sábado, 16 de novembro
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No nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo

Por que escrever sobre a comunhão com a Trindade? Pode um tema desses ter algum valor prático para a vida cristã hoje?

Como é fácil perder de vista o que é básico no Novo Testamento e seu ensino sobre o significado de ser cristão. Pois toda a vida cristã, desde seu início, é vivida à luz do fato de que fomos batizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.1

Ser cristão é, primeira e principalmente, pertencer ao Deus trino, recebendo um nome dado por ele. Este é o coração e cerne dos privilégios do evangelho. Antes éramos estranhos à família de Deus, opostos a Cristo, sem desejo ou poder para agradá-lo. Mas agora, por meio do Filho enviado ao mundo pelo Pai para nos salvar, e o Espírito, que nos traz todos os recursos de Cristo, alcançamos “a graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo.”2 Tornar-se crente em Cristo é ser conduzido a uma realidade muito maior do que qualquer coisa que pudéssemos imaginar. Significa comunhão com o Deus trino.

Porém, não é verdade que, a despeito de alguns sinais encorajadores, muitos cristãos raramente pensam sobre a importância de Deus ser uma Trindade? Às vezes parece que um Deus de uma única pessoa bastaria parta nos satisfazer — quer fosse essa pessoa o Pai ou Filho ou Espírito Santo. Pensar em Deus como uma tri-unidade simplesmente complica as coisas. Pode parecer assim, já que a doutrina da Trindade certamente é (1) a mais teórica e (2) a menos prática de todas as doutrinas cristãs — não é mesmo? É teórica — pois como pode Deus ser três-em-um? E nada prática, já que não faz diferença para a vida cristã no dia a dia.

Uma Verdade Negligenciada

Muitos cristãos se surpreendem ao aprender a espécie de companhia que mantemos quando pensamos dessa maneira, pois essa era a visão dos filósofos do Iluminismo. Na verdade, é precisamente o ponto de vista de Emanuel Kant (1724–1804), famoso por escrever: “A doutrina da Trindade, tomada literalmente, não tem a mínima relevância prática, mesmo quando pensamos entendê-la; e é mais claramente irrelevante se percebermos que transcende a todos os conceitos”.3

Um século mais tarde, Friedrich Schleiermacher (1768–1834), chamado muitas vezes de “Pai da teologia moderna”, afetou ainda mais a igreja cristã ao relegar a discussão sobre a Trindade a um apêndice em sua obra principal, A Fé Cristã. O que era outrora a posição do cristianismo liberal, hoje reaparece entretecido no evangelicalismo moderno. Vivemos uma época que enfatiza a vida cristã na prática; temos pouca paciência para a difícil doutrina da Trindade.

E então, Kant estava certo? Será que a doutrina da Trindade “não possui relevância prática”?

John Owen enfrentou reações similares: por um lado, ataques quanto à natureza “irracional” da doutrina da Trindade, e do outro, ênfase sobre apenas uma ou outra pessoa (Pai ou Filho ou Espírito Santo). No entanto, Owen cria que, em vez de ser especulativa, a doutrina da Trindade oferecia a luz pela qual tudo mais ficava claro. Em vez de ser nada prática, era a verdade mais prática de todas — pois o que poderia ser mais prático do que conhecer a Deus em Jesus Cristo pela obra iluminadora do Espírito Santo? Pois certamente esta é a “vida eterna” da qual Jesus falou: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.4

À luz disso, pode parecer confuso que a “vida eterna” possa ser reduzida a um sentimento de paz, de encontrar propósito, ou, infelizmente, conseguir avanços no projeto de vida pessoal. Em contraste a essas ideias, o próprio Jesus descreveu a vida eterna como conhecer a Deus.

Tal conhecimento de Deus é nosso motivo de orgulho, observou Paulo: “para que, como está escrito: ‘Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor’”.5 As suas palavras ecoam a grande declaração de Jeremias: “Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR”.6

Esta não é uma perspectiva mais da antiga aliança do que da nova aliança. Pois, mais tarde, falando como porta-voz de Deus, Jeremias previu os dias da nova aliança: “Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei”.7

O perdão dos pecados que gozamos, a paz com Deus que recebemos, na verdade, nossa justificação e reconciliação são, em certo sentido, meios para este grande fim — que o conheçamos. É por isso que Paulo descreve a conversão nestes termos: “mas agora que conheceis a Deus”.8 Com certeza é por isso que o Senhor Jesus, nas horas mais tristes da vida de seus discípulos, gastou tempo ensinando-os sobre o conhecimento de Deus, e especialmente as inter-relações do Pai, do Filho e do Espírito Santo, além do significado desses relacionamentos para os crentes.9

Owen partilhava a magnífica visão de seu Mestre. Fomos criados para conhecer e amar a Deus em toda a sua glória. Para vergonha nossa, viramos as costas a tal honra: “porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato”.10

A maravilha do evangelho é que somos restaurados a este alto privilégio quando aprendemos a “nos revestir do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”.11 Não é de surpreender, portanto, que alguém tão imbuído do pensamento bíblico quanto John Owen colocasse o conhecimento de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, no centro de seu ensino.

As Respostas de Owen

Poderíamos esperar que John Owen tivesse suas próprias respostas às duas razões mais comuns pela negligência do pensamento e da vida Trinitariana.

(1) Sugerir que a Trindade seja uma doutrina irracional é fazer do homem e de sua própria razão a medida de todas as coisas. Assume, de modo comum, a falsa filosofia de que Deus é como o homem, e sempre que falamos ou pensamos nele, atribuímos a ele apenas versões maiores daquilo que é verdade quanto a nós mesmos. Mas, como Karl Barth comentou espirituosamente certa vez: “Não se pode falar de Deus simplesmente ao falar do homem com uma voz mais alta”.12

A verdade é que somos propensos a olhar pelo lado errado do telescópio. Movemo-nos do homem para Deus. Mas o pensamento verdadeiro — que reconhece a verdadeira distinção entre Criador e criatura, entre o Infinito e o finito — tem de começar sempre a partir de Deus. Não é tanto que descrevemos a Deus em termos antropomórficos; é que ele nos criou de forma teomórfica. Somos nós as miniaturas. Em nós — gente criada, finita — estão embutidos reflexos microcósmicos de realidades que são verdadeiras quanto ao próprio Deus de modo macrocósmico, não criado e infinito.

Owen entendia isso, e diz (em uma declaração admitidamente desafiadora ao intelecto): “Em essência, dizer que só pode haver uma pessoa poderá ser verdade quando a substância for finita e limitada, mas não tem lugar naquilo que é infinito”.13

Da perspectiva de criatura, portanto, o ser trinitário de Deus não pode mais ser considerado irracional, mas suprarracional. Aquilo que vai além da razão humana não é necessariamente contraditório em relação à razão verdadeira e última. A mente finita não consegue compreender a mente infinita de Deus. Conquanto possamos apreender a divindade de Deus, fica patente que não podemos compreendê-la completamente. Pensar de outro modo nos faria cair sob a crítica de Martinho Lutero quanto ao eminente humanista Desiderius Erasmus (1466–1536): “Vossos pensamentos sobre Deus são demasiadamente humanos”.14

Há lugares em nossa busca por entendimento onde chegamos aos limites da mente humana. O que é finito não tem a capacidade plena de alcançar e entender o infinito. Mas a maneira como nós respondemos exatamente neste ponto é significativa. Será que diremos com Nietzsche: “Mas revelar todo meu coração a vós, meus amigos, se houvesse deuses, como poderia eu suportar não ser um deus! Portanto, não há Deuses”?15 Ou nos curvaremos, “perdidos em maravilha, em amor e louvor”,16 porque reconhecemos que chegamos ao horizonte do entendimento humano e só podemos contemplar, pasmos, o Deus tão infinitamente grande e glorioso, que ama e cuida de nós? Nisto está a diferença entre a abordagem de alienação e a abordagem da fé.

(2) Owen está interessado em nos conduzir além da controvérsia intelectual. Pois, longe de ver a Trindade como doutrina nada prática e abstrata, ela é, para ele, necessariamente, a mais prática de todas as doutrinas, simplesmente porque conhecer Deus é vida eterna.

Porém, antes de examinar detalhadamente as implicações de tal conhecimento, temos de ver como Owen entende os ensinamentos da Bíblia com respeito à Trindade.

Sobre a Trindade

Owen se coloca sem receio sobre os ombros de multidões de cristãos que o precederam. Ele vê que o ensino bíblico é de fato bastante claro: Deus é um.17 No entanto, Pai, Filho e Espírito Santo são vistos, cada um, como sendo divino. Não é apenas o Pai o próprio Deus, mas o Novo Testamento aplica a Jesus citações do Antigo Testamento que, em seu contexto original, se referem claramente ao ser divino.18 Além disso, os atributos e atos divinos e pessoais são atribuídos ao Espírito Santo.

É por esta razão que os cristãos são batizados em um único nome, que tem uma tríplice pronunciação: “Pai, Filho e Espírito Santo”.19 Aqui, Owen dá uma nova guinada em uma observação feita pelo antigo pai da igreja, Atanásio, dizendo que, se o Filho e o Espírito não são divinos, então somos inexplicavelmente batizados em nome do único Deus e de duas criaturas. Owen nota: “Se aqueles em cujo nome nós somos batizados não forem de natureza una, somos, pelo nosso batismo, envolvidos no serviço e culto de mais deuses do que um só”.20

Como esta pode ser uma doutrina prática? Para Owen, isso é como perguntar como o casamento seria um sistema prático. A presença e o caráter de nosso cônjuge mudam absolutamente tudo!

Ele desenvolve dois aspectos da teologia trinitariana que foram expostas primeiramente pelos pais da igreja. A primeira é a doutrina das obras da Trindade (opera Trinitatis). A segunda é a doutrina das atribuições das pessoas da Trindade (appropriationes personae).

Estas expressões poderão parecer obscuras e complexas, porém são, na verdade, doutrinas muito belas, que, de maneira maravilhosa, abrem para nós o que significa conhecer a Deus, nos ajudando a gozar de comunhão com ele.

Opera Trinitatis ad extra sunt indivisa

Esta sentença, que soa grandiosa, é possível traduzir com pouco ou nenhum conhecimento do Latim: as obras externas da Trindade são indivisíveis. É outra forma de dizer que quando Deus age, ele sempre age como Deus, a Trindade. Os pais da igreja tinham uma declaração correspondente com respeito ao ser interior de Deus como Trindade,21 deixando implícito que a comunicação de amor entre qualquer uma das pessoas divinas sempre envolve as três pessoas. A declaração de Paulo de que “o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus”22 deixa isto implícito. Quer dizer que, quando Jesus falou sobre o amor do Pai pelo Filho e o amor do Filho pelo Pai, ele não excluiu o Espírito deste abraço mútuo. Na verdade, Agostinho ensinou que em certo sentido o Espírito é o elo deste abraço.

Em todos os atos e expressões do amor de Deus e de seu propósito para com o cosmos, especialmente para com homens e mulheres criados à sua imagem, cada pessoa da Trindade está envolvida. Isso fica especialmente claro em suas notáveis ações na criação e encarnação.

O Pai é o Criador, no entanto, ele fez todas as coisas por intermédio de seu Filho, o Verbo, sem o qual “nada do que foi feito se fez”.23 Já em Gênesis 1.2, lemos sobre o Espírito de Deus pairando sobre as águas, como executivo divino que superintendeu a criação originalmente sem forma, vazia, em trevas, a fim de trazer ambas, forma e plenitude, à luz de Deus.

Mais adiante, o Pai enviou seu Filho. O Filho veio voluntariamente, assumindo nossa carne e carregando nossos pecados. Foi concebido no ventre da Virgem Maria. Da mesma forma, na ressurreição, o Pai levantou o Filho. O Filho saiu do túmulo, mas o fez no poder do Espírito. Ele foi “designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor”.24 Como outros antes dele,25 Owen estava impressionado pela linda afirmação de Gregório de Nazianzo: “Não posso pensar no Deus único sem ser imediatamente cercado pelo esplendor dos Três, nem posso discernir as Três Pessoas sem ser imediatamente atraído de volta àquele que é um”.26

Estes três, diz Owen: “assim conhecem um ao outro, amam um ao outro, se deleitam um no outro”.27 Não é surpresa que Agostinho escrevesse: “Em nenhum outro assunto é o erro mais perigoso, ou a inquirição mais trabalhosa, ou a descoberta da verdade mais proveitosa”.28 Há aqui mistério, mas é um mistério de infinita glória, que conduz à humilde adoração e dedicação.

Há ainda outro aspecto à doutrina clássica da Trindade que Owen convoca a servir. É essa segunda dimensão que ele desenvolve com detalhes incomuns, senão singulares, de maneira tal que nos leva a apreciar mais profundamente o que significa conhecer a Deus. Esta é a doutrina das atribuições.

Appropriationes Personae

Se a doutrina da opera Trinitatis ressalta a unidade da Trindade, a doutrina das atribuições ressalta a diversidade de papéis e funções entre Pai, Filho e Espírito Santo. Esta doutrina significa que cada pessoa expressa a sua pessoalidade específica, tanto internamente (com relação às outras pessoas) quanto externamente (com relação ao cosmos e especialmente à humanidade).

Há um relacionamento profundo entre as disposições e os atos de cada pessoa da Trindade e a natureza do conhecimento do cristão e sua comunhão com essa pessoa. Nossa experiência do Pai, do Filho e do Espírito Santo é formada pelo papel específico que cada um desempenha em relação a nossa vida, em especial na nossa salvação.

Esta simples verdade — mas que expande a mente e os afetos — pode ser ilustrada de modo simples, pela confusão no discurso que às vezes ouvimos quando escutamos outra pessoa orando. Por acidente, displicência ou ignorância, uma pessoa se dirige a Deus em oração como “Pai nosso” e agradece-o por tudo que ele tem feito. Mas então, talvez perdendo o fio do que está dizendo, agradece o Pai por, entre outras coisas, “ter morrido na cruz por nós”. Sem querer, ele se torna culpado de uma conhecida heresia de título latino sofisticado: patripassianismo.29

O Pai não sofreu e morreu por nós na cruz. Foi o seu Filho, Jesus Cristo, quem o fez. Embora certamente seja correto (e mais que apropriado) louvar ao Pai por enviar seu Filho para morrer por nós, um momento de reflexão confirmará que o próprio Pai não morreu.

Antes de prosseguir, vale a pena fazer uma pausa para refletir sobre algumas implicações práticas daquilo que acabamos de dizer. Pois se nem o Pai nem o Espírito morreu por nós na cruz, quer dizer que devemos louvar somente ao Filho por fazer tal sacrifício. Temos razões singulares por agradecê-lo (distintamente do Pai e do Espírito), o que significa que existe um elemento singular à nossa comunhão com ele. No entanto, ao mesmo tempo, isso sugere também que existam elementos em nossa comunhão com o Pai (“Pai, obrigado por enviar o teu próprio Filho por mim”) e com o Espírito Santo (“Espírito Santo, obrigado por estar com Jesus e sustenta-lo quando ele morreu por mim na cruz”30).

Tal entendimento está sempre expandindo. Quanto mais refletimos sobre o modo como a Escritura detalha as atividades do Pai, do Filho e do Espírito, mais plena e rica é nossa comunhão com Deus. Não será mais uma comunhão com um ser não diferenciado, mas comunhão com um ser profundamente pessoal, na verdade tri-pessoal, com tudo que ele é em suas três pessoas, cada qual do Três indivisível se fazendo conhecido a nós de maneiras especiais e distintas.

O Deus Vivo

Isso, para John Owen, estava no coração do que significa conhecer a Deus e desfrutar de comunhão com ele.31 Assim como é inconcebível que um Deus unitarista tenha comunhão pessoal dentro de seu próprio ser, também é inconcebível que um cristão goze comunhão com um Deus que, tendo toda espécie de atributos, não conseguisse expressá-los dentro de seu próprio ser. Tal deus não é o Deus vivo de maneira nenhuma, mas impessoal e estático.

Em contraste, o Deus da Bíblia é o Deus vivo — intercâmbio do Pai com Filho, Filho com Espírito, Espírito com Pai, Pai e Filho com Espírito, Espírito e Filho com Pai, Pai e Espírito com Filho. Era isto que os pais da igreja gregos chamavam de perichoresis — o mover para dentro e para fora (como em uma dança coreografada) do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em um cosmos interno eterno, autossuficiente de amor e santa dedicação, e em infindo conhecimento mútuo.

Talvez o mais próximo que experimentaremos disso seja a descoberta de uma amizade ou amor, no qual os envolvidos parecem se perder e se encontrar em uma fascinação e satisfação sem fim de conhecer e ser conhecido, amar e ser amado por outra pessoa. O próprio tempo parece ter parado ou se tornado em um fluxo interminável; ser parece muito mais significante do que fazer; estar juntos se torna um prazer que a tudo absorve, consome e exige.

John Owen começou a aprender dos apóstolos que lá no fundo, no fundamento do conhecimento de Deus, no viver e no deleitar-se com a vida cristã, asseguram a experiência dessas verdades básicas:

Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!32

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo33

O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.34

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.35

Isto, então, diz Owen, “pressiona ainda mais a verdade que está sob demonstração; havendo tal distinta comunicação da graça entre as diversas pessoas da Divindade, os santos precisam ter comunhão distinta com essas pessoas”.36

Temos agora de nos voltar para as ricas maravilhas desta comunhão com cada pessoa da Trindade.

Notas:

1 – Mateus 28.19.
2 – 2Coríntios 13.14.
3 – Emanuel Kant, The Conflict of the Faculties, trad. Mary J. Gregor (New York: Abaris Books, 1979), pp. 66–67. Itálicos no original.
4 – João 17.3.
5 – 1Coríntios 1.31.
6 – Jeremias 9.23–24.
7 – Jeremias 31.34.
8 – Gálatas 4.9.
9 – Ver João 14–17.
10 – Romanos 1.21.
11 – Colossenses 3.10.
12 – Karl Barth, The Word of God and the Word of Man, trad. D. Horton (New York: Harper and Row, 1957), p. 196.
13 – John Owen, On Communion with God the Father, Son, and Holy Spirit, each person distinctly, in love, grace, and consolation; or, The Saints’ Fellowship with the Father, Son, and Holy Spirit Unfolded, em Obras 2:388.
14 – Martinho Lutero, On the Bondage of the Will, em Luther and Erasmus, eds. E. Gordon Rupp and Philip S. Watson (Philadelphia: Westminster Press, 1969), p. 125.
15 – Friedrich Nietzsche, Thus Spake Zarathustra, eds. Adrian Del Caro e Robert Pippin, Cambridge Texts in the History of Philosophy (Cambridge, England: University Press, 2006), p. 65. Itálicos no original.
16 – Do hino “Love Divine, All Loves Excelling” by Charles Wesley (1707–88).
17 – Deuteronômio 6.4; Isaías 44.6, 8.
18 – Ver Obras 2:323–26 para o que Owen chama de “algumas” dessas passagens.
19 – Mateus 28.18–20.
20Obras 2:405.
21Opera Trinitatis ad intra sunt indivisa.
22 – 1Coríntios 2.10.
23 – João 1.3.
24 – Romanos 1.4.
25 – Calvino cita as mesmas palavras de Sobre o Santo Batismo, de Gregório, Oration 40.41 em Institutas 1.13.17.
26 – Owen cita as palavras de Gregório em Works 2:10, n. 1, ao longo das palavras de Tertuliano em seu tratado Contra Praxeas dizendo com efeito que o Pai é um e o Filho é um, não por divisão mas por distinção. Praxeas era herege primitivo que adotou o ponto de vista modalista monarquista de que Pai, Filho e Espírito Santo eram simplesmente “modos” ou aparências do Um. Tertuliano é afamado por notar que “Praxeas em Roma conseguiu duas peças do trabalho do Diabo: expulsou a profecia e introduziu a heresia; pôs a correr o Parácleto e crucificou o Pai”; Contra Praxeas, cp. 1.
27Obras 2:406.
28 – Agostinho, De Trinitatis 1.3.
29 – A heresia associada a Praxeas em que o Um (portanto, o Pai) sofreu sobre a cruz.
30 – Ver Hebreus 9.14 para isto.
31 – Thomas Goodwin — amigo de Owen, como ele Independente, e colega de pregação em St. Mary’s, Oxford — partilhava a mesma perspectiva: “Algumas vezes comunhão e conversação com um homem, às vezes com o outro, e às vezes com o Pai, e depois com o Filho, e então com o Espírito Santo. Por vezes o seu coração é instado a considerar o amor do Pai ao nos escolher, e depois o amor de Cristo em nos redimir, e então o amor do Espírito Santo, que sonda as profundezas de Deus, e as revela a nós, e toma conosco todas as nossas dores, de maneira que uma pessoa vai de uma testemunha para outra distintamente, que, digo eu, é a comunhão que João deseja que nós tenhamos”. Of the Object and Acts of Justifying Faith (Do objeto e dos atos da fé justificadora), 2.2.6, em The Works of Thomas Goodwin, ed. Thomas Smith (Edinburgh, Scotland: James Nichol, 1864), 8:378–79. Goodwin observa isso num contexto mais amplo de uma discussão da segurança da salvação. Seria interessante especular sobre que conversas passaram entre estas duas destacadas figuras durante o tempo em que estiveram juntos em Oxford como líderes acadêmicos e colegas pregadores. Infelizmente, nenhum dos dois deixou documento sobre seu relacionamento. Embora esteja claro que aqui compartilhavam uma perspectiva comum, como em outras questões (os dois eram congregacionais), somente Owen dedicou uma exposição extensa quanto à natureza dessa comunhão trinitária.
32 – Gálatas 4.4–6.
33 – Mateus 28.19.
34 – 1João 1.3.
35 – 2Coríntios 13.14.
36Obras 2:16. Itálicos meus.

 

Fonte: 2º capítulo do livro “A Devoção Trinitária de John Owen”, de Sinclair Ferguson.


Autor: Sinclair Ferguson

Dr. Sinclair B. Ferguson é professor de teologia sistemática no Seminário Redeemer em Dallas, TX, EUA. É reitor do curso de Doutorado em Ministério na Academia Ligonier, e professor no Ministério Ligonier.

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