As raízes cristãs de Jonathan Edwards e o estímulo de sua mente prodigiosa começaram no seu lar. Timothy Edwards, seu pai, era pastor em uma vila na fronteira, em Connecticut, e foi o seu primeiro mentor. Aparentemente sua mãe era uma mulher de reconhecida inteligência e todos os seus dez irmãos (ele era o quinto) foram excelentemente educados no lar. Nascido em 1703, Edwards revela sua precocidade iniciando seus estudos no Yale College antes de completar 13 anos. O seu bacharelado foi outorgado quando ele tinha 17 anos e três anos mais tarde, em 1723, ele já completava o seu mestrado. Com 21 anos ele já assumia uma cátedra em Yale. Edwards já pregava desde os 19 anos, quando ficou em New York por seis meses, em uma igreja presbiteriana escocesa. As 24 anos foi ordenado pastor da igreja de Northampton, em Massachusetts, onde ficou por 23 anos. Aos 24 anos casou-se com Sarah Pierrepont e seus trinta anos de vida conjugal lhes legaram 12 filhos. Edwards foi um pensador precoce, acadêmico, pastor, poderoso pregador e missionário entre os índios. Além de seu relacionamento com Yale (professor e esposo da filha do fundador), Edwards, alguns meses antes de sua morte em 22 de março de 1758, foi convidado para presidir o College of New Jersey (atualmente, Universidade de Princeton), posição que ocupou por apenas um mês. Contraindo rapidamente varíola, veio a falecer, com apenas 54 anos de idade.1
Muito tem sido escrito sobre Jonathan Edwards, principalmente sobre sua teologia, suas atividades pastorais e seus sermões, todos na melhor tradição dos grandes puritanos. Mas ele é considerado por muitos historiadores de renome, como George Marsden, Perry Miller e Edmund Morgan, como sendo um dos maiores intelectuais norte-americanos.2 Marsden indica que na Europa muitos acadêmicos, tanto teólogos como cientistas, viam-se impelidos pela ciência à adoção do deismo, mas Jonathan Edwards via na natureza as evidências do maravilhoso projeto de Deus e nela trafegava com muita competência. Com frequência, procurava refúgio na floresta para meditar e adorar. Chama atenção a forma como ele aborda com tanta tranquilidade a natureza e faz a transição da física para a metafísica, demonstrando em sua vida e escritos o entrelaçamento que existe entre todas as áreas do conhecimento, pois tudo flui do Deus Criador.
Esse viés e interesse estão presentes, especialmente, nos seus escritos mais antigos. Em um desses, Edwards escreve sobre insetos.3 Ele indica que aborda o que chama de “maravilhas da natureza”, por orientação do seu pai. O texto é em forma de uma carta a uma pessoa não identificada e o que espanta não é somente a precisão, ou visão analítica e perspícua das observações, mas a idade de Jonathan Edwards, nessa ocasião: 11 anos! Entremeado com desenhos e diagramas, Edwards realiza uma descrição do trabalho das aranhas e suas teias. No meio do texto temos percepções incomuns para um jovem de sua idade, com incrível precisão científica. Nesse texto, por exemplo, ele escreve:
aquilo que sobe a ascende no ar é mais leve do que o ar, como aquilo que boia na água é mais leve do que a água.
Ele continua, indicando que a teia que suporta a aranha “é mais do que suficiente para contrabalançar a [força de] gravidade da aranha”.
No texto, Edwards descreve em detalhes como as teias são entrelaçadas, como se processa o movimento das aranhas, desenhando e diagramando pontos “a”, “b”, “c”, etc, para ilustrar suas observações sobre o trabalho de tecelagem dos aracnídeos. Descrevendo uma situação específica da fauna e flora de sua região, nesse contexto, expressa admiração como as aranhas conseguem construir teias que se estendem conectando árvores que estão distanciadas, utilizando a força do vento e administrando a conjunção com o fio que emana delas. Concluindo sua descrição do processo, ao seu destinatário, Edwards escreve: “Esta é, Senhor, a maneira pela qual as aranhas vão de uma árvore à outra, a grande distância; e essa é a forma pela qual elas voam pelo ar”.
Esse interesse pela natureza era, certamente, construído na crença e convicções sobre o Criador de todas as coisas e na sistematização do universo, registrada para nós no Salmo 19.2-4: “Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol”. É exatamente essa sistematização e repetibilidade dos processos (que chamamos de leis físicas, químicas, etc.) que possibilita o se “fazer ciência”, e Edwards trabalha em cima desses pressupostos.
Alguns anos mais tarde, em detalhados quatro ensaios, nos quais ele faz observações sobre o arco-íris e as sobre cores (bem como sobre a alma e a essência do ser),4 Edwards, também complementa seu texto com elaborados desenhos e diagramas sobre reflexo e refração, revelando uma compreensão profunda e precisa dos princípios da física, no campo da ótica.5 É verdade que aqui já temos um Jonathan Edwards mais maduro e experiente, com 13 anos de idade!
Tratando sobre o arco-íris, ele explica como a superfície convexa das gotículas produz a refração e variedade de cores, decompondo a luz “branca” dos raios solares. Falando sobre cores e a sua percepção na natureza, Edwards explica que “… o azul que vemos nas montanhas à distância não é gerado por algum raio de luz refletido nas montanhas, mas assim aparece em função do ar e do vapor de água que existe entre elas e nós”.
Ainda nesses quatro ensaios, fazendo a transição para ontologia (a ciência do ser), Edwards traça um complexo argumento contra o nihilismo. Contra aqueles que afirmavam que não lidamos com realidades, mas apenas com aparências, mas também contra os que, afirmando a realidade do ser, negam a existência do Ser Soberano. Depois de desenvolver vários pontos fundamentais, demonstrando uma alta técnica apologética, ele escreve:
Vemos que é necessário que algum ser deva ter existência eterna. É ainda muito contraditório afirmar que existem seres em alguns lugares [visíveis] (somewhere), mas não em outros lugares [invisíveis] (otherwhere), pois as palavras “nada” e “onde” contradizem uma a outra; além disso, é extremamente chocante ao raciocínio pensar na existência do puro nada, em algum lugar… Assim, vemos a necessidade de que este necessário ser eterno seja infinito e onipresente.
Mais adiante, ainda neste ensaio, Edwards fala do “globo da terra” como subsistindo “neste universo criado”. Certamente o seu conceito de Deus, como alicerce de todo o pensamento e sustentador da Criação, já era o mais alto possível, mesmo nessa idade em que adquiria maturidade e firmava seus pensamentos.
Já formado, em meio à sua pós-graduação, mas ainda com meros 19 anos, Jonathan Edwards escreve textos sobre a mente.6 Escrito em forma de proposições ou silogismos, ele trata de “causas”, “existência”, “substância”, “espaço”, e outros temas semelhantes, que são filosoficamente abordados. Tratando de questões “espaciais”, ele diz:
o segredo está aqui. Aquilo que é a substância de todos os corpos é a ideia perfeitamente estável, exatamente precisa e infinita, que está na mente de Deus, em conjunto com sua estável vontade; que é gradualmente comunicada a nós e a todas as demais mentes, de acordo com certas leis e métodos fixos, exatos e bem estabelecidos. Ou para utilizar uma linguagem diferente, a ideia divina infinitamente precisa e exata; conjuntamente com uma vontade que se relaciona e que é perfeitamente exata e estável em sua comunicação com as mentes criadas e com os efeitos que nelas são produzidos.
Quando abordamos esses escritos e esse Jonathan Edwards quase desconhecido, em seus primeiros anos de produtividade intelectual, podemos apreciar pelo menos dois grandes aspectos sobre esse gigante de Deus: Primeiro, constatamos a mente e a produção precoce de Edwards, produzindo ensaios fenomenais sobre suas observações da natureza. Segundo, destacamos a forma natural com que ele aborda a criação e como entrelaça as diferentes áreas de conhecimento com os fundamentos da fé cristã e com a percepção de um universo que procede de um Deus soberano criador e redentor. Possuir e imprimir essa cosmovisão cristã é precisamente o objetivo da educação escolar cristã. Essa abordagem esteve tão presente nos primórdios da civilização norte-americana, inclusive nas instituições que Edwards atuou, e atualmente encontra um interesse renovado, não só naquele país, mas com grandes avanços que Deus tem permitido ocorrer em nosso Brasil. Que Ele produza muitos Jonathan Edwards em todos os campos de conhecimento, é a nossa oração e desejo.
Notas:
1 – Ola Elizabeth Winslow, Ed. Jonathan Edwards Basic Writings (New York: New American Library – Signet, 1966), i.
2 – George M. Marsden. Jonathan Edwards: A Life (New Have: Yale University Press, 2003), 498-505.
3 – S. B. Dwight, Ed. The Works of President Edwards, Vol. I (New York: Converse, 1829), 23-28.
4 – E. C. Smith. Ed. “Some Earlier Writings of Jonathan Edwards, A.D. 1714-1726″, in Proceedings of the American Antiquarian Society (1895), X, p. 237-247.
5 – Acredita-se que Jonathan Edwards era familiarizado e já havia lido o tratado de Isaak Newton, Opticks, escrito em 1704. É importante frisar o entrelaçamento também de Newton com a fé cristã. Crente fiel na Igreja Anglicana, quase foi ordenado ao ministério, e sempre foi um defensor de um universo ordenado que procede do Soberano Deus Criador. Essa convicção foi a base do seu desenvolvimento científico e de suas importantíssimas contribuições para a ciência, principalmente no campo da física. Com toda probabilidade, Jonathan Edwards recebeu intensa influência positiva da parte dos escritos de Newton.
6 – S. B. Dwight, Ed. The Works of President Edwards, Vol. I (New York: Converse, 1829), Apendix, 668-676