É belamente apropriado que os cristãos se reúnam para o culto público toda semana.
Quando assim fazemos, expressamos juntos o genuíno conhecimento que temos do Deus triuno e expressamos as valiosas afeições que temos por tudo o que Deus é por nós em Jesus. Nós contemplamos com os olhos de nossos corações a suprema beleza de Deus e dos seus caminhos (Ef 1.18). E nós passamos a reconhecer o supremo valor desse tesouro (Mt 13.44; Fp 3.8).
E quando terminamos de publicamente exaltar as glórias de Deus, nós continuamos a adorá-lo nas milhares de tarefas cotidianas em que o supremo valor de Cristo governa as nossas vidas. Esse é o significado de ser um cristão.
Venha para receber
Mas não é como se os cristãos estivessem sempre prontos para transbordar de alegres louvores quando nos reunimos para adorar a cada Dia do Senhor. Deus é glorificado no culto não somente por aqueles que chegam cheios, mas também por aqueles que chegam desesperadamente necessitados e colocam todas as suas esperanças no encontro com Deus. O mesmo coração adorador que diz, “obrigado” e “Deus seja louvado” quando está cheio, diz “eu preciso de Deus, eu anseio por Deus, eu tenho sede de Deus” quando está vazio. Há a mesma apreciação de Deus e em ambos o valor de Deus é reconhecido.
O culto público não é uma reunião somente para transbordar. Quem está cheio pode transbordar. Isso é cultuar. Quem está sedento vem para beber na fonte da vivificante Palavra de Deus. Isso também é cultuar. Isso glorifica a Deus como aquele que é necessário e desejável. Os que sentem fome na alma vêm comer do rico banquete da Escritura. Isso também é cultuar.
Ai do pastor que repreende aqueles que “vêm para receber” e não para dar. Se o que os famintos querem receber é Deus, sua fome glorifica o valor da beleza de Deus que satisfaz a alma. Se as pessoas voltam semana após semana em busca de entretenimento, o pastor pode descobrir o porquê olhando no espelho, não para o povo.
Discípulos esgotados
Quando Davi diz, “Restaura-me a alma” (Sl 23.3, NVI), a implicação é que a alma frequentemente precisa ser restaurada. Por isso, clamamos, “Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário” (Sl 51.12). “Restaura-nos, ó Deus; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos”. (Sl 80.3) “Restabelece-nos, ó Deus da nossa salvação” (Sl 85.4).
Essa experiência é universal entre os cristãos. Em parte, é porque somos pecadores. Nossa velha natureza guerreia contra a alma e se esforça para destruí-la (Gl 5.17; Cl 3.5; 1Pe 2.11). Parte dessa guerra é o esgotamento
Outra razão para precisarmos de restauração é porque somos criaturas. Nós sempre seremos criaturas. Portanto, sempre precisaremos da graça de Deus. Até os santos aperfeiçoados e glorificados serão beneficiados pelo ministério de outros santos no mundo porvir em que não haverá pecado. Do contrário, relacionamentos significativos não existiriam. Portanto, tanto como pecadores quanto como criaturas, precisamos de ajuda para preservar a adoração no coração
À luz dessa necessidade normal que verdadeiros cristãos experimentam, Deus nos criou para dependermos de outros seres humanos para despertar, sustentar e fortalecer o nosso culto – nosso conhecimento de Deus e o reconhecimento do valor que ele tem. Há muitas declarações do Novo Testamento que deixam isso claro.
Corações sustentados através de seres humanos
Primeiro, Deus determinou que haveria pastores e mestres na Igreja (Ef 4.11). Ele exigiu que eles fossem “aptos para ensinar” (1Tm 3.2). Isso significa que Deus nos projetou para sermos ajudados por outros seres humanos que são ministros da Palavra, não somente por nossa própria leitura e oração particular.
Segundo, o exemplo de Paulo ao fortalecer as igrejas que ele inaugurou deixa claro que precisamos dos ministros:
“E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”. (At 14.21-22)
Os cristãos não foram projetados por Deus para serem fortes na fé e fervorosos no culto sem outros ministros cristãos para fortalecer suas almas.
Terceiro, a nossa perseverança na santidade e no culto alegre e fiel claramente depende de outros cristãos repetidamente nos exortando com a verdade da Palavra de Deus:
“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. (Hb 3.12-13)
Para fugir da dureza de coração e perseverar na fé alegre que mortifica o pecado, precisamos das exortações de outros crentes. Nós não fomos projetados para sobreviver sem o ministério da Palavra de outras pessoas.
Não é um defeito
Quarto, nós claramente precisamos de pessoas para ministrar para nós, pois foi assim que Deus projetou o corpo de Cristo e Paulo diz que precisamos uns dos outros:
“Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós”. (1Co 12.18-21)
O uso que Paulo faz da palavra precisar em 1 Coríntios 12.21 deixa claro que ele não vê a dependência do cristão de outros cristãos como um defeito em nossa dependência de Deus. Depender totalmente da graça de Deus não significa deixar de depender dos meios de graça de Deus. Se Deus quer a nossa dependência dele às vezes seja direta e sem mediação e que às vezes seja indireta e mediada, não deixamos de ser totalmente dependentes de Deus em nenhum dos dois casos.
Nossas vidas físicas dependem de Deus e da comida que ele dá. Nossos recursos emocionais para sermos pacientes depende do Espírito e do sono revigorante que ele dá. Nossa força espiritual depende da Palavra de Deus e dos ministros que ele nos envia.
Quinto, a Escritura deixa claro que nós precisamos do ministério da Palavra de outros cristãos porque Paulo ordenou a Timóteo: “Prega a palavra” (2Tm 4.2). Esse não é um mandamento sem sentido. Pregar é ordenado porque pregar é necessário.
Dentre todas as outras maneiras que o povo de Deus ajuda uns aos outros a perseverar na fé e a levar uma vida de alegre adoração, a pregação é especialmente projetada para exercer uma função proeminente no culto público. Quando as pessoas se reúnem para expressar seu conhecimento de Deus e seu amor por ele, a pregação é distintivamente projetada por Deus para modelar esse amor por sua exultação e para servir tanto ao conhecimento quanto ao amor através da exposição. Seu conteúdo e sua maneira são projetadas por Deus para restaurar e ampliar o nosso conhecimento de Deus e para restaurar e aumentar a nossa paixão por Deus.
As misericórdias de hoje
A vida cristã ordinária nos deixa esgotados. Não fomos feitos para viver com base nas misericórdias de ontem.
“As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade”. (Lm 3.22-23)
Cada dia tem o seu mal que nos esgota (Mt 6.34) e cada dia tem suas misericórdias que nos restauram (Lm 3.23). Portanto, o ajuntamento público não é somente para os cristãos que vão para a igreja transbordando de fé e amor, mas também aqueles que chegam necessitados, seco e desesperados por novas misericórdias. E Deus organizou o corpo para que essas misericórdias frequentemente cheguem através do ministério de nossos irmãos em Cristo.
Então, venha para a igreja desesperado para receber mais de Deus e tenha a expectativa de que ele virá ao seu encontro através do povo dele.
Tradução: Frank Brito.
Revisão: Vinicius Musselman Pimentel.
Original: Come to Church Desperate.