sábado, 16 de novembro
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Cristologia ortodoxa: novo testamento (5/5)

A contribuição do Novo Testamento para a nossa compreensão da Pessoa de Cristo pode encher (e tem enchido) volumes inteiros de obras. Ele tem sido a fonte de rica e profunda meditação teológica durante séculos. Aqui poderemos meramente arranhar a superfície. Neste breve post, vamos olhar para as respostas a duas perguntas: quem Jesus alega ser, e quem seus discípulos dizem que ele é?

O testemunho próprio de Jesus

Não há dúvida de que Jesus se entendia como sendo o Messias profetizado no Antigo Testamento. Ele usa o título “Cristo” (que é a tradução grega da palavra hebraica “Messias”) para si mesmo (p.ex., Jo 4.25-26; 17.3), e aceita que outros usem este título para se referirem a ele (p. ex., Mt 16.16; Jo 11.25-27). Aquilo que o Antigo Testamento prometeu, Jesus afirmava cumprir.

Embora Jesus tenha usado o título “Cristo” para si mesmo, sua auto-designação preferida era o título “Filho do Homem”. Este título ocorre cerca de 69 vezes nos Evangelhos sinóticos e mais 13 vezes no Evangelho de João. Quase todas as vezes que o título ocorre, Jesus está usando-o em referência a si mesmo. “Filho do Homem” é em si um título messiânico, cujo significado completo só pode ser apreciado se examinarmos seu pano de fundo em Daniel 7, onde ele descreve uma figura que sobe para o Ancião de Dias e recebe o domínio sobre todas as coisas. Referindo-se a si mesmo como o “Filho do Homem”, Jesus está dizendo, na verdade: “Eu sou aquele de quem Daniel falou”.

Jesus não apenas se entendia como o Messias prometido, mas também diz e faz coisas ao longo dos Evangelhos que deixam claro que se entendia como sendo o Deus encarnado. Em muitos lugares, Jesus faz reivindicações que implicam sua eterna existência divina anterior à sua encarnação (p. ex., Jo 3.13; 6.62; 8.42). Sua declaração em Mateus 11.27 implica a soberania mútua que ele compartilha com o Pai. Várias das conhecidas afirmações “Eu sou” no Evangelho de João reivindicam ou implicam divindade (Jo 8.58; 13.19). Seus ensinamentos e obras indicam também que ele é Deus encarnado. Ele ensinou a lei como só Deus poderia fazer (Mt 5.22, 28, 32, 34, 39, 44). Ele perdoou pecados (Mt 9.6; Mc 2.10; Lc 5.24), um ato que somente Deus pode fazer. Ele ouve e responde a oração (Jo 14.13-14) e recebe adoração e louvor (Mt 21.16). Simplesmente não é possível ler honestamente os Evangelhos sem reconhecer que Jesus entende-se como o Messias, o Filho de Deus encarnado.

Jesus entende-se como o divino Filho de Deus e Messias, mas quem os discípulos dizem que ele é? Apesar de levar algum tempo para que os discípulos compreendam plenamente quem é Jesus, quando eles de fato reconhecem a verdade, não hesitam em declará-la corajosamente. Natanael chama Jesus de o Filho de Deus e o Rei de Israel (Jo 1.49). Pedro chama-o de “Senhor” (Lc 5.8) e o “Santo de Deus” (Jo 6.69). Mais tarde, Pedro declara que Jesus é “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Paulo também proclama que Jesus é o Cristo (At 17.2-3) e Senhor (1Co 1.2-3) e confessa a divindade de Cristo (Cl 1.15-20; 2.9; Fp 2.6-11). Quando lembramos a confissão básica dos judeus do Antigo Testamento de que o Senhor é um, estas afirmações sobre Jesus, vindas da boca de judeus, são ainda mais surpreendentes.

Várias passagens do Novo Testamento se referem explicitamente a Jesus como Deus. O Evangelho de João, por exemplo, abre com uma declaração da divindade de Cristo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela […] Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, os que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.1-5, 12-14). Aqui o Verbo, que é identificado com Jesus (v. 14), é dito ser “Deus” (v. 1). Não obstante as contorções exegéticas das Testemunhas de Jeová, esta passagem é inequívoca em sua declaração da divindade de Cristo.

O apóstolo Paulo também chama explicitamente Jesus de Deus em vários lugares. Em Romanos 9.5, ele escreve: “deles [os judeus] são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para sempre”. Jesus Cristo, diz ele, é Deus sobre todos. Em Tito 2.13, Paulo fala da manifestação da “glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. As palavras “Deus” e “Salvador” qualificam “Cristo Jesus”. Isto é, Jesus Cristo é Deus e Salvador. Também, Pedro confessa que Jesus é Deus e Salvador no primeiro verso de sua segunda epístola. Pensar sobre as implicações dessas declarações mesmo que apenas por um momento é impressionante.

O Antigo Testamento declarou claramente que o Senhor nosso Deus é único (Dt 6.4). O Novo Testamento continua a enfatizar que Deus é um (Mc 12.29). Entrentanto, ao mesmo tempo, o Novo Testamento também declara que Jesus é Deus. O Novo Testamento está contradizendo o Antigo Testamento? Como os cristãos devem compreender estas afirmações? Como poderia a Igreja confessar que Deus é “um” e, ao mesmo tempo confessar que Jesus Cristo é Deus? A igreja levou vários séculos trabalhando essas questões para explicar o ensinamento do Novo Testamento de uma forma que levasse em conta todas as provas. Em nosso próximo post, vamos começar a olhar para o ensino da igreja primitiva sobre a Pessoa de Cristo.


Autor: Keith Mathison

Dr. Keith Mathison é editor associado da Tabletalk magazine, deão e professor de Teologia Reformada na Reformation Bible College em Sanford, Florida e autor do livro From Age to Age: The Unfolding of Biblical Eschatology.

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