No meu bairro, há quase trinta sinagogas judaicas. Essas congregações incluem o judaísmo reformado, o ortodoxo e o hassídico. E, é claro, a nossa cidade está cheia de judeus seculares que, há muito, abandonaram qualquer forma tradicional de sua fé. Então, todos os domingos, há a possibilidade de haver algumas pessoas que se identificam com alguma das tradições judaicas acima presentes no culto da nossa igreja.
Assim como a presença de indivíduos divorciados afeta o modo como você prega um sermão sobre casamento, ter judeus no seu culto afeta o modo como você prega o evangelho. De fato, é provável que isso o torne mais bíblico.
Antes de tudo, assim como aqueles ofendidos pela pregação de Paulo ou Pedro, você provavelmente verá pessoas ofendidas ao usar as Escrituras deles para mostrar que Jesus é o Messias e o verdadeiro Rei de Israel.
Eu não sei como você lida com isso, mas os apóstolos pareciam esperar essa ofensa, então, nós provavelmente devemos esperá-la também. Afinal de contas, o evangelho é ofensivo. Contudo, os apóstolos nos dão exemplos que nos protegem de ser mais ofensivos do que o evangelho e nos ajudam a tornar explícita qual é a ofensa do evangelho.
Então, aqui estão alguns pontos para nos ajudar a pregar o evangelho a judeus a partir do Antigo Testamento.
Conheça bem o Antigo Testamento
Não há substituto ao conhecimento do Antigo Testamento. E também não há atalhos. A fim de compreender como os apóstolos no Novo Testamento pregavam e como nós devemos pregar hoje, precisamos conhecer o Antigo Testamento. Precisamos saber não apenas as histórias, mas também como elas se relacionam organicamente umas com as outras. Qual é o enredo do Antigo Testamento? Quais são os temas que perpassam todo o enredo (por exemplo, o Filho de Deus, a aliança, a presença de Deus, a terra e assim por diante)? Uma vez que você comece a ver essas coisas mais claramente, você também verá as muitas tensões no Antigo Testamento que simplesmente imploram para serem resolvidas em Jesus Cristo.
Siga de perto e aprenda com os exemplos dos apóstolos em Atos
O relato de Lucas acerca do ministério primitivo dos apóstolos é de imensa importância. É o único relato substancial dos sermões apostólicos nos quais Cristo é explicitamente pregado a partir do Antigo Testamento. Aqui estão três exemplos:
Pedro, após o Pentecostes, sustentou que Davi estava falando de alguém superior a si mesmo ao dizer, no Salmo 16.10: “Pois não […] permitirás que o teu Santo veja corrupção” (ver Atos 2.25-40).
Estevão, diante do Sinédrio, sustentou que, ao longo de toda a história de Israel, o povo manteve o padrão de rejeitar a Deus quando ele lhes era condescendente, falava a eles e até mesmo habitava com eles. A rejeição do Filho de Deus não era diferente (Atos 7.1-53).
Paulo, em Antioquia, demonstrou que não apenas Jesus era o descendente de Davi, mas que a sua ressurreição cumpria todas as esperanças da linhagem real de Davi que Deus havia prometido (Atos 13.16-41).
Esses homens não estavam usando estranhos truques mágicos hermenêuticos para fazer Jesus aparecer onde quer que eles desejassem, mas eles mostravam que Jesus cumpria as esperanças e aliviava as tensões do Antigo Testamento, o que corresponde ao próximo ponto.
Mostre como Jesus cumpre as esperanças e alivia as tensões do Antigo Testamento
O evangelho de Jesus Cristo cumpre toda esperança e alivia toda tensão no Antigo Testamento: a esperança do perdão dos pecados e as tensões de um sacerdócio inadequado; a esperança do descanso e as tensões de um povo que nunca teve paz com seus inimigos; a promessa de Deus habitar com o seu povo e a tensão de um povo sem templo.
Por exemplo, lembre-se da promessa de Deus a Davi de que ele sempre teria um filho no trono. Deus disse a Davi em 2 Samuel 7.14: “Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho”.
Como D.A. Carson explica, ou Davi teria um filho no trono que teria outro filho no trono – e assim por diante, para sempre e sempre, amém – ou ele teria um Filho especial, que permaneceria no trono para sempre.
Se olharmos para a linhagem de Davi, infelizmente veremos que os seus descendentes se rebelaram contra Deus, seguindo outras nações e confiando em seus falsos ídolos. (Isso foi verdade até com Salomão, o filho a quem Davi primeiro transferiu o reino.) Pouco depois, as nações dominaram Israel, levando-o para a escravidão e o exílio, e nenhum rei sentou no trono. As promessas de Deus pareciam ter sido completamente quebradas. Se você ler o final do Antigo Testamento, quase é possível ouvir o clamor aflito: “Nós precisamos de um filho”.
Certamente, a boa notícia é que em Lucas 3.22 nós encontramos alguém de quem Deus diz: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”. Na verdade, Deus diz a mesma coisa acerca de todo aquele que se submete ao seu senhorio e entre no seu reino.
Embora ofensiva aos judeus, e para todos nós, essa é a melhor notícia do mundo.
Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel