar a fé cristã, falam às pessoas sobre Jesus. A menos que seus ouvintes conheçam esse Jesus e nele coloquem sua confiança, não podem ser salvos. A vida espiritual e a piedade começam com conhecer Cristo de uma maneira salvífica.
O desenvolvimento espiritual e a piedade que o acompanha decorrem do aumento desse conhecimento. Se o nosso conhecimento fica velho e mofado, o mesmo acontece com a vida espiritual e a piedade. É por isso que, quando Pedro começa a exortar os crentes a crescerem, no versículo 5, ele os exorta a que acrescentem virtude (ou excelência) à sua fé e, depois, a que adicionem conhecimento à virtude. Aprenderemos mais sobre esse conhecimento em um capítulo posterior. Por enquanto, é importante apenas reconhecer que não ocorre verdadeiro crescimento espiritual onde o conhecimento de Jesus Cristo não é a força motriz.
No mundo natural, os pais sabem que os filhos precisam comer para crescer. Por isso, são rigorosos com os horários das refeições. Eles querem que seus filhos tenham uma dieta balanceada e uma boa nutrição. Quando uma criança adoece e perde o apetite, os pais não deixam isso para lá. Eles sabem que é comendo que a criança ganhará forças para combater a doença e regenerar as células do corpo. Então, fazem o possível para garantir que ela coma, mesmo sem vontade. Com o tempo, à medida que ela vai vencendo a doença, o apetite aumenta, e a vida volta ao normal. O crescimento está garantido outra vez.
Essa realidade do mundo natural também se aplica ao espiritual. Para crescer, precisamos continuar alimentando a mente com a verdade. O pecado causa uma perda de apetite espiritual, que gera uma perda de interesse em saber mais sobre o nosso grande Deus e Redentor, Jesus Cristo. Você começa a arranjar desculpas para não ler a Bíblia, bem como para faltar aos cultos da igreja e aos estudos bíblicos. A verdade é que sua alma está doente. Na verdade, é aí que você precisa ainda mais da Bíblia. Temos de insistir na busca do conhecimento do nosso Salvador. À medida que somos restaurados espiritualmente, nosso apetite retorna e queremos aprender mais sobre Cristo. Queremos ser revigorados por esse conhecimento, que fortalece ainda mais a nossa piedade. A energia obtida dessa maneira nos faz frutificar como crentes.
Comentamos anteriormente que, ao se referir ao conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo duas vezes nos três primeiros versículos, Pedro não está se repetindo. De fato, ele enfatiza o chamado de Jesus Cristo na nossa vida. É um chamado para a glória e excelência dele. Vamos examinar isso agora em mais detalhe.
Diferentes versões da Bíblia traduzem esse trecho de maneiras ligeiramente diferentes. Algumas versões dizem: “[Ele] nos chamou por sua glória e virtude/excelência” (ARC), enquanto outras dizem: “[Ele] nos chamou para a sua própria glória e virtude/excelência” (ARA). A construção gramatical grega permite as duas interpretações. O ponto que Pedro parece ressaltar é que a glória e a excelência de Jesus devem nos levar a buscar uma posição espiritual mais elevada. Foi para isso que ele nos chamou pela própria natureza de seu ser. Quando começamos a nos relacionar com ele, nós nos damos conta de que precisamos buscar nos tornar mais semelhantes a ele.
Pense no seguinte: quer você esteja se candidatando para um emprego em uma oficina mecânica, quer no Banco Central, uma de suas primeiras dúvidas será o que vestir para a entrevista. O convite para a entrevista não precisa lhe dizer como se vestir. Você pensará na vestimenta apropriada para o trabalho que quer. Muito provavelmente, para a entrevista na oficina, você irá de jeans, com uma camisa polo, ou até mesmo um macacão azul. Mas, para uma entrevista no Banco Central, você vestirá traje passeio completo. A glória e a excelência do banco o levaram a escolher suas roupas mais elegantes. Além de pensar no que vestirá, você também vai querer saber mais sobre a empresa e se perguntará: “Que valor vou agregar?”. Usemos o banco como exemplo. Você aumentará seu conhecimento sobre o banco por meio da leitura de tudo o que puder encontrar sobre sua história, suas operações, sua administração e assim por diante. Com todas essas informações, você sente que está tendo contato com um lugar de grande importância e imponência. Você sente cada vez mais que será um grande privilégio conseguir trabalhar ali. Se você tem alguma integridade na alma, também assumirá o firme compromisso de que, se finalmente for chamado para o emprego, dará o melhor de si para defender os valores daquela instituição.
Jesus é gloriosamente magnífico. Ele é uma pessoa de excelência absoluta. Ele está no extremo oposto da escala, quando comparado ao que este mundo doente de pecado oferece. Dez mil vezes dez mil anjos assistem ao seu trono e o adoram. Ele o chamou para ele e para o seu Reino, mas você não pode entrar no Reino dele com uma atitude relaxada, como se estivesse entrando em seu próprio quarto. Você não pode viver no reino dele com uma espiritualidade superficial e carnalidade mundana. Isso é uma contradição absoluta. Você deve almejar a mesma glória e excelência de vida que ele tem. Ao considerar quem Cristo é, você sente que há alturas de espiritualidade e piedade que você precisa alcançar. Felizmente, Pedro nos diz que o poder de Jesus dá tudo aquilo de que precisamos para subir a essas alturas. À medida que seu conhecimento sobre ele aumenta, o poder atua para que você deseje fazer a boa vontade de Deus.
Filhos de pastores sofrem por causa disso, muitas vezes injustamente. Quando alguém descobre que um filho de pastor fez algo de errado, repreende-o: “Como você pôde fazer isso? Você é filho de um pastor. Deveria ter vergonha de si mesmo”. A lógica é que, como a criança vem de um lar dignificado com espiritualidade, deveria viver uma vida de santidade exemplar. Eu digo que isso muitas vezes é injusto, pois devemos deixar as crianças serem crianças. A infantilidade faz parte da alegria da infância. Além disso, não se pode esperar que os não convertidos vivam como os convertidos. Eles devem ser exortados a se tornarem cristãos, e não a se amoldarem a uma vida interior que é totalmente estranha a eles. Mesmo assim, a sociedade espera que eles vivam em conformidade com o chamado de seus pais. Embora isso seja injusto para os filhinhos não convertidos do pastor, não é injusto para aqueles a quem Jesus Cristo chama para o seu Reino. Isso ocorre porque o divino poder de Cristo nos capacita a buscar uma vida que mostra algo de sua glória e excelência.

O artigo acima foi retirado e adaptado com permissão do livro Crescimento Espiritual – Como alcançar a maturidade em Cristo, de Conrad Mbewe, em breve pela Editora Fiel.