quarta-feira, 27 de novembro
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A cruz de Cristo

Quem, na opinião de Charles Haddon Spurgeon, foi o maior teólogo do seu século? Bem, ninguém mais do que Andrew Fuller, o pastor batista e teólogo missionário que pastoreou durante a maior parte da sua vida, em Kettering, Northamptonshire, na antiga Inglaterra. Se alguém perguntasse a Spurgeon as razões de sua admiração por Fuller, uma razão que ele poderia dar seria a ênfase de Fuller sobre a centralidade na cruz.

Em toda sua vida cristã, Fuller foi convencido de que a cruz de Cristo era a essência do Cristianismo. Em 1802, ele defendeu que “ela é o ponto central no qual se encontram e são unidas as linhas da verdade do evangelho”. Assim como o sol é absolutamente vital para a manutenção do sistema solar, assim “a doutrina da cruz é para o sistema do evangelho; é a sua vida”. Outras observações semelhantes aparecem em uma série de obras de Fuller. Em um sermão pregado em 1801, Fuller traz à memória de seus ouvintes: “Cristo crucificado é o ponto central no qual se encontram e são unidas todas as linhas da verdade do evangelho. Não há outra doutrina nas Escrituras que tenha uma relação tão importante”. A morte redentora de Cristo, Fuller declarou em 1814, nada mais é do que “o sangue vital do sistema do evangelho”. Em resumo, a cruz é “a magnífica peculiaridade e a principal glória do cristianismo”, e tudo o que for equivalente ao próprio evangelho: “A doutrina da salvação através de Cristo… é, por sua primazia, chamada de evangelho”.

Diante dessa visão sobre a morte de Cristo, não ficamos surpresos em encontrar Fuller afirmando a respeito da doutrina da cruz, que “Deus, em todas as eras, se deleitou em honrar”. Qualquer que seja o lugar onde a igreja tenha experimentado tempos de vitalidade e vigor espiritual – “tempos de grande avivamento”, como Fuller os denominou – ali a obra expiatória de Cristo obteve um lugar de exaltação. Fuller observou que essa foi a doutrina central da Reforma, e à qual os Reformadores deram proeminência. Foi o tema principal dos puritanos e dos antepassados espirituais de Fuller, não conformistas do século XVII. Em seus dias, os triunfos missionários dos morávios nas Índias Ocidentais, entre os esquimós, e na Groelândia, foram triunfos da cruz: a “doutrina da expiação pela morte de Cristo (…) forma o grande assunto de seu ministério”. Quando Fuller olhou além da realidade histórica para a eternidade e o céu, ele foi convencido de que ali, também, a cruz era o “tema preferido” de seus habitantes.

Assim sendo, se uma igreja ou denominação rejeita a doutrina da cruz, ela não é nem um pouco melhor do que uma “massa morta e pútrida”. Acabar com “a obra expiatória de Cristo e todo o [sistema] cerimonial do Antigo Testamento nos parece um pouco mais do que uma massa morta de matéria desinteressante: a profecia perde tudo o que tem de interessante e cativante; o evangelho é aniquilado ou deixa de ser aquela boa nova aos pecadores perdidos que ela professa ser; a religião prática é despojada de seus motivos mais poderosos, a dispensação do evangelho, de sua glória peculiar, e o próprio céu, de suas alegrias condutoras”. Por que, por exemplo, muitas igrejas anglicanas nos dias de Fuller eram tão pouco frequentadas? Para Fuller, a resposta estava evidentemente clara: por causa, ele respondeu, “da generalidade do clero em não pregar a doutrina da cruz (…). Não há nada em sua pregação que interesse aos corações, ou alcance a consciência do povo”.

A perspectiva assumida na cruz era, portanto, uma grande linha divisória entre o cristianismo genuinamente bíblico e o nominal. Como Fuller declarou: “Enquanto temos uma mente segundo os apóstolos, determinada a conhecer nada além de Cristo, e ele crucificado, não correremos perigo de nos desviarmos totalmente da verdade, em qualquer de seus âmbitos; mas se perdermos de vista essa estrela-guia, logo tropeçaremos nas pedras do erro”.

Então foi assim que Fuller, quando estava falecendo em 1815, em sua última carta para seu grande amigo e mais tarde biógrafo, John Ryland Jr., reafirmou a centralidade da cruz. Depois de citar 2 Timóteo 1:12, Fuller disse: “Eu sou uma criatura pobre e culpada, mas Cristo é meu Salvador poderoso. Eu preguei e escrevi muito contra o abuso da doutrina da graça, mas toda essa doutrina é o que me salva e o que desejo. Não tenho nenhuma outra esperança fora dessa salvação por meio da simples graça soberana e eficaz, através da expiação de meu Senhor e Salvador. Com essa esperança, eu posso entrar na eternidade com tranquilidade”.

Dr. Michael Haykin é professor de história da igreja e espiritualidade bíblica no Southern Theological Baptist Seminary em Louisville, Kentucky. Ele é autor dos livros “Palavras de Amor” e “Redescobrindo os pais da igreja: Quem eles eram e como moldaram a igreja” (Editora Fiel).


Autor: Michael Haykin

Michael Haykin é professor de história da igreja e espiritualidade bíblica no Southern Theological Baptist Seminary, em Louisville, Kentucky, onde também trabalha como diretor do Centro de Estudos Batistas Andrew Fuller. Haykin é autor de inúmeros livros.

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